'Depois de Saulo, o Carnaval pode acabar': o que faz a pipoca do cantor tão especial?

Saulo Fernandes puxará segundo trio sem cordas na terça-feira (13), no Campo Grande

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  • Maysa Polcri

Publicado em 10 de fevereiro de 2024 às 05:30

Saulo puxará duas pipocas no Carnaval deste ano
Saulo puxará duas pipocas no Carnaval deste ano Crédito: Marina Silva/CORREIO

Ariane, 35, viajou 12 horas para acompanhar a apresentação de Saulo Fernandes. Jocileide, 41, levou a filha, na época com 1 ano de idade, para a pipoca do cantor pela primeira vez. Já Ana, comemorou os 50 anos no trio sem cordas mais colorido da folia baiana. Para os seguidores fiéis, Carnaval é sinônimo de Saulo e a pipoca vale mais do que qualquer camarote ou abadá. A maior prova disso foi a multidão que levou alegria para o Circuito Osmar em meio a chuva que atingia Salvador, na tarde de sexta-feira (9).

Mas o que torna o momento tão especial para os baianos e turistas? Para entender o que tem de diferente na pipoca de Saulo, a reportagem acompanhou de perto o trio sem cordas que deu início ao segundo dia da folia na capital baiana. Logo de cara, já dava para notar a presença de famílias inteiras e crianças, que aguardavam o início da apresentação sob forte chuva no entorno da Praça Campo Grande.

Há exatos dez anos, o cantor desfilou com sua pipoca em carreira solo pela primeira vez. Foi em 2014 também que Jocileide Carvalho levou a filha, com 1 ano, para a avenida. “Eu trouxe ela para ficarmos no cantinho e eu tenho certeza que ela se encantou naquele momento. Foi crescendo e virou fã, pedindo para comprar os CDs e até hoje a gente vem curtir juntas”, disse a mãe. A filha, Julia, ao lado, aguardava ansiosa por mais uma pipoca do artista favorito.

A atração sem cordas é oportunidade para que pais e mães levem os filhos menores para conhecer a folia. “É um ambiente muito tranquilo. Ficamos na muvuca, mas todo mundo se respeita”, completou Jocileide. Do outro lado do trio, Cintia Ramos não desgrudava dos dois filhos pequenos, de 8 e 11 anos. Protegidos por capas de chuva, as crianças não se abalam com os pingos e se divertiam na pipoca. Raiz de Todo Bem e Pequena Eva foram alguns dos momentos que mais animaram os fãs, que também abriram rodas durante o percurso.

Outro fator que diferencia a atração sem cordas em meio à programação extensa da folia soteropolitana é a inclusão. De cima do trio e ao lado de Saulo, intérpretes de libra garantiam a comunicação com pessoas surdas. Já no chão, o Bloco da Mari marcou presença em mais um ano de Carnaval. A designer Mari Fuso utiliza cadeira de rodas e é figurinha carimbada nas apresentações do artista. Dessa vez, o bloco paralelo tinha a presença de 13 pessoas, entre amigos e familiares.

Para sentir de perto a energia da pipoca, Ariane Andrade, 35, enfrentou 12 horas de viagem com os pais e o marido. A família, que mora em Caruaru (PE), não perde um Carnaval de Salvador por conta do artista. “Depois de Saulo, o Carnaval pode acabar para mim. Aqui tudo é diferente, a pipoca tem gentileza e amor”, falou Ariane. A fã, inclusive, entrou no altar para se casar com o marido João Paulo ao som de Tão Sonhada, música do cantor baiano.

O companheiro não era chegado em Carnaval, mas, ao vivenciar o trio sem cordas pela primeira vez, se apaixonou. “Nós só vamos embora na semana que vem porque não podemos perder a próxima pipoca”, completou Ariane. O cantor puxará outro trio sem cordas, novamente no Campo Grande, na terça-feira (13). Ele será o oitavo a se apresentar, depois de atrações como Ivete Sangalo e Durval Lélys, que também terão trios sem cordas.

A terça-feira de Carnaval do ano passado foi marcada por transtornos na pipoca de Saulo. No último dia da folia, o Circuito Osmar ficou pequeno para a quantidade de pessoas que se aglomeraram para seguir o trio. O cantor chegou a publicar um pedido de desculpas em uma rede social e disse que repensaria o formato da apresentação.

Felizmente, na primeira pipoca deste ano, não houveram grandes problemas. É provável que a chuva tenha causado receio nos foliões que preferiram ficar em casa. Os que não deixaram a programação de lado, no entanto, clamaram para que a apresentação tivesse início logo. “Bota ‘pra’ torar, Saulão”, pediu um folião, que estava encharcado. Pouco antes das 13 horas, o show teve início, com cerca de uma hora de atraso. Até pedido de casamento rolou no meio da multidão, como mostra um vídeo que circula nas redes sociais.

Se a pipoca de Saulo exala energia de paz e alegria, é porque o cantor emana a mesma vibração. “Estavam com medo da pipoca no sol do meio-dia, mas veio a chuva. É para lavar a alma”, falou o cantor, que também pediu para que os fãs orassem antes da largada do trio. Alguns fecharam os olhos e fizeram rezas próprias. Outra marca da apresentação é a interação com o público. “Como é seu nome? Diego? Um beijo, Diego! Eu também te amo”, saudou o cantor. A frase foi repetida algumas vezes durante o circuito.

Saulo arrasta pipoca no Circuito Osmar
Saulo arrasta pipoca no Circuito Osmar Crédito: Marina Silva/CORREIO

Saulo ainda celebrou o Centro Histórico, que volta a ser protagonista da folia baiana após incentivos da Prefeitura de Salvador. O cantor ainda ironizou o Circuito Dodô, apesar de ter uma apresentação marcada em um camarote em Ondina, no sábado (10). “Muita gente me pergunta sobre a Barra mas, namoral, esse é o verdadeiro Carnaval. Eu não tenho mais idade para fazer Carnaval gourmet, meus senhores. Ou é raiz ou não é”, bradou o artista que foi prontamente aplaudido pelo público. A verdade é que não importa o endereço e a previsão do tempo, onde o trio estiver, a pipoca fiel estará atrás.

O Correio Folia tem apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador.