Acesse sua conta

Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google

Alterar senha

Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.

Recuperar senha

Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre

Alterar senha

Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.

Dados não encontrados!

Você ainda não é nosso assinante!

Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *

ASSINE

Vacina contra dengue: quais são as reações esperadas? Médico tira principais dúvidas

Conversamos com o médico Eduardo Jorge da Fonseca Lima, representante da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM)

  • Foto do(a) author(a) Rede Nordeste, JC
  • Rede Nordeste, JC

Publicado em 11 de abril de 2024 às 17:21

Vacina aplicada Crédito: JAILTON JR./JC IMAGEM

O Brasil se tornou o primeiro país do mundo a disponibilizar Qdenga, vacina contra a dengue, no sistema público de saúde. Produzida pelo laboratório japonês Takeda, os imunizantes têm sido destinados, desde fevereiro deste ano, a regiões com maior incidência e transmissão do vírus. São contemplados crianças e adolescentes de 10 a 14 anos.

A Qdenga começou a ser oferecida, na rede particular no País, em julho de 2023. É a primeira vacina contra a dengue aprovada no Brasil para um público mais amplo, já que o imunizante aprovado anteriormente, Dengvaxia, do laboratório francês Sanofi-Pasteur, só pode ser utilizado por quem já teve dengue.

Diferentemente da Qdenga, a Dengvaxia não foi incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS) e é contraindicada para indivíduos que nunca tiveram contato com os vírus da dengue, devido ao maior risco de desenvolver quadros graves da doença.

O País já aplicou mais de 700 mil doses de Qdenga contra a dengue e, segundo o Ministério da Saúde, só 57,57% das doses enviadas aos Estados e Distrito Federal foram aplicadas. A pasta avalia a possibilidade de ampliação do público-alvo do imunizante, já que os lotes da vacina da dengue começam a vencer a partir do dia 30 de abril.

Conversamos com o médico Eduardo Jorge da Fonseca Lima, representante da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM) em Pernambuco, sobre as principais dúvidas em relação à vacinação contra dengue. Confira:

O Brasil é o primeiro país do mundo a oferecer vacina contra a dengue no sistema público de saúde. Que outros países já aplicaram a mesma quantidade de doses (ou similar) ao Brasil?

A vacina Qdenga é aprovada para a prevenção da dengue em indivíduos na União Europeia (UE)/Espaço Econômico Europeu (EEE), incluindo todos os Estados-Membros da UE e Irlanda do Norte, bem como países do EEA (Islândia, Liechtenstein, Noruega) e Grã-Bretanha. Nesses países, a orientação é vacinar os viajantes para áreas endêmicas.

Indonésia e Tailândia também aprovaram o registro da vacina, assim como a Argentina, que ainda não incorporou o imunizante ao sistema de saúde local.

No Brasil, a vacina foi aprovada para ser incorporada no Sistema Único de Saúde (SUS) em dezembro de 2023. Isso tornou o Brasil o primeiro país do mundo a oferecê-la no sistema público universal.

Por causa da capacidade limitada de produção do fabricante, no entanto, a vacinação não será feita em larga escala em um primeiro momento.

A Qdenga protege contra quais sorotipos da dengue?

A vacina é quadrivalente e deve, em teoria, proteger para os quatro sorotipos de dengue. No período do estudo, os sorotipos que circulavam em maiores prevalências foram o DENV-1 e o DENV-2, comportamento ainda observado em 2024, embora com certo aumento do DENV-3.

A eficácia contra hospitalizações por dengue confirmada laboratorialmente foi de 85%. Isso é o dado mais relevante da vacina: boa proteção para formas graves que exigem internamento.

Não foi possível avaliar a eficácia da vacina contra o DENV-4 no período, devido ao insuficiente número de casos de dengue causados por esse sorotipo durante o estudo.

Anos após começar a ser aplicada, a Dengvaxia (vacina contra dengue da Sanofi) passou por atualização na bula porque estudos mostraram que pessoas que nunca tinham tido contato com o vírus apresentaram aumento no risco de dengue grave por tomarem a vacina e depois contraírem a doença. Com a Qdenga, esse risco existe?

A Qdenga demonstrou que pode ser utilizada independentemente de o indivíduo ter tido ou não dengue previamente (soronegativos e soropositivos). Após 4 anos e meio de acompanhamento, não houve evidências de exacerbação de doença dependente de anticorpos ou aumento do risco de hospitalização em participantes previamente soronegativos (sem doença prévia) que receberam Qdenga. Mas se observou que indivíduos soropositivos (que já tinham sido infectados pelos vírus da dengue) apresentaram uma resposta mais robusta.

Uma nota recente do Ministério da Saúde alerta que, de 365 mil doses aplicadas no País desde 2023, foram identificadas 529 notificações de eventos possivelmente associados à vacina Qdenga. Desse total, 16 casos de reações alérgicas graves. Esse dado é acima do esperado?

A vacina Qdenga foi considerada segura nos estudos de sua aprovação. Por se tratar de uma nova vacina, eventos adversos novos ou infrequentes podem ser identificados após a vacinação em massa, com esse quantitativo de doses aplicadas no Brasil.

A partir do monitoramento da segurança dessa vacina, foi identificado um sinal de alerta para reações alérgicas graves e outras reações de hipersensibilidade pós-vacinação. Apesar de ser um evento muito raro, essa ocorrência é realmente um pouco acima do geralmente observado.

Destaco, entretanto, que é bem conhecida, na ocasião de lançamento de uma nova vacina, a detecção de eventos adversos mais raros, relacionados a um maior controle e rigidez das avaliações, o que também pode enviesar um pouco esses dados.

Isso é chamado de efeito Weber, caracterizado por esta maior sensibilidade da farmacovigilância para detecção de eventos adversos logo após a introdução de um novo medicamento no mercado.

Não significa, entretanto, que possamos nos descuidar da vigilância e da necessidade de ambiente seguro durante a aplicação.

Por que se deve permanecer de 15 a 30 minutos, na unidade de saúde, após receber a dose contra dengue? As reações só podem aparecer nesse intervalo de tempo? E depois? A que possíveis reações as famílias devem ficar atentas por quanto tempo?

Adolescentes (o público alvo da vacina no Sistema Único de Saúde) apresentam uma maior frequência de reações vasovagais (transpiração, palidez e tontura, por exemplo) relacionadas à ansiedade e ao medo da aplicação.

E só por isso já é aconselhável a permanência no serviço de saúde por 15 minutos após a aplicação de qualquer vacina nessa faixa etária.

A anafilaxia é uma reação de hipersensibilidade aguda, que pode ocorrer geralmente dentro de 15 minutos após a vacinação e, por isso, essa recomendação.

Em pacientes com histórico de alergia grave, essa observação no local deve se prolongar para 30 minutos.

Os profissionais que atuam nos serviços de vacinação devem estar aptos para cuidar desses casos, a fim de que possam atuar rapidamente.

Eventos mais tardios incluem os habituais, como dor, vermelhidão no local da aplicação e, até mesmo, a presença de manchas vermelhas pelo corpo.

Reforço, que pela gravidade da epidemia atual e risco de dengue grave, o uso da vacina é totalmente recomendável ao serem analisados riscos e benefícios.

Tenho convicção que temos que agir com total transparência nas informações e promover medidas adequadas de segurança. É fundamental diminuir tantas fake news relacionadas à vacinação e acreditar na ciência.

A Qdenga deve ser aplicada sozinha? Pode-se receber a Qdenga e e outras vacinas de vírus inativado no mesmo momento?

A recomendação é que, como é uma vacina recente, seja administrada sozinha para se observar melhor possíveis eventos adversos.

Para a aplicação de vacinas inativadas (aquelas com bactéria ou o vírus morto, modificado ou apenas partículas deles), recomenda-se um intervalo de apenas 24 horas.

É bom explicar que, como toda vacina de vírus vivos atenuados (aquelas que possuem agentes infecciosos vivos, mas extremamente enfraquecidos), a vacina Qdenga pode interferir na resposta imunológica a outras vacinas atenuadas. Assim, a administração de QDenga com outras vacinas atenuadas deve ser feita com intervalo de 30 dias.