Campeón del Siglo

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Publicado em 1 de outubro de 2024 às 09:12

O estádio Campeón del Siglo está a 45 minutos do Centro de Montevidéu. O transporte público é ruim, não tem metrô na porta. E multiplique por três o tempo para chegar ao estádio em dia de jogo (decisivo) da Copa Libertadores. Vale a pena.

A atmosfera, o ar, a fumaça, enfim, fazem do campo de jogo do Peñarol, inaugurado em 2016, um exemplo bem-sucedido de modernidade e tradição. E civilidade.

Não há venda de cerveja lá dentro mas, como é sabido, a pequena brasa resplandece nos não tão pequenos cigarros de marijuana a cada disputa de bola. A tensão e o álcool são drogas mais pesadas. E perigosas.

Assim, após assistir ao primeiro tempo do jogo no espaço destinado à imprensa estrangeira, decidimos ver o segundo lá embaixo, junto aos carboneros. E incendiários.

Põem fogo na alma dos jogadores. Os cantos incessantes exaltam o clube, xingam o rival Nacional, esculhambam os brasileiros.

Estaríamos na versão moderna e adaptada dos combates em Colônia do Sacramento, precioso enclave no Prata, disputado em batalhas navais épicas entre portugueses e espanhóis? Do lado de cá, vemos Buenos Aires a distantes 25 quilômetros, imaginando a audácia de Lisboa ao tentar implantar ali um posto, desafiando tratados internacionais.

Herdeiros desse ímpeto invasor, nós brasileiros superpovoamos hoje a tabela da Libertadores. Ocupamos de forma agressiva – em número e poder econômico – esse território, tão querido por todos. O que obriga os rivais a multiplicarem a arma que lhes resta: paixão.

Tudo – tudo – isso estava ali, nas coletivas de imprensa dadas por ambos técnicos ao final do jogo. Enquanto a empáfia derrotada (e agora demitida) de Tite tentava justificar as escolhas táticas, o técnico do Peñarol, Diego Aguirre, devolveu assim à pergunta sobre como havia feito para que sua estratégia saísse vencedora: “Se quiser, discutimos isso outro dia. Hoje, vamos só disfrutar, falar de outras coisas que não sejam futebol, por favor. Estamos entre os quatro melhores da América”.

“Me sobra lo que te falta”, dizia uma das inúmeras faixas estendidas pela torcida no Campeón del Siglo. Belo recado: de nada adianta querer chegar na marra e com muito dinheiro, se no final não há o algo mais, aquela vontade que o VAR jamais verá. No fim, os portugueses foram expulsos do Uruguai com o rabo entre as pernas. E o Uruguai, pequeno e modesto, segue firme entre os gigantes.

Também entre gigantes, o Peñarol quer porque quer repetir o êxito de 1982, campeões do mundo. Um sonho. Que o coautor brasileiro-uruguaio e flamenguista adiou para uma próxima oportunidade. E que o baiano-tricolor, outro signatário destas mal traçadas, cultiva – ao menos, retornar à melhor, mais autêntica, verdadeira e emocionante competição do planeta, 35 anos depois. Pode esperar, linda Montevideo.