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Perfil azeviche: a identidade visual do Ilê Aiyê

Máscara negra foi criada em 1978, pelo artista plástico Jota Cunha para se tornar símbolo de ativismo do primeiro bloco afro do Brasil

  • L
  • Larissa Almeida

Publicado em 31 de janeiro de 2024 às 08:00

As cores vermelho, amarelo, branco e preto foram eleitas pelos antigos diretores e o perfil azeviche uma criação inspirada na ancestralidade africana
As cores vermelho, amarelo, branco e preto foram eleitas pelos antigos diretores e o perfil azeviche uma criação inspirada na ancestralidade africana Crédito: Reprodução

O negrume da noite que reluziu o dia. Esse é o verso que define o perfil azeviche na letra de ‘Negrume da Noite’, canção do Ilê Aiyê. Muito mais do que uma imagem, a máscara de pele negra, criada pelo artista plástico Jota Cunha, em 1978, foi projetada para se tornar símbolo da inventividade e ativismo do primeiro bloco afro do Brasil. Para tanto, precisou beber da fonte da ancestralidade e da história das religiões de matrizes africanas.

De acordo com Jota Cunha, o convite para criar a identidade visual do Ilê foi feito por Carlinhos Bamba, diretor de dança que, à época, fazia parte da equipe técnica do bloco. A oportunidade foi agarrada de imediato por ele, que logo encontrou uma grande influência para seu processo criativo. “Eu fiz aquela marca não inspirada, mas iluminada pela mãe de Vovô [fundador do Ilê Aiyê], Mãe Hilda Jitolu, com quem eu tinha muitas conversas. Ela era uma pessoa radiante e, quando viu meu trabalho, ficou muito respeitosa com a extensão dele. Baseado no orixá dela, Omolu, eu fiz aquela cabeça”, conta.

Feito em uma máscara de pele negra feito com o mineral azeviche, o perfil conta insígnias do candomblé – como o opaxorô de Oxalá e o tridente de Exu. Ainda, tem quatro búzios abertos cruzados na testa formando uma cruz. A inserção desses últimos elementos, em específico se deu como forma de traduzir a filosofia que entende o cruzamento de búzios como aval para seguir para qualquer direção.

“O cruzamento é de onde você pode partir para fazer alguma coisa. Independente de que lado você vai, o ponto onde está é o ponto de partida e o primeiro passo. Portanto, estou me referindo à construção filosófica da África que dá o ensinamento das decisões e a qualificação mental para saber onde pisar, o que fazer, o que comer, por onde andar e ir”, explica o artista.

Já as cores do perfil foram escolhidas entre as pessoas que estavam envolvidas com a tomada de decisões do bloco, dentre elas personalidades como Arany Santana, Roberto Sobreira e os fundadores. Jota Cunha diz também que sua própria ancestralidade, enquanto descendente de angolanos, indígena do povo Kiriri e ascendência cigana contribuíram para essa etapa da confecção da identidade visual.

Após discussões, foi definido que o vermelho, o amarelo, o branco e o preto seriam as cores para compor o perfil azeviche. O vermelho significa vida e sangue, o amarelo faz referência à luz, a força da doçura, da bondade e da beleza, enquanto o branco reflete a paz e remete a Oxalá. Por fim, o preto alude à pele negra em suas diversas nuances por razão da diáspora.

Conforme Jota Cunha, o uso dessas cores foi um marco para o povo negro naquela época, que costumava vestir cores neutras ou discretas para não chamar atenção e, sobretudo, não ser discriminado por trajar em suas vestes cores de tecidos que remetiam aos países africanos. A coragem refletida no perfil azeviche também inspirou a valorização dos tecidos usados nos blocos, antes depreciados ao serem chamados de ‘pano de broco’.

“Queríamos que a estética fosse um trampolim, pela linguagem, de status. Não só de beleza e bem-estar, mas de afirmação social e política”, frisou artista, que conseguiu, junto ao Ilê, êxito no que pretendia.

O Correio Folia tem apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo