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Larissa Almeida
Publicado em 31 de janeiro de 2024 às 20:38
Se os jovens baianos dos anos 90 fossem desafiados a atirar uma pedra a cada vez que ecoassem o bordão ‘Já fui Banda Mel’, poucas pedras sobrariam para contar história. Afinal de contas, a Banda Mel era um sucesso quase unânime à época, sendo uma das bandas precursoras do axé music. Agora, com 40 anos de trajetória, Márcia Short e Robson Morais, dois dos grandes nomes da formação musical, querem retomar o prestígio do grupo. Depois de uma disputa longeva envolvendo o direito de uso da marca, a banda anunciou o retorno nesta quarta-feira (31), na Casa do Carnaval da Bahia, trazendo como novidade duas datas já confirmadas de apresentações no Carnaval de Salvador.
“O retorno é uma vontade antiga. Esse repertório da Banda Mel está presente em todos os shows, tanto de artistas da nossa época, como [nos shows] de artistas atuais. Segundo dados de uma pesquisa recente do Ecad [Escritório Central de Arrecadação e Distribuição], das dez músicas que ainda são tocadas em festas do repertório de axé music, a Banda Mel detém três. Isso significa que é um repertório vivo, pulsante e que está na mente e no coração de todo mundo. Agora, no projeto Banda Mel 40 anos, é só reativar a saudade, nostalgia e música boa que tudo revive e renasce”, destaca Márcia Short.
Integrante da segunda formação da banda, que tinha Robson Morais e Alobened, Márcia Short lutou durante 28 anos pelo direito do uso da marca. Isso porque, conforme relatou ao jornalista do CORREIO Osmar Martins Marrom em julho de 2022, ela e Robson saíram do grupo para formar a Bandabah, mas não receberam nada pelo tempo de trabalho prestado. “Eu trabalhei durante quatro anos na empresa e ao pedir desligamento soube por meio dos contratantes que não teria direito a nada. Durante quase dois anos, negociei amigavelmente, tentando fazê-los reconhecer que todo trabalhador que se desliga de uma empresa possui direitos, que precisam ser cumpridos, e isso não aconteceu”, disse a cantora na época.
“A partir daí, uma ação foi movida e a justiça entendeu que, depois de 28 anos sem acordo e com várias fraudes processuais, a penhora da marca seria a única saída para a quitação desse débito. Eu nunca busquei requerer a marca, o objeto da ação sempre foi a indenização trabalhista”, frisou em entrevista ao Baú do Marrom.
Com o direito da marca aprovado para uso, o retorno efetivo está previsto para acontecer em cima do trio elétrico. No dia 11 de fevereiro, Domingo de Carnaval, os fãs vão poder ouvir os versos de ‘Baianidade Nagô’ (Evandro Rodrigues), ‘Prefixo de Verão’ (Beto Silva) e ‘Crença e Fé’ (Beto Jamaica e Ademário) sendo interpretados pelo samba-raggae de Márcia e Robson, no Circuito Dodô (Barra-Ondina). No dia seguinte, dia 12 de fevereiro, quem recebe a banda são os foliões que vão curtir a Segunda-Feira de Carnaval no Circuito Osmar (Campo Grande).
Segundo Robson Morais, a preparação está intensa para conseguir acompanhar o pique da maior festa de rua do mundo. “Temos nos preparado bastante, a nutricionista está pegando no meu pé, tem malhação total e Márcia Short me dando marcação. Estou entrando em forma rápido e a força já está conosco. Estamos prontos, preparados, mais maduros e a voz continua a mesma. Estamos com uma ansiedade boa, porque sabemos o que está nos esperando e estamos preparando uma coisa bem legal para as pessoas que estão nos acarinhando tanto”, diz.
O repertório para a festa carnavalesca deste ano será baseado apenas nos antigos sucessos da banda. No entanto, como a volta do grupo é definitiva, há previsão de novidades ainda neste verão, quando haverá apresentação musical aberta ao público, com data ainda a ser definida. Quem adiantou a informação foi o empresário da banda e jornalista Paulo Borges, que também contou que o retorno da Banda Mel já estava sendo pensado há pelo menos um ano.
“Eles me disseram que estavam querendo voltar e eu disse ‘Vamos voltar ano que vem, porque sabem de uma coisa? Vocês vão fazer 40 anos em 2024’. Em setembro e outubro, começamos a organizar. Vamos fazer esses dois dias no Carnaval e, em 2025, o axé faz 40 anos. Então, vamos começar a preparar um projeto audiovisual para ser lançado justamente no próximo verão, que deve ter todo o repertório deles e mais duas músicas inéditas”, projeta.
Esse projeto audiovisual também deve contar com convidados especiais. De acordo com Paulo Borges, futuramente Luiz Caldas, Sarajane, Daniela Mercury e Ivete Sangalo devem ser alguns dos artistadas contactados para fazer parte de possíveis gravações. Márcia Short, por sua vez, não descarta até mesmo o encontro com integrantes das antigas formações da banda. “Vai ter um momento, se for da vontade dos cosmos, que a gente, quem sabe, reúne essa galera toda e promove uma grande festa, onde cada um registra sua colaboração e deixa esse legado para a galera se deliciar”, fala.
E ainda no que se refere a legado, a cantora, que reconhece a falta de artistas da nova geração no cenário do axé music, encara como desafio a integração com as novas mídias, mas garante que quer ser referência para os que estão vindo. “[Nosso retorno] é justamente sobre inspirar, abrir possibilidades principalmente para meninas do meu perfil na nossa cidade, trazendo para elas ações afirmativas de fato e mostrar que persistir no nosso sonho é como diz Caetano Veloso, em ‘Bahia, Minha Preta’: insista no que é lindo que o mundo verá tu voltares rindo ao lugar que é teu no globo azul. É sobre a vontade vencer e essa real possibilidade de realizar sonhos que eu quero falar”, finaliza.