Lucas Reis: A IA nos faz mais humanos e a melhor maneira de se preparar para o futuro é adotá-la

Confira destaques da palestra 'IA e a Co-evolução com a Humanidade', com Peter Deng, head do Chatgpt, e Josh Constine, sócio da SignalFire, no SXSW

Publicado em 13 de março de 2024 às 06:37

Peter Deng, head do Chatgpt, e Josh Constine, sócio da SignalFire, no SXSW Crédito: Lucas Reis

Destaques

  • IA aumenta mais a produtividade das pessoas com desempenho inferior, funcionando como um equalizador de performance. 
  • As empresas devem ter menos funcionários, mas teremos mais empresas 
  • A IA deve absorver os valores da pessoa que a usa e da realidade em que é usada 
  • Normas sociais devem ser mais rápidas e efetivas que as Leis em balizar os usos de IA 
  • Domínio da IA (letramento) será chave no mundo profissional. 
  • O ritmo de desenvolvimento da IA deve ser acelerado, mas o lançamento de novas funcionalidades deve ser feito com parcimônia. 
  • Artistas e outros criadores devem ser parte do ecossistema de IA, já que as tecnologias produzem a partir das criações feitas por estas pessoas 

Peter Deng lidera o Chatgpt, ferramenta de Inteligência Artificial mais usada no mundo e que foi um divisor de águas no desenvolvimento do setor: foi o lançamento do Chatgpt, em novembro de 2022, que colocou o tema da IA Generativa em destaque em todo o mundo.

Um dos motivos do interesse pela IA Gen é o receio de que ela substituirá o ser humano, o que Peter Deng não concorda. Na sua visão, a Inteligência Artificial nos torna mais humanos e nos potencializa, ao permitir que demos vazão às nossas curiosidades, já que são as perguntas das pessoas que comandam a IA.

Por isso, segundo ele, a melhor maneira de se preparar para um futuro dominado pela Inteligência Artificial é abrançando-a. Os profissionais devem ver a IA como assistientes ou como parceiros de pensamento, uma ferramenta que auxilia a chegar ao resultado que você deseja, mas você deve saber onde quer chegar. Esse discernimento é prerrogativa humana, e não da tecnologia. Nesse processo, dominar as habilidades para manipular ferramentas de IA, o chamado letramento, é fundamental para todos os profissionais, e a Open Ai tem iniciativas nessa linha, mas, naturalmente, isso precisa ser potencializado pela atuação de outros entes, especialmente os governos.

Peter Deng, head do Chatgpt Crédito: Lucas Reis

Sobre os impactos da IA no mercado de trabalho, Peter Deng trouxe dados sobre o aumento da produtividade gerado com o uso dessas tecnologias. Um primeiro ganho é que esse aumento é maior junto aos profissionais de menor desempenho, o que faz da IA uma espécie de equalizador de performance. Um segundo reflexo com este aumento de produtividade das pessoas é que as empresas devem sim ter menos funcionários, mas novas empresas devem surgir, pois a IA viabilizará o surgimento de negócios que não são possíveis sem essa tecnologia. O saldo de empresas com menos funcionários, mas mais empresas no mercado, deve ser positivo, segundo ele.

Peter Deng falou de alguns pontos sensíveis. Por exemplo, sobre o acesso de crianças a ferramentas de IA. O executivo ressaltou que nenhuma criança deve ter acesso não-supervisionado a nenhuma tecnologia, mas a IA pode contribuir para seu desenvolvimento, pois demanda uma postura ativa, diferente de streamings e redes sociais, em que se consome conteúdo passivamente. Novamente, ele falou do pdoer da IA de alimentar a curiosidade, estimulando as crianças a perguntarem e descobrirem informações.

Outro ponto discutido foi o do direito autoral. Perguntado como se sentiria se a tecnologia usasse uma criação sua em seus modelos e, então, o replicasse em milhões de conteúdos para os usuários, Deng foi sincero em dizer que não se sentiria bem, e que, de fato, artistas e demais criadores de conteúdo devem ser envolvidos no ecossitema de Inteligência Artificial. Josh Constine, então, perguntou diretamente se isso significava que as plataformas deveriam pagar para aos artistas, mas, apesar de a plateia dizer um sonoro sim, Deng foi reticente, apenas repetindo que é preciso pensar em como envolver os criadores de conteúdo original no ecossitema de Inteligência Artificial.

Deng falou sobre o esforço de criar modelos de IA que não repitam discriminações da sociedade ou mesmo que assumam um conjunto de valores sociais como padrão. Por exemplo, há críticas de que o chatgpt tende a pensar com os valores típicos dos Estados Unidos, e o executivo destacou que cada vez mais os modelos de IA serão flexíveis, refletindo os valores das pessoas e realidades em que são utilizados.

Essa fala criou um gancho para se discutir sobre usos maliciosos ou criminosos com a IA, e Deng defendeu que o lançamento de novas funcionaldiades seja feito com parcimônia, mas sem impactar o desenvolvimento da tecnologia em si. Em outras palavras, o desenvolvimento da IA deve se acelerar, mas o lançamento das ferramentas ao público deve ser feito de forma paulatina, para se observar possíveis maus usos e se buscar formas de evitá-lo, seja por soluções técnicas, seja por soluções legais ou pelo surgimento de normais sociais, que Deng acha que serão mais rápidas e efetivas em bloquear usos indesejados.

Deng encerrou repetindo que num mundo baseado em Inteligência Artificial as pessoas devem se manter curiosas e com a mente aberta, pois este é o maior diferencial do ser humano, e é o que nos fará obter o máximo resultado positivo da IA no dia a dia.

Lucas Reis Crédito: Acervo Pessoal

*Lucas Reis é integrante da delegação brasileira que viajou para acompanhar o South by Southwest (SXSW) em Austin, no Texas (EUA).