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Gabriela Cruz
Publicado em 8 de abril de 2025 às 08:00
Durante esta semana, viralizou a possibilidade de transformar qualquer foto em uma ilustração inspirada no estilo do Studio Ghibli, o icônico escritório de animação japonês. Fundado em 1985, é conhecido por suas obras meticulosamente desenhadas à mão e narrativas poéticas que encantam gerações, inclusive pérolas do cinema, como os vencedores do Oscar “A Viagem de Chihiro” e “O Menino e a Garça”.>
E foi justamente por isso que a nova onda de imagens geradas por inteligência artificial — que replicam essa estética de forma instantânea — levantou debates sobre autoria, processo e respeito criativo. Sem regulamentação - e consentimento dos artistas – a disponibilidade do ChatGPT em gerar as imagens polêmicas se tornou um debate dentro da comunidade artística.>
A arte, na minha opinião, é fruto de estudo, prática e tempo. Quando, em segundos, conseguimos reproduzir uma estética que levou anos para ser refinada é inevitável refletir sobre como a inteligência artificial interfere no processo criativo e na identidade das obras. Hayao Miyazaki, um dos fundadores do Studio Ghibli, já se manifestou sobre o uso da IA na arte, classificando o ato como “um insulto à vida”. Muita gente acha que é “mimimi”, mas a questão é outra. É sobre consciência e ignorância, em certa medida, já que muita gente entrou na trend sem conhecer a estética e seu legado ou achou que havia uma autorização para gerar os desenhos.>
Não podemos, entretanto, demonizar a tecnologia. Pelo contrário: quando usada com fundamento, a inteligência artificial é uma ferramenta poderosa. Um exemplo é o trabalho da artista visual baiana Mayara Ferrão na série Álbum de Desesquecimento, na qual usou a IA para criar imagens que simulam fotos antigas, inventando, assim, uma iconografia de histórias afetivas de mulheres lésbicas negras do passado. Para tal, ela “treinou” o programa com referências específicas e construiu um trabalho delicado, potente e 100% autoral.>
O artista visual e stylist Fagner Bispo acaba de relançar sua série Pop Bags — bolsas que misturam humor, crítica e estética pop para satirizar o universo do luxo. Criadas inicialmente em 2015 a partir de sobras de tecido e ilustradas com frases como “Não tive grana pra uma Chanel, Prada…”, as peças viraram febre por brincarem com a tensão entre desejo e acesso, marcas e mercado. >
“A ideia surgiu como uma brincadeira. Foi uma forma divertida de satirizar minha própria falta de recursos na época. Para minha surpresa, a ideia caiu no gosto das pessoas, e muita gente começou a me procurar querendo comprar.” A partir daí, nasceu a Pop Bag — que passou a circular com versões inspiradas nas tradicionais sacolas de feira, misturando ironia, moda e identidade.>
Com a crise no mercado de luxo e a ascensão das discussões sobre consumo consciente, o relançamento chega em boa hora. “O luxo precisa da cultura popular para se manter relevante, e a cultura popular se apropria do luxo de maneiras inesperadas e criativas”, afirma o artista. As bolsas voltam em edição limitada, com venda direta via DM de Bispo, ao preço de R$149,90.>
Um dos eventos mais importantes do calendário de arte contemporânea da América Latina, a SP-Arte segue até este domingo (6), no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera. A 21ª edição da feira reúne galerias e estúdios de design do mundo inteiro, com obras de artistas históricos e contemporâneos — e a Bahia marca presença com força.>
A Acervo destacou o trabalho potente do artista visual Igor Rodrigues. Já a RV Cultura e Arte reuniu dez nomes da cena baiana contemporânea, transitando entre desenho, pintura, gravura, escultura e publicações autorais. Na Paulo Darzé, os visitantes podem contemplar obras de J. Cunha, Aurelino dos Santos, Mirella Cabral e Amadeo Luciano Lorenzato e na Galeria Galatea, ver de perto peças de Rubem Valentim, datadas da década de 1970.>
Quem também está na feira é o artista visual Alberto Pitta, com a obra Caminhos da Fé (1992), feita para o Olodum e exposta na Galeria Nara Roesler. A peça é uma colagem original com desenhos, serigrafia e pintura sobre papel. Pitta também participa da Carbono Galeria, ao lado de outra baiana, Nádia Taquary, que assina a escultura “Omi Titun”, criada sob medida. >
E por falar em Nádia Taquary, só deu na feira de arte. Várias galerias exibiram esculturas e até esboço em desenho de suas obras. >
Esta colunista vos escreve direto de São Paulo e segue postando os detalhes da SP-Arte no @detudoqueuvejo.>