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Mais terra, menos tela!

Venderam a ideia de que nossas crianças seriam nativas digitais e que as telas deviam ser introduzidas logo nos primeiros meses

Publicado em 4 de dezembro de 2024 às 05:41

Quantos pais não acham incrível um filho de 8 anos que abre o celular e “consegue fazer tudo lá”? O tudo no caso é destravar a tela, abrir um número limitado de aplicações de um cardápio ainda mais limitado de opções: vídeos ou jogos. Todos deixam, a criança quietinha e “entretida”.

A crescente onda de diagnósticos de crianças e jovens com TDAH acompanha o processo de urbanização e digitalização da sociedade e a consequente desconexão das pessoas com a natureza. E isso não é mera coincidência.

Conforme os jovens passam cada vez menos tempo em ambientes naturais, seus sentidos se restringem, fisiológica e psicologicamente. Isso por que venderam a ideia de que nossas crianças seriam nativas digitais e que as telas deviam ser introduzidas logo nos primeiros meses de vida.

Já a Academia Americana de Oftalmologia estima que em 2050 metade da população mundial terá miopia, distúrbio visual cuja principal característica é a dificuldade de ver de longe. O número de prescrições de óculos para crianças de 6 a 8 anos, no Brasil, triplicou comparado há cinco anos. A condição foi eleita pela OMS como um dos problemas de saúde pública que mais cresce no mundo. Com um agravante: uma revisão de 36 estudos com dados de 700 mil crianças mostrou que aquelas com problemas de visão têm risco maior de desenvolver depressão e ansiedade. No Brasil mais de 16 milhões de jovens enfrentam a depressão, um aumento de 34% entre 2013 para 2019.

O tempo roubado pelas telas prejudica o desenvolvimento de habilidades fundamentais que, se não forem suficientemente mobilizadas até a idade certa, em geral, é tarde demais para aprender posteriormente como: pensar, refletir, manter a concentração, fazer esforços, dominar a língua além de suas bases rudimentares, hierarquizar os vastos fluxos de informação produzidos pelo mundo digital e interagir com outras pessoas. Nessa fase o cérebro é mais plástico, moldável, adaptável.

Mais tempo na natureza associado a menor exposição a telas tem sido atribuída menores índices de TDAH e ansiedade. Se isso é verdade, o TDAH pode ser um conjunto de sintomas agravado pela ausência de exposição a natureza. O distúrbio não está na criança e sim no ambiente ao qual ela está sendo exposta.

O que vem acometendo nossas crianças e jovens é o Transtorno de Déficit de Natureza, que provoca a diminuição do uso dos sentidos, dificuldade de atenção, e índices mais altos de doenças físicas e emocionais. Assim como necessitam de uma boa alimentação e um sono adequado, crianças também precisam de contato com a natureza.

Como os jovens reagem a natureza e como vão criar seus filhos acaba delineando as configurações e as condições das cidades, lares e do cotidiano em geral. A promessa de vida das crianças é sagrada. E deve ser cercada de todos os cuidados possíveis.

André Fraga, pai de Joaquim, engenheiro ambiental e vereador em Salvador