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Maysa Polcri
Publicado em 5 de março de 2025 às 10:46
É verdade que todo Carnaval tem seu fim. Mas, em Salvador, os foliões aproveitam até o último minuto para atrasar a volta à realidade. Há aqueles que só vêm para curtir o tradicional Arrastão, que acontece na Barra-Ondina, na Quarta-feira de Cinzas, há 30 anos. >
Jaciara Batisa saiu da cidade de Alagoinhas, durante a madrugada para chegar há tempo de curtir o Arrastão com as irmãs. Para as mulheres da família, a celebração tem um significado especial.>
"Meu irmão trabalhava todos os dias durante o Carnaval e só podia curtir a Quarta-feira de Cinzas. Ele trazia todo mundo, então nós damos continuidade à tradição", explicou Jaciara, a irmã mais velha. O irmão faleceu de covid-19, durante a pandemia, e curtir o último dia de folia é uma forma de celebrá-lo.>
Quem também só aparece na avenida para celebrar o Arrastão é Mônica Vieira Coelho, policial militar aposentada. A tranquilidade e a segurança do último dia de festa motivam a vinda. "É um dia muito especial, mais calmo e tranquilo. Tem a beleza desse mar e dessa gente. Conseguimos olhar realmente as pessoas", comentou. >
Os inimigos do fim, como Márcio Soares de Oliveira e Jaime Roberto, também marcam presença desde cedo no Farol da Barra. Depois de praticamente emendar a noite de terça-feira (4) e esta quarta (5), eles vieram prestigiar o cacique Brown. "Começamos o Carnaval com ele e temos que terminar do mesmo jeito, com chave de ouro", celebrou Márcio.>
Quem deu início a festa foi o cantor Léo Santana, que chegou acompanhado da filha Liz, de 3 anos. Depois de comandar duas pipocas na terça-feira (4), o cantor puxou outra multidão nesta Quarta-Feira de Cinzas. Vestido de regata marrom e chapéu, Léo montou um repertório mesclando hits atuais e pagode das antigas. >
"Surra de Toma", "Destampei" e "Uisminofay" embalaram o público sob o sol quente, a partir das 10 horas. Também se apresentaram no trio do GG o grupo Filhos de Jorge e o cantor Flavinho, da banda Pagodart.>
Depois que o pagode de Léo Santana deixou o Largo do Farol da Barra, foi a vez do cacique Brown, anfitrião do dia, brilhar. O cantor celebrou os 30 anos do Arrastão durante fala à imprensa. "A evolução desse evento está sendo o fato do que a gente está vendo, é espontâneo, as pessoas chegam sempre da sua forma. O arrastão culmina no fato dos 75 anos de trio e nos 40 anos de axé. E nós estamos celebrando isso com as pessoas que trabalham, mas tem gente que veio curtir mesmo", disse. >
Brown ainda fez o tradicional padê, ritual africano que cultua os orixás. Pelo menos 250 percussionistas, sendo 100 mulheres do grupo Fé-Menina, tocaram na saída do trio de Brown. Ainda na Barra, uma mistura que só poderia acontecer em Salvador surpreendeu o público.>
O instrumentista e compositor Armandinho Macêdo, filho de Osmar Macêdo, um dos criadores do trio elétrico na década de 1950, encantou os presentes com solo de guitarra. Depois, um grupo de percussão coreano cantou "Muito Obrigado Axé" com o cacique.>
O grupo musical "Rapercussion" viralizou nas redes sociais ao tocar o hit "Faraó, Divindade do Egito", clássico do axé music gravado nos anos 80 pelo Olodum e por Margareth Menezes. "Quando eu vi vocês tocando, vi o intercâmbio humano e que o mundo converge e fala. O mundo é feito de uma cultura só, a raça é humana, e todos podem lançar mão do que está criado", celebrou. >
Um dos momentos mais celebrados aconteceu quando Carlinhos Brown encontrou uma fã, a pequena Cecília. Os dois cantaram juntos a música Charles Ilê, uma das composições mais famosas do percussionista.>
O dia no circuito Barra-Ondina contou ainda com o sertanejo de Danniel Vieira, que vestiu uma camisa estampada com o rosto de Luiz Caldas, considerado pai do axé music, que completou 40 anos em 2025. >