O que o Tiktok quer com o Carnaval de Salvador

Entenda os planos da rede social para a folia e decidiu criar bloco em meio a dificuldades dessas agremiações

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  • Fernanda Santana

Publicado em 10 de fevereiro de 2024 às 05:00

TikTok
TikTok Crédito: Shutterstock

Logo quando a pandemia da covid-19 chegava ao fim, chefes do TikTok se reuniram, em São Paulo, para pensar como conectar a plataforma e o público, fora da tela. Pensaram que uma ação no carnaval, pelo tamanho da festa, seria “A” escolha, e o nome de Salvador surgiu.

Só que a ideia não era criar um bloco de dancinhas — aquelas que alavancaram a rede social mundialmente.

“Sem dúvidas, o bloco do TikTok em Salvador é um bloco de axé”, disse Gabriel Simas, líder de marketing de categorias e criadores da rede social na América Latina, “as pessoas tem essas percepções do TikTok como a rede das dancinhas. Mas nem sei se a dancinha têm esse lugar”.

A estreia da rede social na folia baiana aconteceu no carnaval do ano passado, com um trio elétrico próprio, que percorreu o circuito Barra-Ondina. Os anfitriões foram a Timbalada e Luísa Sonza.

Os passinhos virais — ladinhos, beijinhos e sentadinhas —tomaram a avenida.

Para este carnaval, o TikTok continua na Barra-Ondina e manteve o acesso gratuito ao bloco, mas decidiu mudar a estratégia. Juntou-se ao bloco baiano Nuoutro, criado em 2007, e destacou no trio de atrações da música baiana.

Os comandantes da saída na última sexta-feira (8) foram a Banda Eva e a novata DiDengo, com É O Tchan como um dos convidados. O outro artista chamado é Xand Avião.

“[Ele] Não é baiano, mas tem uma força grande lá. A gente quer se conectar com o local. Não chegar só como um bloco de marca, mas se conectar, ver quem são os artistas locais. Para a a gente, não é um bloco só para dançar, mas o que as pessoas quiserem dele”, justificou Simas.

A escolha por investir no Carnaval de Salvador acompanha os planos da plataforma na Bahia. Hoje, segundo ele, o estado “é uma prioridade para a gente”. A empresa, no entanto, só compartilha um dado de acesso: possui um bilhão de usuários mensais — o planeta tem 8 bilhões de habitantes.

O bloco da rede social— o primeiro do tipo - completa o segundo ano na folia baiana em um momento em que órgãos públicos e empresários de blocos tentam encontrar um meio termo na festa.

Segundo o Conselho Municipal do Carnaval de Salvador (Comcar), colocar um bloco na rua custa até R$ 8 milhões.

“A Bahia é um estado para o qual olhamos com muito carinho, não só pela cultura, mas pelo impacto. Sempre foi cool, mas está vivendo uma onda extra de visibilidade, e se pudermos continuar com isso, vamos ser parceiros”, explicou, a um dia de desembarcar na capital baiana.

O carnaval, como ele confirma, gera números de acesso. Mesmo durante a pandemia, trancados (ou nem tanto) em casa, os usuários reproduziam dancinhas novas e antigas de axé e pagode.

No retorno da festa, o consumo de vídeos sobre o Carnaval no Tiktok cresceu 205% em relação a 2022.

Depois da experiência em Salvador, o Tiktok decidiu investir, neste ano, também nos carnavais de São Paulo e Rio de Janeiro.

O dedo do Tiktok está também em outra ponta do Carnaval — as músicas.

Como o TikTok tem mudado a cara das músicas

Macetando: ladinho, coraçãozinha, beijinho...

Perna Bamba: ladinho, jogar, malvada…

Se você é assíduo nos virais do Tiktok (um Tiktoker), sabe o que fazer ao ouvir essas palavras. Se não, ainda assim é possível que tenha aprendido osmose.

As duas músicas acima — respectivamente de Ivete Sangalo e de Léo Santana com Tony Salles - concorrem diretamente ao título de música do Carnaval.

Mas também têm outra semelhança: o vocabulário das dancinhas do TikTok.

Em 2023, uma pesquisa encomedada pelo Tiktok, com dados de usuários da rede social em sete países (entre eles o Brasil), confirmou que a rede social impulsiona a descoberta de novas músicas.

Os compositores, que já percebiam o alcance da rede social, incluíram ainda mais vocabulários comuns na plataforma no repertório musical.

O propósito é que música gere dança, apareça em vídeo, gere engajamento, e, portanto, consumo.

“Nós conversamos muito [com agentes da música]. Eu acho que cada dia mais reforçamos nossa responsabilidade na indústria da música e do entretenimento”, conta Gabriel Simas.

Para produzir um vídeo viral no tiktok, no entanto, não é preciso ser PhD na rede.

“São as pessoas que decidem o que é viral. Viral parece um bicho de sete cabeças. O segredo é você estar conectado ao que o público esta querendo”, diz Gabriel.

É botar o vídeo no mundo e ver se ele se espalha. Mas se quiser uma ajuda: na última semana, as músicas Macetando e Pi Po Po Po Ro Po, e #ARealDoCarnaval estão em alta. 

O Correio Folia tem apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador.