'Baianos não se renderam ao jugo português', diz João Jorge

Leia o artigo do presidente da Fundação Palmares

Publicado em 4 de julho de 2024 às 10:25

João Jorge no desfile do 2 de Julho
João Jorge no desfile do 2 de Julho Crédito: Divulgação

A Fundação Cultural Palmares tem a missão de preservar e fortalecer a cultura negra brasileira no contexto do decolonialismo. E no exercício da presidência desta importante instituição, sinto-me no dever de compartilhar breve reflexão sobre a participação ativa do povo preto no 2 de julho.

Celebrar os 201 anos de Independência do Brasil na Bahia reforça os valores de resistência e coragem que definem a construção histórica do Estado e do povo brasileiro. Comemoração cívica e, ao mesmo tempo, poderosa festa popular, a data articula passado e presente por meio de tradições afro-brasileiras que inspiram – e impulsionam – gerações.

Indispensável lembrar o papel decisivo desempenhado por indígenas e negros baianos, escravizados ou livres, nas batalhas que culminaram na vitória do 2 de julho de 1823. Entre os heróis que emergiram dessa luta, Maria Felipa e Maria Quitéria de Jesus, aqui evocadas como forma de sublinhar as batalhas árduas, cotidianas, desiguais, travadas pelas mulheres deste País.

Maria Felipa, pescadora negra, liderou corajosamente um grupo de mulheres contra as tropas portuguesas, demonstrando a determinação e a coragem das comunidades afrodescendentes. Sua história é marca perene de resistência e incessante luta do nosso povo por respeito às nossas identidades, garantia de direitos, liberdade.

Maria Quitéria de Jesus, nascida em Feira de Santana em 27 de julho de 1792, foi a primeira mulher das forças armadas brasileiras. Disfarçada de homem, cortou o cabelo, amarrou os seios e vestiu roupas masculinas para se alistar como “Soldado Medeiros”. Sua coragem e determinação consolidaram sua posição como símbolo de bravura e resistência.

Enfim, os eventos relacionados à data atestam que os baianos não se renderam ao jugo português, contribuindo significativamente para a libertação do povo brasileiro. E valorizá-los oferece a oportunidade de pensarmos a Bahia e o País do futuro, porque a cultura nos conecta às nossas origens, nos lembra quem somos, de onde viemos e que mundo queremos construir.

Viva, pois, o 2 de julho!

Paz.

Luz.

Àṣe.