Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Tharsila Prates
Publicado em 4 de março de 2025 às 20:43
Olha o Gandhy aê! O tapete branco desfila nesta terça-feira (4) no circuito Osmar (Campo Grande) e, durante a apresentação na passarela Nelson Maleiro, o presidente do afoxé, Gilsoney Oliveira, fez questão de frisar que nenhuma polêmica vai acabar com os Filhos de Gandhy. Ele se referia ao vazamento de um comunicado, que, às vésperas do Carnaval, informava que apenas pessoas do sexo masculino cisgênero poderiam desfilar este ano. Após a repercussão, a medida foi suspensa.>
"Quanta emoção os Filhos de Gandhy terem esse momento mágico. Hoje, o terceiro dia [de desfile], quero agradecer a Deus por nos conduzir. Agradecer a Ogum, nosso homenageado. A gente vai se despedir desse último dia de Carnaval levando essa energia, que nós somos diferenciados. Levamos o brilho, a beleza, perfumamos a avenida. Levamos a mensagem de paz. Quero agradecer aos associados que estão com a bandeira de paz, porque o mundo precisa de paz. E só os Filhos de Gandhy têm esse legado há 76 anos. Não adianta nenhuma maldade, nenhum fogo amigo em querer trazer polêmica para os Filhos de Gandhy. Nós somos maiores, Gandhy é grande. Ninguém abaixo de Deus, Oxalá e Ogum, que nos reina, nossos patronos e todos orixás, vai deixar acabar os Filhos de Gandhy. Nenhuma polêmica. Somos maiores que tudo isso", discursou Gilsoney.>
Em 2025, o afoxé completa 76 anos. O comunicado dizia que, "de acordo com o artigo 5º do Estatuto Social, só poderão ingressar na associação pessoas do sexo masculino, cisgênero. Por isso, a venda do passaporte será apenas para esse público", o que excluía pessoas trans.>
A decisão foi criticada por pesquisadores e foliões. "É preciso lembrar que o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou as ofensas a pessoas LGBT ao crime de racismo, em 2023. (...) É lamentável que o Afoxé tenha desconhecimento sobre essa decisão e esteja aderindo a uma forte onda conservadora e de extrema direita que tem atacado as pessoas trans em todo o mundo", disse na ocasião Leandro Colling, professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e pesquisador de diversidade sexual e de gênero.>
O Ministério Público da Bahia (MP) chegou a abrir um procedimento para apurar o suposto ato de transfobia em cláusula do estatuto social do bloco. O MP-BA oficiou a agremiação por e-mail, solicitando informações e esclarecimentos e aguardava retorno para adoção das medidas cabíveis. No mesmo dia (24 de fevereiro), o bloco anunciou nas redes sociais o recuo: "Onde consta a palavra masculino cisgênero passará a constar apenas do sexo masculino", disse o bloco. O Gandhy prometeu ainda alterar o estatuto posteriormente, convocando uma assembleia geral para discutir o assunto. >
Confira na íntegra a nota do bloco divulgada no dia 24 de fevereiro:>
O Afoxé Filhos de Gandhy, ao longo dos seus 76 anos de história, sempre teve como princípio a valorização da paz, do respeito e da tradição. O nosso estatuto social reflete o percurso e os fundamentos da nossa irmandade, que, durante décadas, tem preservado a sua identidade cultural e religiosa.>
Tradicionalmente, e de acordo aos preceitos religiosos que o regem desde o inicio, o Afoxé Filhos de Gandhy é formado exclusivamente por pessoas do sexo masculino, de toda raça, credo, cor, religião, orientação sexual, partido politico ou classe social.>
Reconhecemos que a sociedade está em constante transformação e que debates sobre inclusão são fundamentais. Estamos sempre dispostos ao diálogo respeitoso e à reflexão sobre como manter nossas tradições vivas, ao mesmo tempo em que acolhemos as discussões da sociedade.>
Neste sentido, recolhemos o termo de aceitação onde consta a palavra masculino cisgenero, passando a constar apenas do sexo masculino, quanto à alteração no estatuto posteriormente convocaremos uma assembleia geral para discutir o assunto.>