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Publicado em 28 de janeiro de 2025 às 02:00
O Janeiro Branco é uma oportunidade para refletirmos sobre a saúde mental, aspecto frequentemente negligenciado, mas essencial para o bem-estar integral. Embora pareçam áreas distintas, a saúde mental e a saúde cardiovascular estão intimamente ligadas, criando um impacto que pode ser devastador se ignorado. >
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como um estado completo de bem-estar físico, mental e social. Porém, na prática, ainda é comum observar uma divisão entre corpo e mente, como se problemas emocionais fossem desconectados das funções orgânicas. Na cardiologia, essa percepção limitada pode impedir que os profissionais reconheçam sinais importantes de risco.>
Estudos têm mostrado que condições como ansiedade crônica, depressão e estresse emocional aumentam muito o risco de doenças cardiovasculares. Essas emoções ativam o sistema nervoso simpático, elevando a pressão arterial e os níveis de cortisol, o que contribui para o desenvolvimento de hipertensão, aterosclerose e eventos agudos, como infarto do miocárdio. Em pacientes diagnosticados com doenças cardíacas, a presença de transtornos mentais piora o prognóstico, aumentando o risco de complicações.>
Como especialista em cardiologia intervencionista e com experiência no acompanhamento de pacientes com implante de bioprótese aórtica e doença ateroaclerotica que já fizeram colocação de stent, atuo em um campo que requer atenção não apenas às condições físicas do paciente, mas também ao contexto emocional. A pressão de viver com uma doença crônica, enfrentar cirurgias invasivas e lidar com incertezas sobre o futuro pode gerar um ciclo de angústia que prejudica o processo de recuperação.>
Em nossa prática diária nos hospitais da Rede D’Or, no Hospital da Bahia e no Hospital Português, em Salvador, identificamos que pacientes com suporte psicológico apresentam melhores resultados pós-procedimentos, aderem mais ao tratamento e relatam maior qualidade de vida.>
Uma abordagem preventiva eficaz deve incluir dieta, prática de exercícios, controle de fatores de risco como o tabagismo e, claro, estratégias que promovam a saúde mental. Terapias cognitivo-comportamentais, práticas de mindfulness e suporte psicossocial são ferramentas valiosas na redução do estresse e na melhora da saúde geral.>
Além disso, é fundamental que médicos estejam atentos aos sinais de sofrimento emocional durante consultas rotineiras. Por meio de uma escuta ativa e empática, podemos encaminhar pacientes para os recursos adequados, promovendo não apenas a longevidade, mas a qualidade dessa vida prolongada.>
Neste Janeiro Branco, precisamos repensar como cuidamos de nós mesmos e de nossos pacientes. Ao integrarmos saúde mental e cardiovascular, damos um passo essencial para um cuidado mais humano e eficaz. Afinal, o coração sente o que a mente pensa. >
Sérgio Câmara, especialista em Hemodinâmica e Cardiologia, atua nos hospitais da Rede D’or e no Hospital da Bahia/DASA.>