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Só o pó e glitter: quem curtiu todo dia no Carnaval de Salvador

Veja os guerreiros que não perderam um dia da melhor festa do planeta

  • Foto do(a) author(a) Esther Morais
  • Foto do(a) author(a) Wendel de Novais
  • Esther Morais

  • Wendel de Novais

Publicado em 14 de fevereiro de 2024 às 08:00

Acorda, come, se arruma, sai, só volta 12 horas depois e repete a programação por seis dias à fio. Uma rotina que só no Carnaval de Salvador pode ser tida como comum por quem aproveita ao máximo a festa. Em 2024, é claro, não faltou quem colocasse essa missão em prática. Só parar, já no raiar do dia, em qualquer ponto de transporte público ou por aplicativo nas imediações dos circuitos oficiais da folia para atestar a presença de pessoas que não abriram mão de um dia sequer da programação momesca no Campo Grande, no Barra-Ondina ou no Pelourinho.

Exemplo disso é o programador Bernardo Cortizo, 43 anos, que curtiu a festa sem parar nos dias em que os trios elétricos desfilavam pela capital. Cria de Salvador, Bernardo é de festa desde quando era pequeno e começava a folia, acompanhado do pai, em festas tradicionais como a Lavagem do Bonfim e o 2 de fevereiro, chegando ao Carnaval. Neste ano, ele mostrou na rua que a tradição ensinada pelos pais é preservada como lei e vai um passo à frente.

“Se possível, como foi, vou os seis dias de Carnaval e mais o Arrastão. Eu comecei mesmo no Festival da Virada. Fui ver Baiana System e Daniela Mercury. Depois, emendei com as festas tradicionais, fui ver os palhaços no Rio Vermelho, Furdunço e Fuzuê. Pulei só A Melhor Segunda-Feira e o Pipoco para não perder mais nada. Vim nas fanfarras do Habeas e só paro quando termina porque o corpo se entrega. E, quando acaba, fico contando os dias para o ano que vem”, declara Bernardo.

Assim como o programador, muitos aproveitaram a junção das festas tradicionais ao Carnaval para curtir uma folia que não parecia ter fim. Bonfim? Dentro. Festa de Iemanjá? Agora. Pré-Carnaval? Com certeza. O ‘não vou’ foi pouquíssimo utilizado para pessoas como o pedreiro William Reis, 31, que também curtiu todos os dias oficiais – e não oficiais – em território soteropolitano.

“Todos os dias eu curti e esse ano foi especial. Depois, fui curtir os ensaios de Salvador como A Melhor Segunda-Feira e o Baile da Santinha. Voltei para a Melhor Segunda no Carnaval, fui ao Pipoco e Carnaval à dentro. Estou inteiro e, quanto a preparação, não tem segredo: é muita água e cerveja para dentro. A energia vai acabando aos poucos, mas a gente consegue ir até o final. Faço isso há muitos anos e é algo importante para mim. Essa festa é diferente de tudo”, fala o pedreiro.

Os relatos de Bernardo e Wiliam parecem ser compartilhados por milhões de pessoas. E não é exagero. Em todos os dias oficiais de folia, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) registrou ao menos um milhão de pessoas nas ruas. Entre os foliões, o comentário era unânime: é gente que não acaba mais. Pensamento compartilhado por Bruno Reis, prefeito de Salvador. "Nunca tivemos tanta gente como ontem no circuito Barra-Ondina", disse o gestor sobre o sábado (10) de Carnaval.

Na Barra, o sistema de reconhecimento facial da SSP contabilizou que mais de um milhão de pessoas passaram pelos portais de abordagem. Em todos os circuitos, foram 2 milhões de foliões. Entre os rostos, o da psicóloga Leila Tiriçá, 42, era garantido. Como moradora de Salvador, Leila sempre esteve no meio da curtição ao longo de muitos anos da maior festa de rua do planeta.

“Tenho diversas programações favoritas que criei amor. O pré-Carnaval dos Palhaços e o do Santo Antônio Além do Carmo, por exemplo, são pontos que são ícones. No Carnaval mesmo, depende muito de cada ano, mas a saída dos Filhos e Filhas de Gandhy é uma coisa lindíssima que não costumo perder. Não vejo os Gandhy todo dia porque não aguento mais o pique do Campo Grande porque a idade vai chegando e a gente tem algumas limitações”, relata Leila.

A psicóloga diz também que a preparação é reforçada para não perder nenhum dos dias da festa pela qual é apaixonada. Dentro da receita de Leila para segurar o ritmo estão, principalmente, de suplemento vitamínico, muita ingestão de água e descanso. Tudo para assegurar a possibilidade de curtir o máximo possível em diversos pontos da capital.

"Vou sempre em vários eventos nos diversos circuitos que temos. Antes, mal existia o Barra-Ondina e a gente curtia muito na avenida com a família. Eu não quero perder isso e até hoje fico tentando alternar para ver atrações diferentes nos dois circuitos principais, mas também no Pelourinho e em outros pontos já que tem folia para todo lado. Cada Carnaval procuro fazer diferente. Vejo a saída do Ilê, prestígio diversos circuitos e presencio outras manifestações culturais”, completa.

Quem quase chegou ao nível dos foliões citados aqui foi o ator Humberto Carrão, que não saiu da boca do soteropolitano desde quando estava na Lavagem do Bonfim, em janeiro. Desde então, o artista marcou presença na Festa de Iemanjá e até no Pré-Carnaval como no Banho à Fantasia na Ladeira da Preguiça. No Carnaval oficial, presenciou a saída do Olodum na sexta-feira (9) e do Ilê Aiyê no sábado (10). No domingo, saiu no Afoxés Filho de Gandhy, antes de ir ao Rio de Janeiro.

O Correio Folia tem apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador.