Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

Colar em troca do beijo: ritual de pegação dos Filhos de Gandhy divide opiniões no Carnaval

Foliões relatam que insistência dos galanteadores levam ao assédio e retira conservação da religiosidade do desfile

  • Foto do(a) author(a) Anna Luiza Santos
  • Anna Luiza Santos

Publicado em 3 de março de 2025 às 05:00

Filhos de Gandhy
Filhos de Gandhy Crédito: Marina Silva/CORREIO

Composto exclusivamente por homens, o Bloco Afoxé Filhos de Gandhy tem o colar de contas azul e branco como símbolo de fé. No mar de alfazema e turbantes brancos, o acessório de homenagem a Oxalá e a Ogum é um dos destaques do desfile na avenida durante o Carnaval. Contudo, apesar do sentido religioso, o adereço ganhou outra função: o de pegação.

No meio da folia, os homens do Bloco têm a tradição de usar o colar como moeda de troca para roubar beijos. Apesar da prática ter começado no início dos anos 2000, quando o Afoxé se popularizou, até hoje os Gandhys ainda usam suas clássicas vestimentas e acessórios como instrumento de flerte.

Mateus Correia, estudante de 28 anos, conta que o desfile é o momento certo de 'mirar os alvos'. "Não é porque somos povos de terreiro que não queremos beijar na boca. Mantemos os respeito pelas 'negas' e, se as brincadeiras forem retribuídas, não perdemos tempo. Já comprei 120 colares e espero voltar pra casa sem nenhum no final do Carnaval", revelou.

Mateus ainda conta que o desfile, por exaltar a religiosidade, deixa as mulheres mais atiçadas. "Tem uma mistura de fetiche e magia no olhar dela sobre os Gandhys que aumenta a atração".

Já o motorista Adalberto Lima relata que na juventude mantinha o comportamento no trajeto, mas agora repudia. "Já beijei muitas mulheres em troca do colar, mas hoje em dia discordo dessa postura. Isso esvazia o significado religioso que os Filhos de Gandhy carregam", disse.

Mudando de perspectiva e destacando o olhar feminino, a dentista Carla Luiza Guimarães afirma que tal ação é assédio. "É a atitude de homens que querem alimentar o ego em uma manifestação religiosa. A partir do momento que o contato com uma mulher é colocado como um objeto de troca, o assédio se insere", disparou.

A estudante de direito Marcela Dias diz que acompanha o desfile dos Gandhys há anos, troca beijos, mas relata atitudes desnecessárias dos galanteadores. "Já fui xingada porque não quis beijar um Gandhy que tinha idade para ser meu avô. Infelizmente, há uma parcela deles que não tem bom senso e não nos respeitam".

O pai de Marcela, Ricardo Dias é associado do bloco há 15 anos e concorda com a opinião da filha. "Sou divorciado e beijo muitas mulheres durante o desfile. É um bom momento para jogar cantadas e se divertir, mas vejo que nem todos conseguem entender que diversão só é feita na base do respeito", defendeu.

O projeto Correio Folia é uma realização do jornal Correio com apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador