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Capitalismo Natural: o propósito da empresa no século XXI

O alerta para as empresas é que sejam os agentes de transformação, pois seu negócio irá depender disso

Publicado em 2 de julho de 2024 às 05:00

Diante dos desafios contemporâneos, como alta desigualdade social, produção excessiva de resíduos, poluição ambiental, pressão sobre os ecossistemas, produção de energia, mudanças climáticas e a exploração acelerada de recursos naturais, entre outras mazelas, põe em risco a sobrevivência da humanidade, que está intimamente ligada à saúde dos ecossistemas. Esta interdependência também envolve a sobrevivência dos sistemas econômicos. O papel das empresas e o seu propósito se tornam cruciais para mudarmos esse panorama e acelerarmos o passo em direção a um futuro sustentável.

Em 1999, no livro ‘Capitalismo Natural: Criando a Próxima Revolução Industrial’, Paul Hawken, Amory B. Lovins e L. Hunter Lovins apresentaram uma visão inovadora para o desenvolvimento econômico sustentável. Tive o privilégio de conhecer pessoalmente Paul Hawken em Manaus, no Fórum Internacional de Sustentabilidade organizado por João Dória e Al Gore, em 2012. No evento, estavam presentes figuras notáveis como Bill Clinton, Richard Branson, Arnold Schwarzenegger e as principais lideranças empresariais brasileiras da época.

O inusitado, para mim, foi que em um jantar super informal na noite anterior, juntamente com alguns outros executivos, conversamos a noite inteira com um tal ‘Paul’, uma conversa extraordinária e saímos do jantar comentando: “que sujeito interessante”. No outro dia tomamos um susto, o tal ‘Paul’ que estava conosco experimentando as delicias da Amazônia num papo descontraído era o autor que todos nós admirávamos desde 1999. E era um dos palestrantes mais importantes do dia, ao lado das celebridades que citei acima. Foi uma experiência reveladora e inspiradora.

Sua simplicidade nos encantou. Tal como o conceito de Capitalismo Natural, que tem inspirando pessoas e organizações ao redor do mundo desde então. Penso que conceitos como este, entre outros, podem contribuir muito para que possamos enfrentar os desafios mencionados e as empresas precisam repensar seu papel e o seu propósito como agentes de transformação. Continuar com modelos de negócios que aumentam desigualdades, exaurem os ecossistemas e impedem a estabilização da temperatura do planeta é insustentável.

O alerta para as empresas é que sejam os agentes de transformação, pois seu negócio irá depender disso.

A degradação dos ecossistemas tem implicações econômicas profundas e abrangentes. No curto prazo, a escassez de recursos naturais essenciais, como água limpa e matérias-primas, resulta em aumentos nos custos operacionais para empresas dependentes desses recursos. Setores como agricultura, pesca e turismo podem sofrer perdas imediatas devido à diminuição da biodiversidade e à degradação ambiental.

A médio prazo, a degradação contínua dos ecossistemas exacerba os efeitos das mudanças climáticas, como eventos climáticos extremos (enchentes, secas e tempestades), impactando diretamente a infraestrutura e operações comerciais. A perda de serviços ecossistêmicos, como polinização e controle de pragas, entre outros, reduz a produtividade agrícola, afetando a segurança alimentar e elevando os custos de produção.

A não preservação dos ecossistemas pode levar a uma instabilidade econômica generalizada e a perda de biodiversidade e de serviços ecossistêmicos essenciais compromete a resiliência das economias e das empresas. Além disso, os impactos negativos na saúde humana aumentam os custos de saúde e reduzem a produtividade da força de trabalho. Para as empresas, isso se traduz em custos operacionais aumentados, interrupções na cadeia de suprimentos devido a desastres naturais, redução da produtividade e riscos reputacionais, já que consumidores e investidores estão cada vez mais preocupados com a sustentabilidade. Empresas não sustentáveis podem perder apoio crucial.

Portanto, a preservação dos ecossistemas e a exploração responsável da biodiversidade é fundamental não apenas para a sustentabilidade ambiental, mas também para a estabilidade econômica e a viabilidade das empresas. Esse é um jogo onde as empresas tem não só uma grande responsabilidade, mas, sobretudo, capacidade de agir, articular e mobilizar os demais setores, governos e sociedade civil para, juntos, mudar o jogo, que infelizmente já estamos no segundo tempo.

Isaac Edington, Presidente da Saltur e membro do Conselho Curador do Fórum ESG Salvador