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Brazilian Patriots

O novo ídolo dos patriotas atribui os problemas do seu país a uma suposta postura de brandura com países que deveriam simplesmente obedecê-los, como o Brasil

  • Foto do(a) author(a) Rafson Ximenes
  • Rafson Ximenes

Publicado em 17 de fevereiro de 2025 às 05:00

Make America Great Again. Faça os Estados Unidos forte novamente. A frase está literalmente na cabeça de políticos e que se definem como patriotas e usam a camisa da seleção brasileira de futebol e a bandeira nacional como se fossem símbolos partidários. O estranho boné que usam homenageia Donald Trump, novo presidente do país do norte, cuja plataforma externa de governo prega basicamente a superioridade e o domínio do seu país sobre todos os outros, inclusive sobre nosso.

O novo ídolo dos patriotas atribui os problemas do seu país a uma suposta postura de brandura com países que deveriam simplesmente obedecê-los, como o Brasil. Acredita que os Estados Unidos teriam sido muito generosos com organizações multilaterais, quando deveriam ter usado o seu poderio bélico e econômico para impor os próprios interesses, sem qualquer consideração com equilíbrio ou justiça. Seu novo Secretario de Relações Exteriores prometeu uma “política externa robusta, focada nos interesses norte-americanos”.

Trump acredita que os Estados Unidos foram invadidos por imigrantes de países latino-americanos, como o Brasil, e já começou a aterrorizá-los e deportá-los. Julga pertencer a um povo puro, que não consegue atingir todo o seu potencial por ser corrompido por raças inferiores. Sim, é um discurso conhecido. Mas, os judeus da vez são todos os brasileiros, argentinos, colombianos, etc.

Os pretensos patriotas idolatram um líder do país mais poderoso do mundo que, ao tomar posse e ser perguntado sobre o que espera das relações com o Brasil, responde: “Eles precisam de nós, mais do que precisamos deles. Nós não precisamos deles, eles precisam da gente. Todo mundo precisa da gente”. Em resumo, espera submissão. Submissão que aqueles políticos de verde-amarelo parecem estar loucos para oferecer.

Não é novidade que haja pessoas dispostas a bajular alguém que ameaça dominar o seu povo ou o seu país porque vislumbra vantagens pessoais políticas e econômicas. Isso aconteceu nos países europeus dominados pela Alemanha nazista e também aconteceu em povos indígenas e nações africanas invadidas pelos colonizadores, como em todos os países sul-americanos que sofreram golpes de Estado financiados pelos norte-americans no século XX. Sempre houve alguém que aceitou o posto de feitor, interventor ou coisa que o valha, como os brazilian-patriots-trump-i-love-you estão se oferecendo para fazer agora.

Surpreende, porém, como o paradoxo, ou melhor, a fraude não é percebida por pessoas que são patriotas de verdade. Como alguém que ama o seu país pode apoiar tanta sabujice? É avassalador o nível de irracionalidade que atingiu o debate político, em todos os níveis. A migração da esfera pública para as redes sociais nos cegou. Não olhamos o mundo, olhamos os celulares e o mundo que chega nas mensagens, no Instagram ou Twitter.

Vivemos em bolhas e gostamos da sensação de pertencimento por fazer parte delas. Nas bolhas, a sociedade é mais simples. Tudo é resumido a uma guerra de memes e através dos memes e das mensagens do whatsaap, sentimos que estamos participando de algo grande. Não importa se há conexão com a realidade. A nova realidade é o que repetem nos nossos grupos.

O patriotismo vira-lata que se denuncia nos bonés é apenas um exemplo. Por todo lado, muita gente que nem suspeita repete o comportamento sem notar. O império da irracionalidade domina por toda parte. Por quanto tempo? Impossível prever. Mas meme não bota comida na mesa. O poder de convencimento de bravatas e da criação de fantasmas ou inimigos imaginários tem prazo de validade. Como diz o famoso quadrinho de Laerte: “a grande ficha, em algum momento, ela vai cair”.

Rafson Ximenes é Defensor Público