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Maysa Polcri
Publicado em 14 de fevereiro de 2024 às 05:00
Ela distribui irreverência em cima do palco, no trio elétrico e na televisão. Faz sucesso do axé music até as dancinhas que viralizam na internet. Se existirem problemas de organização na maior festa de rua do planeta, ela não tem medo de gerenciar a crise e nem de macetar o apocalipse. É fácil saber de quem estamos falando. Ivete Sangalo celebrou 30 anos de carreira neste ano e se mantém como uma das maiores artistas do Brasil. Sua aposta de música para o Carnaval, Macetando, se consolidou como hit durante as milhares de repetições da coreografia nos circuitos.
A capacidade de reinvenção da cantora, que começou como vocalista da Banda Eva nos anos 90, ajuda a explicar o sucesso perene. Ivete Sangalo aposta em feats com artistas de diversos gêneros musicais. Até o sucesso do Carnaval é fruto da parceria com Ludmilla, cantora de funk e pagode. A ‘coreografia TikTok’ da música ajudou na divulgação e caiu no gosto do público, especialmente das novas gerações. No final de semana de Carnaval, Macetando se manteve no topo das músicas mais ouvidas no Spotify - maior plataforma de streaming desse segmento.
Na abertura histórica do Carnaval de Salvador, na Praça Castro Alves, Ivete levou Anitta para cima do trio elétrico e as artistas se apresentaram juntas. No Bloco Coruja, foi a vez de Marina Sena, Gloria Groove e Juliette animarem o público. Para o professor Armando Castro, pesquisador da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFBR), que estuda cadeia produtiva da música, o gênero pop é essencial para entender a combinação de ritmos.
“Ivete é uma artista do universo pop, e este tem uma natureza camaleônica e antropofágica. O axé, em sua fusão de gêneros, também é pop. A manutenção do sucesso de Ivete é resultado do seu carisma, de repertório, comunicação com o mundo e presença midiática impressionante”, explica. Contratada pela Rede Globo, Ivete está no ar com o programa The Masked Singer Brasil desde 2021.
Quando questionada sobre sua elasticidade musical, Ivete Sangalo justifica que o sucesso é fruto da conexão com o público. “A palavra que vem à cabeça não é planejamento. Na verdade, vocês falam que eu me reinvento, mas quem faz isso é o público [...] Ele que me coloca em lugares de emoção que me fazem refletir”, disse através de sua assessoria de imprensa.
E foi justamente o público fiel que acompanhou a cantora nos cinco dias de apresentação nos principais circuitos de Salvador. Seja no bloco ou na pipoca, os fãs não se abalaram com os problemas enfrentados por Ivete e demonstraram apoio à artista, formando uma multidão que acompanhou o trio sem cordas no Circuito Osmar, na terça-feira (13). No dia anterior, um vazamento de gás no trio de Ivete provocou transtornos e deixou dois feridos. As três horas de atraso, por conta de problemas no circuito, chatearam os foliões no sábado (10).
Ivete Sangalo
CantoraIvete Sangalo mostrou que a capacidade de reinvenção não é exclusividade da música. A cantora esbanjou resiliência na última apresentação no Carnaval de Salvador, para alegria dos seguidores que acompanharam a pipoca. “Último dia com cara de primeiro porque eu estou com fogo no corpo”, disse antes de iniciar o desfile com a música na ‘Rua da Saudade’. Na avenida, um público feliz e ansioso para viver o último dia de Veveta na folia soteropolitana.
Animado com a pipoca, o funcionário público Paulo Vitor Braga, 36 anos, não escondeu a felicidade de viver esse momento. “Ivete Sangalo é o nome do Carnaval, é o nome da Bahia. Ela é o nosso ícone e agita toda a galera”, afirmou. Outro que chamou atenção foi o estilista Maurício Marques, 35, que vestia uma roupa montada com as capas dos 36 discos da artista baiana.
Apesar das inúmeras versões que compõem a artista, o axé music continua presente em seu DNA e nas apresentações. “Ivete não perdeu a conexão com axé, com a música baiana, em todas as suas possibilidades sonoras, incluindo o pagode”, diz o professor Armando Castro. Fãs que acompanham o bloco da cantora há anos até concordam que a mistura de gêneros musicais é essencial para a manutenção do sucesso, mas a raiz na baianidade ainda é essencial para compreender o símbolo que Ivete se tornou.
“Se o bloco fosse só dancinha, eu não viria. Esses momentos são importantes, sei disso, mas o forte ainda é o axé e é isso que me faz vir”, diz Juan Ícaro Silva, 32. O turista de Recife desfilou no Bloco Coruja pela sexta vez neste Carnaval. Verônica Teixeira, de 50 anos, veio de ainda mais longe para Salvador. A paulista mora em Orlando, nos Estados Unidos, e trouxe o filho de 19 anos para conhecer a folia baiana. “Ela é uma artista que abraça todas as gerações”, ressalta.
Há quem acredite que a renovação de Ivete Sangalo também é resultado das vivências pessoais da artista. Aos 51 anos, a cantora celebrou o aniversário das gêmeas Marina e Helena, que completaram 6 anos no sábado de Carnaval (10). Ivete também é mãe de Marcelo, 14, que toca percussão na banda da mãe.
“Eu vejo em Ivete a revolução das mulheres maduras, que não carregam consigo o peso da idade, muito pelo contrário. Me parece que ela se reinventou ainda mais agora que as filhas cresceram. Ela não quer manter só o público antigo, mas também encanta as novas gerações”, analisa a fã Kênia Batista dos Reis. Aos 50 anos, a seguidora viajou de Brasília para acompanhar o bloco da cantora em Salvador. Após os dias de folia, a sensação que fica é que pouco importa o próximo sucesso, uma multidão estará em Salvador para acompanhar Ivete em mais um Carnaval.
*Colaboração de Millena Marques.
O Correio Folia tem apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador.