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Marina Branco
Publicado em 3 de março de 2025 às 21:37
É impossível viver um dia do Carnaval de 2025 sem ouvir nas ruas o som dos leques batendo. Febre na festa em Salvador, o artefato geralmente associado ao calor tem enchido as avenidas e circuitos de Carnaval de cores e sons. >
Na pipoca os foliões compram leques, no camarote, marcas patrocinam os que serão entregues aos donos dos abadás. Não importa como - o importante é que todo mundo tenha um leque para curtir o Carnaval.>
Mas se engana quem pensa que a única função dos leques é aliviar o calor da cidade litorânea. Na prática, eles representam muito mais uma forma de expressão da energia da festa e de quem se é.>
Para Vitória Cerqueira, de 19 anos, ele representa uma conexão entre a cultura da comunidade LGBTQIAPN+, já que os leques são todos feitos nas cores do arco-íris, usadas na bandeira que representa o grupo.>
“Acho que ele vem não só para lidar com o calor de Salvador, mas também como um resgate da cultura LGBT. Para mim é um artefato cultural incrível e de grande representatividade, mesmo sendo apenas um leque”, opina.>
Vitória conheceu os leques por acompanhar a cantora Beyoncé. No álbum Renaissance, Bey faz um resgate da cultura ballroom, popular entre o público LGBT da década de 70.>
Em uma das músicas, ela usa instrumentos que remetem ao som de um leque se abrindo, o que se espelhou nos milhares de fãs que começaram a “bater leque” no ritmo das músicas, abrindo e fechando os artefatos rapidamente.>
“Desde a Renaissance Tour eu tava louca por um leque, e quando vi vendendo no Carnaval de Salvador tive que comprar. A gente vê os vídeos das muquiranas batendo leque como fazem nos shows da Beyoncé, encontra gente no meio da pipoca e começa a bater leque junto, é de arrepiar!”, comenta.>
Já para a adolescente Luana, de 13 anos, a influência da prática vem do Japão: “Amei o leque por causa das cores dele, do estilo dele, principalmente porque eu adoro a cultura japonesa, e ele veio de lá”.>
“Agora, fico abrindo e fechando, fazendo um barulho bem legal”, conta. Um dos vários leques que Luana coleciona acabou nas mãos de seu pai, Rony, que passou a bater leque também.>
“Uso o leque para poder afirmar tudo. Dizer que o Carnaval é eclético, é único, é diverso. Que todo mundo pode e deve vir para a Bahia se divertir, porque o Carnaval é desse jeito”, comenta ele.>
Até para quem não usa pela representatividade, o leque funciona bem. É o caso de Jéssica Gomes, de 32 anos, que se expressa pelo barulho e movimento do objeto.>
“É uma manifestação, uma coisa que vem de dentro e a gente bota para fora com o ‘vrau’ do leque. É uma manifestação do que a gente não pode expressar em palavras, é o leque que expressa”, afirma.>
Tem gente que gostou tanto da sensação de bater leque que levou a brincadeira até mesmo para fora do Carnaval. Sandro Barbosa ganhou seu primeiro leque no Festival de Verão, e desde então bate leque em casa até seus cachorros reclamarem.>
“Quando eu pego o leque e começo a soltar, sinto uma energia legal, vou gostando de ir junto com a música, no mesmo ritmo. É só se jogar”, diz.>
VALORES>
Para quem não ganhou em eventos, as ruas de Salvador se encheram de leques à venda - mas cuidado. Enquanto locais como o Beco das Cores vende os objetos por R$ 30, há ambulantes na pipoca que comercializam o objeto por até R$ 40.>
Mas sempre há um jeito de fugir dos preços altos, como Vitória Cerqueira conseguiu fazer. Ao ouvir o valor de 40 reais, ela conseguiu abaixar para R$ 25 brincando com o vendedor que não era gringa e sabia que o preço estava elevado.>