Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Publicado em 13 de junho de 2024 às 09:57
A microbiota em aquíferos sob condições extremas é 60% mais diversa e apresenta mais do que o dobro (>150%) de funções metabólicas do que a microbiota de aquíferos porosos comuns. É o que mostra uma pesquisa liderada por Pedro Milet Meirelles, Felipe Alexandre Santana Barbosa e Leonardo Brait Azevedo Soares da Universidade Federal da Bahia publicada na revista Science of the Total Environment. >
O estudo utilizou dados de 109 aquíferos da América, Europa, Ásia e África disponíveis em bases internacionais e avaliou como as características dos solos, fatores climáticos, a estrutura das paisagens e o tipo de aquífero são determinantes da diversidade microbiana presente na água. Para isso, os pesquisadores utilizaram o Supercomputador Santos Dumont e um serviço de computação em nuvem da Microsoft para analisar os metagenomas destas amostras de água.>
Metagenomas são amostras completas do DNA presente em um ambiente, cujo sequenciamento permite o estudo de comunidades inteiras de microrganismos sem a necessidade do cultivo em laboratório. Além disso, essa abordagem genômica possibilita a identificação e a análise das funções metabólicas e uma caracterização funcional da microbiota. Para isso são empregadas técnicas bioinformáticas para filtrar sequências de bases, montar genomas, e realizar anotações taxonômicas e funcionais dos genes identificados. Por meio da metagenômica, os cientistas podem decifrar a diversidade genética, descobrir novos genes e microrganismos, e entender os processos ecológicos e bioquímicos que ocorrem nos aquíferos. Foram estudados diferentes tipos de aquíferos, incluído os porosos e cársicos, que são os mais comuns a aqueles com condições mais extremas como os salinos, os gêiseres com altíssima temperatura e acidez, e os contaminados com rejeitos químicos industriais e de mineração.>
Os resultados mostram que as condições ecológicas dos diferentes tipos de aquíferos, bem como o nível de contaminação por rejeitos da agricultura, indústria e mineração são os principais preditores da estrutura da diversidade microbiana. Em condições adversas a microbiota também apresenta mais funções metabólicas em condições restritivas para a maioria dos macroorganismos (animais e plantas). Essa diversidade pode estar relacionada à capacidade adaptativa dos microrganismos em ambientes adversos. Por exemplo, em áreas de mineração, com fluidos salinos, pouco carbono e privado de energia para os micro-organismos encontra-se maior diversidade de genes ligados a codificação de proteínas da membrana externa em bactérias. Essas proteínas estão relacionadas com a capacidade adaptativa desses organismos às condições ambientais, a capacidade infecciosa e a resistência a antibióticos.>
Embora não possamos testemunhar a olho nu, os microorganismos são continuamente necessários à salvaguarda da qualidade das águas subterrâneas para nosso consumo, para a agricultura, para as indústrias e para a manutenção do equilíbrio ambiental. Esses microrganismos decompõem a matéria orgânica e disponibilizam nutrientes, transformam poluentes nocivos em formas menos tóxicas e eliminam os causadores de doenças. >
Além disso, grupos recentemente descritos e de baixa abundância, como o gênero Candidatus Altiarcheum e o filo Candidatus Parcubacteria, são os principais contribuintes para as diferenças nas comunidades microbianas entre os diversos tipos de aquíferos. Entretanto, conhecemos apenas 0,00001% dessa diversidade. Portanto, compreender e preservar a diversidade microbiana nos aquíferos é vital para garantir o acesso a água de alta qualidade. >
*Eduardo Freitas Moreira é Biólogo, Mestre em Ecologia e Biomonitoramento e Doutor em Ecologia pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente atua como pesquisador no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, associado ao Biota Síntese com apoio da FAPESP.>
com a colaboração de Pedro A. Duarte. Formado em Jornalismo pela FAAP, está cursando a pós-graduação em Jornalismo Científico pelo Labjor Unicamp. Faz estágio no Biota Síntese por meio da bolsa Mídia Ciência de Jornalismo Científico concedida pela FAPESP.>