A relação milenar dos povos indígenas com a IA

Desde os primórdios os povos indígenas criam e se apropriam de novos tecnologias. Seja na relação interna ou na troca de conhecimento com outros povos. Na atualidade, com as chamadas tecnologias digitais, essa prática continua e, agora, os povos indígenas fazem uso da Inteligência Artificial, mas sem deixar de lado a Inteligência Ancestral. Vamos entender a diferença entre a IA artificial e a IA ancestral.

No contexto tecnológico, dizemos que a inteligência artificial é a capacidade das máquinas, no geral as máquinas digitais, executarem comandos que nós pedimos. No celular temos diversos aplicativos, que podemos chamar de softwares, ou seja, cada aplicativo é um software que possui inteligência artificial - que executa apenas comandos programados. Agora, temos também a inteligência artificial generativa (IAG) que, diferente da anterior, não executa apenas comandos, ela consegue nos dar respostas criativas como se um ser humano estivesse falando com a gente. Isso porque a IAG tem um banco de dados (como se fosse a mente dela) e quando perguntamos algo ela acessa esse banco de dados, faz um cruzamento das “palavras” que possui, como se estivesse pensando, e, na sequência, nos responde o que foi perguntado.

Mas antes dessa tal de inteligência artificial surgir, a humanidade sempre contou com uma outra forma de IA, trata-se da Inteligência Ancestral, fortemente presente nas culturas dos povos indígenas. Ela é uma prática milenar que vem sendo transmitida de forma viva e singular.

Quando nascemos não sabíamos falar, mas desde criança fomos estimulados a emitir sons, que aqui eu chamarei de sons técnicos que foram se a aperfeiçoando até chegar na língua, por exemplo, a língua portuguesa a qual falamos atualmente. Então a fala é uma tecnologia que foi se aperfeiçoando no decorrer da história da humanidade. Uma tecnologia Ancestral que vem cheia de conhecimento, força e memória viva que pode ser percebida a cada verso falado, a cada som emitido, a cada toré cantado.

Para reavivar e comemorar a existência desses saberes, a ONG Thydêwá criou a websérie “Inteligência Ancestral” disponível desde  o dia 14 de abril no YouTube que nos faz relembrar a importância dessa inteligência. Nela, indígenas de diferentes povos, apresenta reflexões poderosas que provocam uma reconexão com a memória de nossos antepassados e nos traz um alerta sobre a importância de cuidar da nossa mãe terra de forma inteligente.

Alex Potiguara é Doutor e Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)