'Facções agem como estado paralelo, ditando normas e impondo terror', diz delegado

"Não há mais sossego para o baiano", escreve Jesus Pablo Barbosa em artigo

Publicado em 17 de setembro de 2024 às 14:00

Jesus Pablo Barbosa
Jesus Pablo Barbosa Crédito: Divulgação

Há uma semana, comemorávamos a independência do Brasil. Mas será que de fato somos independentes aqui no nosso estado?

O medo é hoje o sentimento que rege a vida na Bahia. Sabemos que a violência exacerbada é um mal que assola todo o país, fruto, por certo, de anos de inação do poder público no combate à criminalidade, mas, aqui no nosso estado, essa temática ganha contornos mais do que dramáticos.

A (in)segurança pública é hoje a preocupação central do baiano. Apesar de tantas outras questões, todas elas extremamente críticas e diretamente incidentes em sua vida, o temor da violência é o ponto fulcral do cotidiano do nosso cidadão, vez que a criminalidade se impõe e lhe determina modos diversos de vida.

Ter independência, segundo a definição dos dicionários, é não ser dependente, é manter-se livre de pressões, é agir com autonomia. Aqui na Bahia, todavia, não é assim que se vive. São tempos bastante difíceis os que temos em nossa terra. A população padece, oprimida com a violência e com o jugo da criminalidade, que aqui se estabeleceu e fincou raízes profundas. As facções criminais agem como um estado paralelo, ditando normas, impondo terror, realizando justiçamentos, agindo de maneira ostensiva, pichando as suas marcas em cada muro, para demarcar os seus territórios. Não há mais sossego para o baiano. O crime aqui na Bahia desconhece fronteiras, vez que opera em todos os lugares: no ambiente urbano ou rural, nas grandes ou pequenas cidades, nos bairros pobres ou redutos da elite, em qualquer lugar, ele está lá, minando a paz. A liberdade do nosso povo está constantemente cerceada pelo crime, que só se expande, diante de uma segurança pública em situação falimentar.

O cidadão baiano se submete, assim, indefeso, a um odioso tirano: a potestade dos criminosos. Logo, podemos dizer que, por aqui, não há independência a se comemorar, pois o baiano não tem autonomia e vive sob o eterno manto do medo.  

É preciso que o Governo do estado saiba construir políticas públicas de segurança que resgatem de maneira efetiva a tranquilidade. É necessário que o Governo saiba realizar os investimentos adequados para essa construção. É essencial que se dê fôlego, força e estímulo às polícias, que, por aqui, ao contrário, foram deliberadamente enfraquecidas por anos a fio. Teríamos, enfim, que ter um Governo que soubesse conduzir ações efetivas para que pudéssemos dizer, de maneira verdadeira, não à impunidade.

Todo esse panorama é avassalador. Mudanças são obviamente imprescindíveis. O baiano não aguenta mais tanta guerra, e precisa de paz e tranquilidade. Paz para estudar, paz para trabalhar, paz para produzir, paz para desenvolver esse estado que é tão rico, mas vive amarrado por toda essa violência, que nos acorrenta e nos faz reféns a todos nós, baianos, e à nossa Bahia.

*Jesus Pablo Barbosa, delegado de Polícia Civil, especialista em gestão da segurança pública