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Carolina Cerqueira
Publicado em 22 de fevereiro de 2025 às 05:00
A médica Larissa Almeida, de 36 anos, parou de curtir o Carnaval depois que teve filhos. Tem medo de perder os meninos, de 2 e 7 anos, em meio à multidão. “Tenho receio até deles serem sequestrados. Seria o melhor dos mundos curtir o Carnaval com eles em segurança, mas numa festa cercada por bebida alcoólica e drogas, seria muito difícil”, opina. >
Ela recorre aos bailinhos de shoppings e, durante os dias da folia, sai de Salvador. Apesar da existência de blocos infantis no circuito do Campo Grande durante as manhãs em parte dos dias oficiais, são inúmeros os bailinhos infantis promovidos pelos shoppings da cidade para os pais que pensam como Larissa. >
Como o CORREIO noticiou no dia 19, os blocos infantis foram determinados a desfilarem no Campo Grande este ano visando a segurança dos foliões diante da saturação da Barra. Os trios saem pela manhã, além de outras medidas adotadas para promover o maior conforto possível. >
O horário limite de saída é 14h, com uma janela de tempo que evita o choque com os demais. Mas o sol castiga. O Bloco Happy (Tio Paulinho) foi um dos que precisaram migrar da Barra para o Campo Grande. Desde o primeiro ano de desfile, há 30 anos, adota o banho de mangueira. “Atende o lúdico da criança e a necessidade de refrescá-las no calor”, diz Tio Paulinho. >
O kit abadá vem com boné e protetor solar e, desde o ano passado, há distribuição gratuita de água. Monitores ficam espalhados, um carro de apoio faz atendimento médico e sinalizações ficam ao redor do trio para evitar acidentes. “Carnaval é festa, alegria e diversão, mas, claro, é segurança das crianças”, observa. >
Também tradicional no Carnaval, o atual Trio Pipoca Doce (antigo Algodão Doce), acontece há 25 anos no Campo Grande com um planejamento especial para o público mirim. Carla Perez, que comanda o trio até 2026 com despedida já anunciada, explica que há brincadeiras na concentração, presença de personagens e uma decoração lúdica. >
A escolha do circuito não é à toa. “O Campo Grande é mais arborizado, mais fresco para as crianças curtirem com mais conforto. Sem contar que é pertinho de onde vivi minha infância e adolescência; um circuito que eu amo”, diz Carla. Desde 2018, o trio desfila sem cordas. >
“Meu desejo sempre foi proporcionar esse momento mágico para crianças especiais, crianças de instituições filantrópicas e crianças que não teriam condições financeiras de estar dentro de um bloco de Carnaval”, completa. >
A especialista em Entornos Seguros e Protetores da Aldeias Infantis SOS, Erika Tonelli, defende que não se deve condenar a participação das crianças na folia. “É uma questão cultural, faz parte da tradição de um povo. O ideal é buscar festas menores, blocos mais tranquilos, circuitos menos cheios e tomar os devidos cuidados”, coloca.>
Segurança >
Nos circuitos, há pontos de apoio da Justiça da Infância e Juventude. “Todos os casos envolvendo as crianças podem ser levados para esses postos, sejam de crianças perdidas ou outras situações de perigo, até mesmo trabalho infantil. Vale lembrar que existe o Disque 100”, informa Alessandra da Costa Meira, psicóloga da Coordenadoria da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA). >
Erika Tonelli orienta que os pequenos estejam devidamente identificados e que haja um responsável escolhido para o cuidado. “Quando todo mundo está cuidando, ninguém está”, observa. Caso a criança se perca, os pais devem estar atentos ao celular que indicaram na identificação. Manter a calma é essencial e, claro, buscar ajuda da polícia. >
Para Lucas Lopes, cientista social e secretário executivo da Coalizão Brasileira Pelo Fim da Violência Contra Crianças e Adolescentes, a participação na folia está conectada ao direito à cidade. Ele pondera que o desenvolvimento da festa ainda precisa avançar para que ela possa ser desfrutada com segurança por todos os grupos sociais: “É preciso pensar em estratégias descentralizadas e comunitárias para criar espaços seguros para o Carnaval de crianças e adolescentes." >
A empresária Juliane Maia, de 42 anos, não teve problemas ao levar as filhas de 7 e 10 anos para o Carnaval em 2023. Ela e o marido foram com as duas para o Morro do Gato e todos ficaram parados vendo os trios passarem por cerca de três horas. Elas viram Bell, Daniela, Ivete e Saulo. Segundo a mãe, se divertiram muito. >
“Fizemos fantasias e pinturas no rosto, meu marido colocou elas nos ombros para poderem ver tudo. Elas gostaram, mas não creio que vão querer ir novamente tão cedo. Se quiserem, eu levo”, diz Juliane.>
Cuidados >
A preparação de Juliane para o grande dia com as filhas envolveu uma sacola com lanchinho e água. É isso que recomendam os pediatras, além da escolha de locais ou horários com menos aglomeração. Para o pediatra e ativista pela infância Daniel Becker, não há idade certa para que as crianças participem da festa, mas é possível estabelecer alguns direcionamentos. >
“Tudo depende de que situação de Carnaval estamos falando. Se for um bloquinho sem tanta aglomeração, uma criança de 1 ou 2 anos pode ir. Até os 8 ou 10 anos, eu não recomendo situações de grandes aglomerações. Lembrando que crianças maiores também precisam ser alvo de preocupação”, orienta. >
Ele completa que é essencial que os responsáveis que estejam acompanhando os menores não abusem da bebida alcoólica e não os percam de vista, estando sempre atentos. Além disso, para crianças que já saibam se comunicar e tenham certo senso de orientação, é recomendável marcar um ponto de encontro. >
“Se você consegue montar um esquema para que a criança fique segura, essa experiência é positiva porque é uma festa importante, vai compor a memória e a identidade dela”, acrescenta Daniel Becker. Ana Jovina Bispo, membro do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), concorda. >
“Permitir que as crianças vivenciem o Carnaval é dar-lhes a oportunidade de brincar, de entender as tradições. O brincar Carnaval é permitido e até mesmo recomendado, desde que hajam cuidados com a saúde e com a segurança”, coloca. >
Ela também diz não ter idade certa, mas não recomenda a ida de bebês para os circuitos e nem mesmo para as festas em ambientes pequenos e fechados, com pouca ventilação e muita gente. Sobre os horários dos blocos serem pela manhã, ela afirma ser um risco de desidratação. >
Daniel Becker orienta que a água deve ser ofertada a cada 15 minutos, além do protetor solar, boné e até mesmo roupas com proteção UV. A questão auditiva também deve ser um ponto de atenção. “Se for uma situação de som muito alto ou de muita proximidade com as caixas de som, os abafadores são recomendados. Os de silicone são práticos, simples e baratos”, indica. >
Erika Tonelli, da Aldeias Infantis SOS, alerta quanto às fantasias e adereços. “Tem que ser confortável e não conter peças muito pequenas, que podem ser ingeridas por crianças menores. Correntes e cordões devem ser evitados por conta do risco de estrangulamento”, finaliza.>
O que diz a lei >
Uma portaria de 2022 da 1ª Vara da Infância e Juventude regulamenta a participação das crianças no Carnaval. Alessandra da Costa Meira, do TJBA, explica as regras. Até os 12 anos, as crianças precisam estar acompanhadas dos responsáveis ou de pessoas que tenham autorização por escrito dos responsáveis diretos. >
A partir dos 12, se não estiver acompanhada, a criança precisa portar a autorização dos pais por escrito e documento de identificação. No site da 1ª Vara da Infância e Juventude há modelos destes documentos disponíveis para uso. >
As crianças podem frequentar blocos e camarotes, mesmo que com classificação indicativa acima de suas respectivas idades, se estiverem acompanhadas dos pais ou responsáveis. “Lembrando que a venda de bebida alcoólica e cigarro é proibida para crianças e adolescentes, inclusive nestes lugares”, diz Alessandra. >
Charanga Tamirzinho Kids: 22/02 (Fuzuê no circuito Ondina-Barra) | Gratuito >
Furdunço Alpha: 22/02, 8h (Do Shopping Paseo ao Shopping Itaigara) | Gratuito >
Harém Kids com FitDance Kids e mais: 22/02, 14h (Camarote Harém, Ondina) | Entrada a partir de R$40 com venda no Sympla>
Paralela Folia Tio Paulinho: 22/02 e 23/02, 16h (Praça de Eventos 1 do Shopping Paralela) | Gratuito>
Paralela Folia com o grupo de palhaços Musiclaus: 01/03, 17h (Piso L2 do Shopping Paralela) | Gratuito>
Paralela Folia com UniDuniTê e Tio Paulinho: 02/03, 15h (Piso L2 do Shopping Paralela) | Gratuito>
Grupo Pé de Lata: 02/03 (Circuito Batatinha, Pelourinho) | Gratuito>
Os Gatos Multicores e banda: 03/03, 15h (Praça das Artes, Pelourinho) | Gratuito>
Olodum Mirim: 03/03, 14h (Circuito Batatinha) | Gratuito>
Blocos no Campo Grande pela manhã: (dias 1º, 2, 3 e 4 de março) Rhataplan, Vamos Nessa, Algodão Doce, Happy, Gatos e Gatas, Zum Zum Mel, Commanches, Ibeji, Todo Menino é Um Rei, Pequeno Príncipe de Airá>
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