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Gil Santos
Publicado em 5 de fevereiro de 2024 às 00:16
Eles foram a última atração do Furdunço, o que deixou alguns fãs indignados, mas, mesmo assim, a multidão não arredou o pé. A passagem da BaianaSystem pelo circuito Orlando Tapajós arrastou um mar de gente, sem cordas, ontem, na Barra. São dez anos de Furdunço e há dez anos a banda baiana participa da festa. O público chegou cedo, vestiu camisetas e máscaras com a identidade visual do grupo, e cantou em coro os sucessos, dentro e fora da roda. A frase mais ouvida foi “é só amor!”.
Nessa última década, período em que a BaianaSystem se apresentou no Fundunço, muita coisa mudou. A festa ficou maior e o grupo foi de uma banda local para se tornar uma referência nacional. Eles se apresentaram em festivais nacionais e internacionais, emplacaram hits e ganharam prêmios, mas os fãs garantem que duas coisas não mudaram: a qualidade artística e a essência da banda.
A primeira vez em que a pedagoga Michele Silva, 30 anos, assistiu a um show da BaianaSystem foi em 2016, no Furdunço. Ela conta que até aquele momento não conhecia Russo Passapusso e sua turma, mas que gostou tanto do som que resolveu seguir o Navio Pirata, o trio elétrico da banda. A batida da percussão, as canções que falam sobre política, críticas sociais, comportamento e representatividade ganharam o coração da educadora.
“Quando dei por mim já estava perto do Farol como se tudo que eu precisasse era estar com aquela galera cantando bem alto, pulando e no final dizendo: é só amor. Não tenho uma explicação, de fato é só amor que sinto pela Baiana. Eles conseguem gerar um mix de sentimentos e fico feliz de pertencer a esse público, visto como doido, mas que emana uma energia boa retada pela mistura de ritmos essencialmente do povo preto”, disse.
Durante o desfile, a multidão cantou e dançou sucessos como Lucro, Forasteiro e Saci, o clipe desta última canção inclusive foi indicado ao Grammy 2020 junto com a faixa Libertação, uma parceria com Elza Soares. Em 2019, a BaianaSystem já tinha ganhado um Grammy Latino pelo álbum O Futuro Não Demora.
As primeiras notas da faixa Reza Forte, ainda na concentração, já transformou o local na maior pipoca da noite. Russo Passapusso agradeceu pela presença do público e incentivou a participação dos fãs. “Eu gostei. É desse jeito que a gente vai até o final. Para quem está mais na frente e não entendeu, diz ‘é só amor’. Preto protege preto e preta protege preta”, afirmou.
Outro sucesso que levou o público ao delírio foi Sulamericano, tema de abertura da telenovela Um Lugar ao Sol (Rede Globo), em 2021. A fotógrafa Vanessa Ramos, 34 anos, acompanha o grupo desde o início. Ela contou que tem por hábito escolher um local no Carnaval e ficar assistindo à passagem dos trios elétricos, mas que é tomada por uma emoção diferente quando a BaianaSystem passa e segue atrás do bloco.
“Eu sou fã porque gosto muito do tipo do som que eles fazem. Desde quando conheci, no primeiro álbum, era um som diferente dos que já tinha ouvido. O posicionamento deles também, em defender sons regionais e ao mesmo tempo fazer uma mistura super autoral, foi outro ponto que me fez ser fã. E fora isso, a energia deles no Carnaval é outro nível”, falou Vanessa.
O grupo BaianaSystem surgiu em 2009, com o objetivo de encontrar novas possibilidades sonoras para a guitarra baiana, instrumento criado em Salvador, nos anos 1940, e que foi responsável pelo surgimento do trio elétrico. Segundo a banda, o nome vem da junção de guitarra baiana com sound system, que são sistemas de som criados e popularizados na Jamaica.
Foram cinco álbuns lançados até o momento e turnês internacionais pela Europa, Estados Unidos, Japão e China, além de participações em festivais como Rock in Rio, Lollapalooza, João Rock, New Orleans Jazz & Heritage Festival, Fuji Rock, Roskilde Festival entre outros.
Para quem perdeu a passagem da banda pelo Furdunço, a próxima apresentação será na abertura do Carnaval, na quinta-feira (8). A BaianaSystem, Carlinhos Brown, Ivete Sangalo e Ilê Aiyê vão abrir oficialmente a folia de Momo, na Praça Castro Alves, e subir a Rua Carlos Gomes, sem corda, até as imediações da Casa D’Itália, no Campo Grande. A festa começa 16h e será transmita ao vivo pela Globo.