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Confira como foi o carnaval dos blocos afro em 2025

O CORREIO acompanhou seis blocos afros em seu brilho e beleza nas ruas de Salvador

  • Foto do(a) author(a) Luiza Gonçalves
  • Luiza Gonçalves

Publicado em 5 de março de 2025 às 05:00

SOlodum
Saída Olodum 2025 Crédito: CORREIO/Marina Silva

Não sei quando comecei a frequentar os blocos afro no carnaval. Aqui em casa, sempre se ouvia um CD do Olodum, comentava-se de evento do Ilê ali, viam-se panos antigos do Muzenza nos armários, que aposentados das ruas serviam de decoração da casa. Mas, uma das memórias mais sólidas que eu tenho foi de um carnaval no Okambi, quando tinha por volta de uns 11 anos.

A preparação começou cedo, saias pretas e amarelas com estampas de máscaras, acessórios na mesma paleta, pintura facial de pontinhos brancos, como as dançarinas de Fela Kuti, homenageado do bloco naquele ano.

Mas nada se compara ao chegar na avenida e ver que, naquela noite, tudo será sobre o ser e pertencer, dos toques dos tambores, aos pés descalços das alas de dança e cantos do que conduzem o desfile.

É uma experiência viciante, viver a beleza e a força da negritude soteropolitana em seus desfiles de carnaval, na celebração da música afropercussiva e do legado religioso, estético e cultural que mudam a vida de tantas pessoas há 50 anos, que fidelizam gerações de famílias, amigos, vizinhos para dizer "eu sou Malê, eu sou Didá, eu sou Bankoma".

Uma emoção que se repete de ano em ano e ganha outros múltiplos significados. Em missão especial e muito prazerosa, acompanhei, para o CORREIO, o mundo afro na avenida em 2025, o coração pulsante da cultura afro-brasileira que bate mais forte ainda no carnaval, a partir de seis blocos que transformam com suas cores, histórias e axé.

Raízes

Neste ano, a nostalgia e reverência às raízes dos blocos, sobretudo na religiosidade do candomblé, imperaram nas temáticas definidas para os desfiles.

O universo vermelho, verde, amarelo e preto do gigante do Pelourinho foi invadido pelo roxo, azul e branco do cosmo universal para saudar ‘Olódùmarè, o Ser Supremo’ nos 45 anos de Bloco Afro Olodum. "Raízes, origens que me protegem. No toque, onde você vai, eu vou com Deus, eu vou com Olodumarè, povo deus", entoaram os cantores Lucas di Fiori, Lazinho e Narcizinho no Pelourinho, Barra e Campo Grande.

Da sacada do casarão, a percussão eram chamas brilhantes que incendiavam o público a cada batida dos sucessos como Revolta Olodum e Várias Queixas, que parece que a gente já nasce sabendo. É senso comum: onde passa, o Olodum arrasta o povo. Por todo lado, no domingo e terça de carnaval, era possível flagrar os abadás do grupo samba-reggae, tatuagens, colares, bandeiras e o que mais imaginar.

Saída do Olodum 2025
Saída do Olodum 2025 Crédito: CORREIO/Marina Silva

Da sacada do Pelô para a varanda do Ilê Axé Jitolu no Curuzu, em pombas, pemba e pipoca, saudando e pedindo a bênção de Oxalá e Obaluaê.

A ladeira canta O Mais Belo dos Belos e segue a negra procissão para o Campo Grande. “Não te dei uma faixa ainda, né minha filha? Tome para você.”

Quem estendia as mãos era Arany Santana, vestindo-me de Ilê para uma noite de blocos afro no sábado de carnaval na avenida. Me emocionei.

O tecido trazia um casal de guerreiros, máscaras e a bandeira com lanças representando os símbolos e a história dos povos do Quênia, país africano singular na formação da humanidade e nas raízes culturais do Brasil, que foi o homenageado em 2025, tema ‘Kenya - O Berço da Humanidade’. Agora sim, estava combinando com as suntuosas deusas do ébano que desfilaram seus troços, vestidos, leques e búzios nas três noites de Ilê no Circuito Osmar.

Todo mundo se cumprimenta, dança e brinda junto. O desfile do Ilê é um grande ponto de encontro da negritude. Banda Aiyê, sob o comando de Mestre Mario Pam, sempre em plena energia, sejam 22h, 00h ou 04h, e do alto, em destaque, a deusa do Ébano 2025, Lorena Bispo, em movimentos precisos, sorriso doce e brilho ancestral.

Ilê Aiyê no desfile de carnaval
Ilê Aiyê no desfile de carnaval Crédito: Reprodução/Instagram

Balé popular

Cinco, dez, quinze alas. Baianas, capoeira, dezenas de bailarinos, atuação, percussão e banda, além dos Reis e Rainhas Malê. Malê de Balê, um espetáculo que mereceu parar e ser visto com calma.

Afinal, a fama de maior balé afro do mundo já tinha chegado aos meus ouvidos antes. O cortejo passou pela Passarela Nelson Maleiro no sábado e na segunda de carnaval e no circuito Barra-Ondina ontem, trazendo a força do orixá abridor de caminhos no tema “Com a pedra que EXU lançou - O Malê reconta a história, 190 anos depois, a Revolta continua”, celebrando 46 anos do bloco que propaga o espírito de revolução negra no Brasil e a construção artística que salta aos olhos no circuito.

Malê Debalê na avenida
Malê Debalê na avenida Crédito: Reprodução/Instagram

Laroyê Exu!Dividindo a noite dos blocos afros no sábado, pude prestigiar o furacão da alegria, fruto do Terreiro São Jorge Filho da Goméia, em Lauro de Freitas, o Bloco Afro Bankoma.

Essa foi a primeira vez que assisti mais atentamente à tradição bantu de Nzazi na avenida. Flores, pipocas e milho branco nos cestos das baianas abriam o desfile.

Vinte e cinco anos de existência e resistência eram comemorados: “Eu sou Bankoma, é o meu grito de guerra. Levanta meu povo”, cantavam em uníssono. Prata, branco e verde dominavam a paisagem brilhante.

Bloco Afro Bankoma no Carnaval 2025
Bloco Afro Bankoma no Carnaval 2025 Crédito: Reprodução/Instagram

Bahia, Jamaica, Salvador

Do alto do trio, uma bandeira com as cores da Jamaica e a foto de Bob Marley é hasteada por um homem negro com dreadlocks, que se junta a um grupo de regueiros, chapéus e cachecóis de crochê em verde, vermelho e amarelo, camisetas com leões rastafaris que seguem os ritmos dos passos orgânicos das trocas de pernas em pulinhos.

Imagino se meu saudoso padrinho Boa era um desses rastas que saía atrás do Bloco Afro Muzenza no sábado de carnaval.

Meu pai, apesar de não ter os loks, eu sei que era. Os abadás antigos estão todos guardados por aqui. Não à toa, eu sei cantar um número considerável de canções.

Mas, a rua inteira se anima quando escuta Guerrilheiros da Jamaica ou Swing da Cor. Com um público fiel que já acompanha há mais de quatro décadas o bloco do reggae, o Muzenza desfilou três dias no carnaval de 2025 com o tema ‘Muzenza, Uma História de Resistência’.

No topo do trio, a rainha Paloma Bastos, primeira mulher trans a ocupar a coroa no Muzenza, coordena os passos nas batidas do samba reggae que passa e balança a praça.

Bloco Afro Muzenza 2025
Bloco Afro Muzenza 2025 Crédito: Reprodução/Gov.ba

Minha maratona de blocos afro se encerrou com o Cortejo Afro, no modo folião pipoca, ali no lado corda, mas sem perder a elegância e sofisticação chave do bloco da Barra até Ondina no domingo de carnaval.

Um mar branco com penas vermelhas, guiado por um dos trios mais bonitos desse carnaval. Afinal, a visualidade impactante também é uma característica ímpar do cortejo, que trouxe para o circuito Dodô, uma réplica do barracão do Terreiro Ilè Asè Oyá, em homenagem ao centenário de Mãe Santinha de Oyá, matriarca do bloco.

Cortejo Afro no carnaval 2025
Cortejo Afro no carnaval 2025 Crédito: Reprodução/Instagram

Adornado de esculturas, rendas e imagens da ialorixá, o carro carregava o tema deste ano "Joias de Crioula - Centenário de Mãe Santinha de Oyá", antecedendo as alas de danças, sociais, bateria e trio com cantores e dançarinos, carregando símbolos da cultura e estética negra, resistência e identidade nos três dias de desfile do Cortejo. Ouvi, em alguns momentos, “olha a macumba passando”, acompanhados de olhares contrariados.

Em outros, pessoas admiravam ou lançavam-se à corda para, assim como eu, aproveitar os toques dos tambores sagrados que estão no DNA da música baiana.

*Com orientação de Miro Palma

O projeto Correio Folia é uma realização do jornal Correio com apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador