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'O Navio Pirata está no limite do tamanho para se caracterizar dentro do Furdunço', diz músico da banda

Em entrevista exclusiva, banda fala sobre as mudanças da festa e preparativos para o desfile

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 22 de fevereiro de 2025 às 05:00

Banda será a última atração da festa no domingo (23)
Banda será a última atração da festa no domingo (23) Crédito: Divulgação/Jardel Souza

Quem conhece o Carnaval de rua de Salvador sabe bem: Furdunço é sinônimo de BaianaSystem e vice-versa. É difícil determinar quando a simbiose foi concretizada, mas é de se concordar que a banda ganhou fãs à medida que o pré-Carnaval cresceu. Neste ano, 60 atrações se apresentarão no domingo (23).

A mais aguardada delas seria a última, de acordo com a programação inicial divulgada pela prefeitura de Salvador. Pouco antes do Navio Pirata arrastar uma maré de gente, a banda conversou com o CORREIO sobre as expectativas e os desafios de manter a essência do Furdunço diante de uma programação cada vez mais disputada. 

"O Furdunço é, há alguns anos, um dos pontos mais importantes do nosso Carnaval. A construção do Navio Pirata está diretamente ligada ao Furdunço. Foi onde o público começou a nos entender, e aquilo passou a ter um crescimento tanto de público, como do que ele representa para o Carnaval", analisa Beto Barreto, guitarrista da banda. Além dele, o pesquisador Felipe Brito, que está por trás de algumas ideias do BaianaSystem, conversou com a reportagem, na sexta-feira (21). 

O Furdunço nasceu em 2014 e trouxe, desde o primeiro ano, a presença da banda. A ideia era fazer do pré-Carnaval uma lembrança de como era a folia antigamente: trios de pequeno porte, sem cordas e longe do luxo dos camarotes. Uma construção coletiva, que extrapolou todas as expectativas iniciais. 

"O primeiro ano do Furdunço vem de um discurso que tinha a ver com a redução dos tamanhos dos trios e o que foi aquele Carnaval que era mais coletivo. O Furdunço tem um quê de Mudança do Garcia e de outras coisas que construíram o Carnaval", completa Beto Barreto. Também foi através dele que a banda começou o diálogo com os empresários que fazem a festa e com o poder público. 

Com cada vez mais gente seguindo o Navio Pirata, ignorar o BaianaSystem não era mais uma opção. A banda passou a ganhar cada vez mais destaque. E o Furdunço, uma grade mais completa. Neste domingo (23), 60 atrações vão se apresentar no circuito Orlando Tapajós (de Ondina em direção à Barra) - um aumento de 15% em relação ao ano passado, quando foram 52. 

Uma constante se manteve: a banda continuou sendo a última a se apresentar. Em outros anos, o Navio Pirata começava sua travessia por volta das 22 horas. Esse ano, seria diferente. Baiana daria início a apresentação às 23h50, segundo a programação oficial. Mas a Prefeitura de Salvador decidiu atender ao pedido das bandas e dos fãs e recuou o horário para as 22h.

"Sempre fomos colocados como quem encerraria o desfile porque as outras atrações tinham trios menores. O Navio Pirata está no limite do tamanho para se caracterizar dentro do Furdunço. Também virou uma tradição que o Baiana encerre esse cortejo, só que o Furdunço ganhou mais atrações e a gente foi ficando para cada vez mais tarde", explica o guitarrista. 

Procurada para comentar a escolha dos horários, a Empresa Salvador Turismo (Saltur) disse que é uma questão de tradição a banda ser a última a se apresentar. "A banda e o Furdunço têm uma relação forte desde o início. A festa se tornou relevante por eles e eles se fortaleceram com o evento, lá no início de tudo. Então nada melhor do que essa banda e essa relação para o desfecho da festa", pontua.

O mundo dá voltas 

O futuro não se constrói sem referências ao passado, e isso BaianaSystem faz questão de ressaltar. O rito à ancestralidade é uma das essências da banda, que batizou seu álbum mais recente de O Mundo Dá Voltas (2025). Se o início e o fim vivem em um eterno reencontro, existe algo que não se perde mesmo com o passar dos anos. 

"Enquanto no Carnaval tradicional, em algum momento, o mote passa a ser o abadá e o camarote, o Furdunço têm como atrações principais as máscaras e manifestações da cultura popular. A festa, a rua e a liberdade. Naturalmente, isso se torna mais atrativo dentro dos processos de gentrificação. E o Baiana transformou isso em um grande ritual coletivo", pontua o pesquisador Felipe Brito.

"Abrimos a seita, mas não sabíamos qual seria o número de adeptos"

Felipe Brito

Pesquisador baiano que trabalha com a banda
Além do Furdunço, a banda puxa duas pipocas no Campo Grande em 2025
Além do Furdunço, a banda puxa duas pipocas no Campo Grande em 2025 Crédito: Divulgação/Jardel Souza

Seja ao lado dos amplificadores ou nas rodas que se abrem atrás e na frente do Navio Pirata, quem acompanha o desfile não têm alternativa a não ser se mexer conforme o ritmo ditado pela banda. É agonia do início ao fim, tem muito aperto e faz calor. Mas, quem segue uma vez, não quer largar mais. O encontro de gente de todos os cantos da cidade - do Brasil e do mundo - ganha fôlego em cima do trio. 

A participação de convidados também está no DNA da banda. Para este Furdunço foram confirmadas cinco atrações: Olodum, BNegão, Larissa Luz, Dino D’Santiago, Alice Carvalho e Vandal. "A escolha dos convidados tem a ver com as relações que são construídas através da música e do pensamento artístico", explica Beto Barreto. No novo álbum, há participações de artistas como Gilberto Gil, Seu Jorge, Cláudia Manzo e Anitta. 

A cantora pop, inclusive, faz feat na música Balacobaco, fio condutor do tema deste ano da banda. Para o Carnaval, BaianaSystem escolheu o tema “Balacobaco - O Mundo Dá Voltas”. A palavra é derivada de uma interjeição do dialeto ronga “mba'laku” da língua Tsonga, falado por mais de 650 mil pessoas só em Moçambique, na África. Aí outro reforço à ancestralidade. 

A expressão é utilizada para descrever uma experiência que causa fascínio e admiração, comunicar que haverá baile de máscaras. "Neste ano estamos sendo transportados para o mundo visível e estamos falando das várias formas de se fazer o Carnaval. Baile, máscara. Isso é muito mais antigo que o BaianaSystem", diz Felipe Brito. 

E o axé? 

Entrevistar qualquer artista baiano na boca do Carnaval e não perguntar sobre os 40 anos do axé music, celebrados em 2025, beira impossível. Com BaianaSystem, não foi diferente. Seria a banda parte do axé? Com eles, a palavra.

"O Baiana bebe da mesma fonte do axé, que é o samba reggae e os blocos afro. Temos como referência a guitarra baiana, que é a gênesis do Carnaval e surgiu antes do axé music. A gente não pode, de maneira alguma, ser visto como algo que surge depois da guitarra baiana do samba reggae. E isso não é uma forma de não reconhecer a importância do axé", avalia o pesquisador Felipe Brito. 

Balacobaco é o tema do Carnaval de 2025 da banda
Balacobaco é o tema do Carnaval de 2025 da banda Crédito: Filipe Cartaxo/Máquina de Louco/Divulgação

Para a tão falada necessidade de renovação do axé music, talvez falte justamente a busca pela ancestralidade, pregada pela banda. "Um recorte muito importante dentro do Mundo Dá Voltas é falar sobre um passado que o futuro ainda não alcançou. Então, às vezes, queremos falar sobre o futuro de uma forma que ele estará deslocado de tudo que passou. Mas não é assim que funciona", ressalta Beto Barreto. 

Seja pela primeira vez ou não, acompanhar BaianaSystem durante o Carnaval de Salvador é, por si só, um acontecimento. Além do Furdunço, a banda fará dobradinha no circuito Osmar, no Campo Grande. Na quinta-feira (27), às 18h30, e no sábado (1º) às 17h30*. Não perca a oportunidade de ver no que dá a pipoca mais falada da cidade. 

*Horários sujeitos a alteração. Confira a programação oficial da festa. 

O projeto Correio Folia é uma realização do jornal Correio com apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador.