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Larissa Almeida
Publicado em 9 de fevereiro de 2024 às 22:57
Um repertório cheio de reverências para as artistas e pensadoras negras que marcaram sua trajetória foi montado pela cantora Larissa Luz no Largo do Pelourinho, palco que recebeu o show da artista na noite de abertura oficial do Carnaval do Centro Histórico, nesta sexta-feira (9). De Leci Brandão a Beyoncé, a ideia da homenagem a essas mulheres surgiu a partir dos planos da cantora para o Carnaval, ocasião em que ela se comprometeu em fazer recortes da cultura e música afrodiaspórica em suas apresentações.
“Eu achei que seria uma boa fazer essa homenagem porque as mulheres pretas estão na base do sistema. São elas que têm os piores salários, são as que mais sofrem na hora de escolherem e serem escolhidas em termos de amor e relacionamento. Sofremos com muitas questões porque, além do racismo, sofremos com o machismo também. Trazer à tona a história dessas mulheres é, de certa forma, contestar isso. É dizer para o sistema que nós somos responsáveis por muitas coisas que se movem dentro da história desse país e que precisamos e merecemos ser ovacionadas, vistas, ter melhores direitos e condições”, destacou Larissa.
Em cima do palco, a execução da ideia proposta pela cantora de imediato deu liga com o público. Após cerca de uma hora de atraso, às 18h55 Larissa começou o show falando de afeto e exaltação da beleza negra através da música ‘Afrodate (Dreadlove)’, que integra o repertório do seu álbum mais recente. Em seguida, outra canção do álbum Deusa Dulov (Vol.1), ‘Cupido’, colocou o público para cantar a plenos pulmões, mas sem também deixar de se mover.
Quando os foliões já estavam acostumados aos ritmos do repertório autoral de Larissa, o show se tornou outro. A voz da artista cedeu espaço para a voz da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), o que chamou a atenção do público, que ouviu atentamente a um recente pronunciamento da parlamentar – que viralizou nas redes sociais com os dizeres ‘não tolerarei’. Tão logo a mensagem de respeito às minorias sociais foi reproduzida, ‘Zé do Caroço’, de Leci Brandão, fez com que o Largo do Pelourinho fosse invadido por um coro de vozes alinhadas.
O samba, tão bem-vindo se a reação do público fosse algum indicativo, ainda teve mais espaço no show. No momento em que a cantora Larissa Luz fazia homenagem a Dona Ivone Lara ao cantar 'Alguém Me Avisou', a fotógrafa Janice Cunha, 52 anos, se viu à vontade para exibir toda sua expertise com o samba de roda.
"Eu acho que tenho todo esse samba no pé porque sou de Santo Amaro e tenho samba nas cadeiras. Eu estou livre aqui. Danço à vontade no Carnaval do Pelourinho, que eu adoro, e é um lugar poético para o Carnaval. É como o quintal da minha casa", disse.
Para além do interesse em samba de roda, Janice estava lá motivada pela arte de Larissa Luz. "Eu a amo politicamente, como cantora e mulher preta, pela representatividade. Tudo que ela faz, para mim, é lindo", declarou.
Pela primeira vez assistindo a um show da artista, a filósofa Regiane Viana, 29 anos, ficou no limite máximo entre o palco e a plateia para ter a oportunidade de ver de perto a performance de Larissa. “Eu a conheço como uma grande profissional que está crescendo muito. Eu espero que ela se expanda, porque ela é realmente muita luz”, falou.
Ainda em cima do palco, a cantora pausou para agradecer a energia do público. Depois, deu continuidade à apresentação misturando pop, R&B e samba ao mesclar ‘Break My Soul', de Beyoncé, com 'Vou Festejar'’, de Beth Carvalho. No repertório de homenagens, houve ainda espaço para uma interpretação personalizada de ‘Feeling Good’, de Nina Simone.
Ao fim do show, o arte educador Lucas Santana, 30 anos, que foi ao Pelourinho só para ver a apresentação de Larissa, exaltou a homenagem feita às mulheres negras. “Eu achei perfeito. É muito importante o Carnaval, que é uma festa de música preta, reforçar e ressaltar a nossa ancestralidade”, elogiou.
Quem ainda quer curtir Larissa Luz no Carnaval de Salvador 2024 terá oportunidade de assisti-la na segunda-feira (12), no Palco Rio Vermelho; no domingo (11), quando haverá a segunda edição de “Donas do Som”, projeto da cantora com a produtora Fernanda Bezerra; e na terça-feira (13), no Largo da Tieta (Pelourinho), quando a artista divide o palco com o Ministereo Público em um show de reggae que finaliza sua participação na folia deste ano.
*O Correio Folia tem apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador