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De Psirico, Larissa Luz e Vandal ao carnaval londrino: Trio Afropunk leva mistura de ritmos para a folia

No primeiro dia do Carnaval de 2024, trio promoveu encontro de artistas da cena musical baiana com integrantes do Carnaval de Notting Hill

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 9 de fevereiro de 2024 às 01:05

null Crédito: Nara Gentil/CORREIO

Um trio imponente estacionado a poucos metros de distância do Porto da Barra despertava a curiosidade de quem passava por perto no início da noite desta quinta-feira (8). Mas, logo que a palavra ‘Afropunk’ acendeu no telão de led acoplado ao caminhão, a curiosidade deu lugar ao interesse e sensação de pertencimento de centenas de foliões, que passaram a se acomodar ao lado do trio.

Previsto para sair às 20h, o Trio do Afropunk deu início à sua folia quatro minutos antes. Márcio Victor, no comando do Psirico, foi o primeiro cantor a se apresentar para o público tendo apoio das percussões londrinas de artistas do Carnaval de Notting Hill, festa carnavalesca que ocorre na Inglaterra, tem influência afro-caribenha e, pela primeira vez, se misturou ao Carnaval de Salvador.

Antes de dar início à apresentação, o cantor havia antecipado, em entrevista ao CORREIO, que faria um repertório diverso, mas bem ligado aos seus antigos sucessos. "Eu vou me lembrar do primeiro show do Psirico hoje, vou lá para o fundo do baú pegar a raiz mesmo. Mas claro que não pode faltar o samba de roda. Aí eu começo a cantar samba de roda e o pessoal [pergunta] 'Márcio, cadê a Música do Carnaval?'. Aí eu vou lá meter 'Lepo Lepo', 'Toda Boa', levantando a autoestima do meu povo preto, cantando Ilê Aiyê que está fazendo aniversário e Gandhy, porque essas musicas tambem são músicas de Carnaval", disse.

A primeira música cantada por Psirico foi ‘Música do Carnaval’, hit que é a aposta da banda para concorrer às premiações da festa carnavalesca. Mas, conforme havia afirmado, logo as músicas antigas como ‘Toda Boa’, ‘Mulher Brasileira’ e ‘Firme e Forte’ foram entoadas na voz de Márcio Victor. Ainda no início do percurso, ele também fez questão de chamar o artista Vandal, que trouxe para o público a mistura de gêneros, como o grime e o drill, mas músicas ‘Bala e Fogo’ e ‘Certo Pelo Certo’, sendo esta última fruto da sua parceria com Baiana System.

Na pipoca, a psicóloga Laiza Gama, 28 anos, que foi sozinha para o Circuito Dodô com o intuito de acompanhar exclusivamente o Trio do Afropunk, pulava e dançava com a paleta de cores do evento, e também usava uma bandana da festa. Ela contou que estava ansiosa para experimentar o Afropunk no Carnaval. "Eu vim curtir Vandal, que é o melhor rap da Bahia e do Brasil. Também vim ver Psirico, que é do povão e bom demais. Afropunk é identidade, representatividade e isso aqui é o povo preto na rua do jeito que sempre existiu", disse.

A cantora Larissa Luz levou para a folia o projeto de circulação Atlânticarnaval, que apresentou um repertório voltado para a música afrodiaspórica. O trio ainda contou com a multiartista Lunna Montty, que foi apresentada por Beyoncé no Club Renaissance, e ficou responsável por levar para as ruas de Salvador, mais precisamente para o espaço entre as cordas de apoio do trio, a dança que conquistou a cantora estadunidense.

Quem via de longe, chegava a confundir a festa de rua com um festival. Isso porque, além dos passos coreografados performados pelos bailarinos, o público fazia seu próprio show à parte. Em sua maioria negros, vestidos com fantasias e apostando no brilho, quem ia atrás do Trio do Afropunk buscava mais do que a mera curtição musical. Esse foi o caso da estudante de Medicina Tairana Feitoza, 30 anos, que usava um vestido prateado e havia investido na coloração da maquiagem.

“Toda vez que eu vejo o Afropunk, eu vejo muito brilho, muita presença de estilo, então eu apostei nisso e em muita cor no rosto. Eu quis pegar a referência de como a galera se veste, porque é um festival com esse viés estético”, afirmou.

Além da estética, havia a busca pelo pertencimento. Usando a bandana que identifica o festival, o biológo Aeliton Cerqueira, 33 anos, ressaltou a importância de parte de uma festa feita para o povo negro integrar a maior festa de rua do mundo. “Só faltava chegar no Carnaval. A valorização de um festival de cultura negra não tinha lugar melhor para servir representatividade do aqui. Não basta o festival em novembro, é preciso ocupar mais espaços e datas comemorativas dentro da capital mais negra do Brasil”, finalizou.

*O Correio Folia tem apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador