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Maysa Polcri
Larissa Almeida
Publicado em 10 de fevereiro de 2024 às 05:00
Os cinquenta anos a serem completados pelo Ilê Aiyê neste Carnaval de 2024 marcam não apenas a data da sua fundação enquanto entidade, como também registram na história a abertura de uma era na qual a participação dos blocos afro e, posteriormente, afoxés na folia momesca passaram a ter vez. Mas, muito além do Ilê, que inegavelmente abriu os caminhos e foi farol, outras agremiações do tipo desfilam há anos com pequena quantidade de associados e com pouco ou nenhum patrocínio de instituições privadas. Em comum entre elas, está a manutenção das tradições religiosas, a resistência na luta por espaço, culto à ancestralidade e a mistura de ritmos que se encontram na percussão e no atabaque.
A produtora cultural Cris Santana acompanha de perto a participação dos blocos afro e afoxé no Carnaval de Salvador. Em 2014, ela criou o Projeto Samba Vivo, central de vendas de blocos de matriz africana, com o intuito de projetar a visibilidade das agremiações. “Apesar dos incentivos públicos, os blocos ainda enfrentam dificuldades, especialmente os menores. Estímulos e divulgação são necessários para que mais pessoas conheçam a importância deles”, diz.
O CORREIO reuniu abaixo cinco blocos afros que você precisa conhecer sob risco de se encantar com a história e querer acompanhar a programação neste Carnaval. Confira abaixo:
Bloco Quero Ver o Momo
Um dos ritmos brasileiros mais tradicionais, o samba, ganha espaço na folia de Salvador. O bloco Quero Ver o Momo foi criado na década de 80 na Federação. Neste ano, a agremiação vai relembrar os antigos carnavais, com marchinhas, escolas de samba e batucadas. O bloco desfilará no Centro Histórico com seis alas culturais e instrumentos de sopro e percussão.
Quando: Domingo (11), às 17 horas
Onde: Circuito Batatinha (Pelourinho) - a concentração será na Rua das Laranjeiras
Valor: R$60
Bloco Afro Mangangá Capoeira
O primeiro bloco de capoeira do mundo foi criado em 2011 pelo compositor e mestre de capoeira Tonho Matéria. A agremiação leva para as ruas de Salvador, em pleno Carnaval, a diversidade de ritmos afro-brasileiros e a interação com a prática ancestral que mistura luta e dança. Integrado à Associação Sociocultural e de Capoeira Mangangá, o bloco foi criado com o objetivo de fortalecer ações comunitárias.
“A iniciativa começou para resgatar jovens das periferias de Salvador para participarem da cena cultural da cidade e tivemos resultados positivos desde então. Foram mais de 40 jovens que entraram na universidade depois de participarem do projeto”, diz Tonho Matéria. Em média, 600 pessoas desfilam no bloco do Carnaval.
Quando: Segunda (12), às 16 horas
Onde: Circuito Batatinha (Pelourinho)
Valor: R$60
Bloco Ibéji
Bloco afro-infantil, o Ibéji nasceu em agosto de 1993 após um grupo de amigos composto por empresários e sociólogos, que contavam como nomes como Lúcia da França, Cândida Sampaio e Magali Tude, se reunirem com o objetivo de realizar o sonho de crianças em situação de vulnerabilidade social que admiravam a folia. Com 30 anos de trajetória, o bloco atualmente conta com 1,5 mil associados, que embelezam o Circuito Osmar (Campo Grande) no Sábado e Domingo de Carnaval cantando e tocando músicas do afro-pop, inspiradas em artistas como Margareth Menezes e Jau.
A origem do nome Ibéji vem do iorubá. De acordo com a filha da fundadora Lúcia da França e atual presidente da agremiação Marta Santana, de 43 anos, assim como no sincretismo católico estão presentes as figuras de Cosme e Damião, Ibéji seria o orixá da entidade gêmea no candomblé. A mescla de referências culturais é um dos princípios norteadores do bloco.
“O objetivo do bloco é trazer uma mostra cultural, mostrar africanidades e trazer a ancestralidade para as ruas com o intuito de mostrarmos toda a nossa potência, fazendo com que as pessoas valorizem sua raça, cor e cultura. Também é nosso objetivo enaltecer as crianças para que ela vá para a rua feliz, sabendo que tem um bloco que é dela, onde pode se sentir à vontade”, afirma Marta.
Neste ano, o bloco tem como tema “A Chama do Rei”, em homenagem a Xangô, orixá da justiça. A preparação para os dois dias desfiles, contudo, duram o ano todo. Isso porque o Ibéji vai além do Carnaval e possui uma sede social no bairro de Matatu, em Salvador, onde oferece aulas de dança. Anualmente, também ocorre a eleição do Rei Mominho, Rei Afro Mirim e a Rainha Mirim. Ainda, há investimento na banda Ibéji, que é responsável pelo repertório que embala as coreografias das baianas da ala de dança.
Quando: Sábado (10) e domingo (11)
Onde: Circuito Osmar (Campo Grande)
Horário: 11h (ambos os dias)
Valor no sábado: leite em pó em troca da bata (fantasia)
Valor no domingo: R$90 (fantasia adulta + fantasia infantil) e R$120 (fantasia família para dois adultos e uma criança)
Afoxé Obá de Xangô
A afro-percussão do Afoxé Obá de Xangô é voltada para os cânticos e danças de axé. Tendo como uma de suas propostas a criação de um afoxé que se distancia das músicas de candomblé para se aproximar dos ritmos do axé music, o bloco foi fundado no dia 12 de julho de 2010 pelo agitador cultural Valdir Teixeira, de 61 anos.
A história do Afoxé Obá de Xangô nasceu em um caruru na casa de Cici, moradora da Baixa de Quintas. Foi lá que Valdir foi colocado em um grupo musicial e eleito presidente pelo seu conhecimento cultural e ancestral. O nome do bloco, inclusive, que significa ‘Olhos de Xangô’, se refere ao papel desempenhado por Valdir enquanto filho do orixá e responsável por uma casa de santo com sua regência.
Neste ano, o Carnaval da agremiação tem como tema “Da Matriz Africana ao Carnaval de Salvador”, que faz homenagem ao candomblé na folia. Na ocasião, são esperados de 350 a 400 associados para acompanhar o desfile que sai da Rua das Laranjeiras, no Pelourinho, rumo à Avenida Sete. “Nosso tema esse ano é muito bonito. Brigamos muito por ele e agora que nos deixaram respirar. Vamos falar de todo o candomblé dentro do Carnaval, então temos que mostrar tudo que nós temos de bom e bonito, toda nossa simplicidade. Também falar das nossas ervas, nossos orixás, nossas mães, nossos pais, as pessoas que nos criaram e nossos ancestrais”, detalha Valdir.
Quando: Terça-feira (13)
Onde: Circuito Osmar – Contrafluxo (Pelourinho - Campo Grande - Pelourinho)
Horário: 19h
Valor: Gratuito
Afoxé Filhos de Korin Efan
O Afoxé Filhos de Korin Efan nasceu em 1992, sendo chamado incialmente de Afoxé Korin-Efan, que em iorubá significa Korin "cântico" e Efan "Terra de ljexá". Foi refundado em 25 de maio de 2002 por Erenilton Bispo dos Santos, mais antigo ogã alabê de Salvador, isto é, pessoa adepta do candomblé que tem como atribuição principal assumir os atabaques e entoar os cânticos sagrados nos idiomas originais das nações angola, ketu, jêeja e ijexá.
Ex-diretor e cantor dos Filhos de Gandhy, Erenilton idealizou o bloco para promover a participação de mulheres junto aos homens, o que não ocorria no Gandhy por ser um afoxé composto exclusivamente por homens. Desde sua refundação, a agremiação também conta com atuações sociais, desenvolvendo projetos de toque ijexá, oficina de dança afro, oficina de sabão, empreendedorismo negro, atendimento a mulheres solos. Também são feitos ensaios e participações em cortejos culturais.
Em 2024, o afoxé desfila no Sábado de Carnaval com o tema “Odoyá! Rainha das Águas Sagradas”, em homenagem a Iemanjá. Segundo Elisângela Silva, filha de Erenilton e atual presidente do bloco, o desfile terá foco na alegria e na tradição. “O objetivo é levar alegria para nossos foliões, que em sua grande maioria são pessoas de axé, mas também levar todo trabalhado social e cultural que desenvolvemos ao longo do ano para a avenida, [com o intuito de] manter nossas tradições nesse importante espaço de visibilidade, que é o Carnaval de Salvador”, frisa.
Quando: Sábado (10)
Onde: Circuito Osmar – Contrafluxo (Pelourinho - Campo Grande - Pelourinho)
Horário: 14h
Valor: 5kg de alimento por uma fantasia
O Correio Folia tem apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro