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Analfabetismo: até quando?

A condição tende a excluir ou dificultar a participação na vida social

Publicado em 24 de fevereiro de 2025 às 05:00

Dentre os problemas que persistem no cenário sociocultural brasileiro está o analfabetismo, ignorado e até mesmo negado por muitos, ou tolerado como algo de menor importância. De fato, em algumas cidades ou regiões, as pessoas analfabetas parecem compor uma população invisível. Em outras, como no interior rural ou nas periferias das grandes cidades, o analfabetismo aparece mais facilmente. Os dados estatísticos divulgados pelo IBGE a respeito do assunto deveriam causar preocupação e indignação. Atinge não somente adultos e idosos, mas também a juventude, o que o torna ainda mais preocupante. Há muita gente que não sabe ler nem escrever. Um pouco mais fácil de ser constatado, embora não menos grave, é o analfabetismo funcional.

Numa época de avançado progresso científico e tecnológico, com a difusão sempre maior da internet e da inteligência artificial, é inconcebível a persistência do analfabetismo no Brasil e no mundo. O acesso à educação é um dos principais indicadores de desenvolvimento social. O analfabetismo é sinal de exclusão social e consequência da desigualdade que atinge duramente, sobretudo, a população negra e a região nordeste. É preciso erradicar o analfabetismo dos cenários baiano, nordestino e nacional, estabelecendo prazos e cumprindo-os com os devidos investimentos. Países com maiores índices de desenvolvimento humano e social são aqueles que tem garantido o acesso à educação para todos.

Um dos fatores que contribuem para a persistência do analfabetismo é o desinteresse pela efetiva contribuição das pessoas analfabetas, principalmente as idosas, no desenvolvimento social, equivocadamente consideradas não produtivas. A dignidade de uma pessoa não depende obviamente do seu grau de instrução escolar. Na escola da vida adquire-se a sabedoria que vai além da educação oferecida nas escolas. As pessoas analfabetas têm a mesma dignidade daquelas escolarizadas. Elas contribuem muito para a vida familiar e social com a experiência e o conhecimento adquiridos ao longo da vida. Porém, a condição de analfabetos tende a excluir ou dificultar a participação na vida social. A inclusão digital, hoje tão propalada, pressupõe o acesso à educação nas escolas.

Há iniciativas importantes no âmbito da alfabetização de jovens e adultos, por governos e pela sociedade civil, que necessitam ser mais divulgadas, mas o caminho a percorrer exige muito mais. É preciso um mutirão pela superação do analfabetismo. Muitos permanecem analfabetos por falta de oportunidades de aprendizado. Pôr o assunto em pauta nos órgãos públicos competentes e na sociedade civil é o mínimo a ser feito, pois ignorar o analfabetismo ou ficar indiferentes a ele favorece a sua continuidade como algo inevitável ou como um traço constitutivo da cultura brasileira. Estão facilmente acessíveis pela internet os dados estatísticos sobre o analfabetismo. Até quando ele vai perdurar?

Dom Sergio da Rocha é cardeal arcebispo de Salvador