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Quanto de axé tem no Carnaval? O que artistas dizem sobre futuro do movimento e mistura de ritmos

Felipe Pezzoni, da Banda Eva, acredita em retomada da axé music

  • Foto do(a) author(a) Carolina Cerqueira
  • Carolina Cerqueira

Publicado em 5 de março de 2025 às 05:00

Axé music completa 40 anos em 2025
Axé music completa 40 anos em 2025 Crédito: Marina Silva/CORREIO

Em termos musicais, são as letras antigas de axé que vêm à mente do folião quando ele pensa em Carnaval. Elas ficam na ponta da língua até dos mais novos e agradam mesmo quem vai para a folia atrás de representantes de outros ritmos como Léo Santana, Alok, Tierry, Anitta e BaianaSystem. Mas o que é que faz mais sucesso nos circuitos?

Durante a abertura oficial da festa, lá na quinta-feira (27), os convidados de Carlinhos Brown para a cerimônia representaram essa mistura. Márcio Victor e Xanddy integraram a lista com Daniela Mercury, Margareth Menezes, Claudia Leitte, Gilmelândia, Sarajane, Ricardo Chaves e Felipe Pezzoni cantando ao lado de Sergynho Pimenta. Também estavam lá integrantes do Olodum, Cortejo Afro e Filhos de Ghandy.

‘A roda’, de Sarajane, foi dançada com empolgação. O sucesso dos anos 90 ‘Maria Joaquina de Amaral Pereira Góes’, de Pimenta Nativa, foi cantado em coro. ‘É o bicho’, cantada por Ricardo Chaves nos anos 2000, teve até coreografia sincronizada do público.

No dia seguinte, a pipoca do pai do axé, Luiz Caldas, perdeu no quesito quantidade de público para a pipoca de BaianaSystem. O trio de Armandinho, Dodô & Osmar não rendeu aquelas filmagens de drone em que é praticamente impossível ver o chão de tão cheia a rua. Mas nomes também tradicionais como Durval Lelys, Banda Eva, Ivete, Claudia, Daniela e Bell continuaram tendo blocos lotados.

BaianaSystem arrasta multidão no Campo Grande
BaianaSystem arrasta multidão no Campo Grande Crédito: Marina Silva/CORREIO

No Carnaval em que a axé music completou 40 anos, artistas traduziram em homenagem as respectivas apostas de músicas. ‘Carta ao axé’ (Tatau) e ‘Axé Salvador’ (Daniela Mercury) são as concorrentes que levam o movimento até no nome. Essa última ganhou elogios de Saulo durante a condução da pipoca no Campo Grande na sexta (28).

“É a música mais bonita do Carnaval, para mim”, opinou. Em seguida, reconheceu que ‘O verão bateu em minha porta’, de Ivete Sangalo, era a que fazia mais sucesso com o público na rua. “Viva essa galera toda que está fazendo um monte de música massa, viva os compositores e artistas da Bahia. É bom de vez em quando uns 40 anos, uma comemoração, para a galera dar uma acordada e fazer música boa”, emendou.

Saulo com trio pipoca na sexta-feira de Carnaval
Saulo com trio pipoca na sexta-feira de Carnaval Crédito: Marina Silva/CORREIO

Axé raiz

O folião Helivan Pinto, de 34 anos, concorda com Saulo. “As músicas deste ano tiveram um aspecto mais raiz. Tomate esteve com uma música legal, Ivete e Claudia Leitte também. Talvez seja um suspiro daquela onda de muitas músicas voltadas para o público do TikTok”, opina.

Xanddy homenageia Luiz Caldas em figurino usado na abertura do Carnaval
Xanddy homenageia Luiz Caldas em figurino usado na abertura do Carnaval Crédito: Marina Silva/CORREIO

Felipe Pezzoni, vocalista da Banda Eva (que completou 45 anos de história em 2025), acredita que o axé vive um movimento de retomada natural. “Está acontecendo esse retorno às origens, isso está acontecendo com a Bahia, que está voltando a ter protagonismo”, diz.

“É um chamado de volta para casa. Como se nós tivéssemos passado um tempo fora e retornado, percebendo que as ruas mudaram, as pessoas mudaram. A gente estava sentindo essa necessidade na Banda Eva e temos refletido isso nas últimas músicas que lançamos. Tem a busca pela origem junto com o acompanhamento do que há de novo”, acrescenta Pezzoni.

Tendo entrado em 2013, ele é o vocalista mais longevo da banda, que já esteve sob o comando de nomes como Saulo Fernandes e Ivete Sangalo. Para o cantor, é mágico ter como público avôs e netos cantando juntos as mesmas músicas, mas a banda não deixa de almejar a conquista de novos públicos e novos sucessos.

Felipe Pezzoni e Sergynho Pimenta foram convidados de Carlinhos Brown para abertura do Carnaval
Felipe Pezzoni e Sergynho Pimenta foram convidados de Carlinhos Brown para abertura do Carnaval Crédito: Marina Silva/CORREIO

“Não é fácil, mas a gente continua nessa busca, fazendo nosso som e nossa verdade, se antenando e usando recursos e tecnologias. Mas não queremos nada caricato, tipo eu fazendo TikTok para tentar conquistar a galera. Tem que ser algo verdadeiro, tem que ter a cara do artista”, compartilha.

Mistura

Foi também em 2013 que outro nome da nova geração do axé emergiu. Naquele ano, Filhos de Jorge ganhou a disputa pela premiação da melhor música do Carnaval, com ‘Ziriguidum’. Os vocalistas Dan Vasco, Arthur Ramos e Papito Gomes, da formação mais recente, dizem que bebem da fonte de quem começou a história do grupo para apostar em novos trabalhos para o futuro.

No Furdunço deste ano, disputando o dia 23 de fevereiro com BaianaSystem, arrastou uma multidão no circuito que rendeu vídeos compartilhados nas redes sociais. “Foi uma alegria imensa ver aquele mar de gente curtindo nosso som. Vai ficar para sempre na nossa memória e nos nossos corações. Estar no Furdunço ao lado de tanta gente boa e talentosa, como a turma da BaianaSystem, só reforça o sentimento de estarmos no caminho certo”, diz Dan Vasco.

Questionado sobre o quanto de axé cabe nas músicas que o grupo faz, Dan Vasco respondeu: “Tem muito de axé! Dizemos que somos a banda do ‘ballanssu’ justamente porque ousamos nas canções, aplicando vários gêneros, como samba reggae, pop e ijexá nas melodias, mas sem deixar de lado a percussão, que é forte no nosso som. Misturar é sempre válido! A música da Bahia nos permite fazer isso”, argumenta.

O termo ‘mistura’ também é o utilizado por Felipe Pezzoni para falar sobre as novas sonoridades que ganham espaço no Carnaval de Salvador e disputam a classificação como axé. “Não dá para rotular o axé, é muito plural. Acho que é mais um estado de espírito do que uma música em específico. Luiz Caldas resume isso muito bem. Basicamente, você pega um monte de ingredientes, bate no liquidificador e sai o axé. Cada um faz o seu com seu toque especial próprio”, explica.

Robson Morais, que ao lado de Márcia Short retomou a Banda Mel em 2024, acredita que a axé music começou como um movimento local e, ao ganhar expressão nacional, foi diversificado. “A música cresceu e, hoje, o panorama é muito amplo. Cada um vai chegando com sua contribuição, vai ajudando a melhorar nossa música. Venha fazendo coisa legal e a gente abraça”, afirma.

Robson defende que não vê o fim do axé. “Não morre, não vai morrer nunca. Enquanto tiver um folião atrás do trio elétrico, a axé music não vai morrer. É uma coisa cíclica, uma hora está em alta, outra hora em baixa. De vez em quando, chega um grupo novo e levanta. Com a Banda Mel, foi isso; com a ida de artistas como Ivete e Netinho para a carreira solo, também foi isso”, argumenta.

Para Robson, é importante classificar o que é cada gênero, mas não com a finalidade de apontar o que é melhor ou pior. “A visão das pessoas de fora é de que tudo que é produzido aqui é axé, mas a nossa visão aqui dentro é diferente. A gente não inclui o pagode no axé, mas é só uma forma de identificar as coisas, não é para segregar”, explica o cantor.

Banda Mel durante desfile no Campo Grande
Banda Mel durante desfile no Campo Grande Crédito: Reprodução/Instagram

Com o retorno da Banda Mel, que esteve no auge nos anos 90 com clássicos como Baianidade Nagô e Prefixo de Verão, o desafio é trazer novas músicas e alcançar um público mais jovem respeitando a história do grupo. “A gente não faz música da modinha, a gente faz para a posteridade. Não fazemos para ser a música do Carnaval; se for, ótimo, mas fazemos para ficar como legado”, afirma.

Mercado

A foliona Zezel Leite, de 53 anos, elogia as letras das músicas de Filhos de Jorge por não se renderem à modinha sobre a qual Robson Morais se referiu. “São mais de 15 anos de história sem baixar o nível das letras. Acho que nessa urgência em fazer sucesso, ganhar seguidores e dinheiro muitos artistas vão atrás do que vende mais, se preocupando pouco com a originalidade e a qualidade”, defende ela.

Na opinião de Iuri Barreto, administrador do perfil no Instagram @soteropobretano, a banda é assertiva ao buscar parcerias musicais, estratégia que falta ao axé. “É uma fórmula que o sertanejo tem e o axé usa pouco. O sertanejo consegue se manter por milhões de questões, recebe investimento, mas o axé não tem financiadores”, coloca o produtor de conteúdo.

Ele acrescenta que Filhos de Jorge é um grupo ativo que faz música boa com talento e apelo popular, mas isso não é suficiente para o mercado: “A gente sabe que tem que ser comercialmente vendável. Essa é a questão do futuro do axé. Como se manter vendável? Porque tudo é produto. Para formar essa nova geração de foliões, alguém precisa colocar dinheiro, pagar a conta.”

O segredo seria, então, unir apelo popular e investimento em estratégia de marketing. “O cantor J. Eskine lançou Resenha do Arrocha e virou uma das músicas mais estouradas do verão. Foi uma música produzida por uma agência de publicidade, foi feita para ser um hit e, de fato, foi. Eles usaram a fórmula e deu certo, lançaram vários refrões viralizáveis no TikTok e a galera abraçou”, finaliza Iuri Barreto.

O projeto Correio Folia é uma realização do jornal Correio com apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador