Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Estadão
Publicado em 23 de fevereiro de 2024 às 08:57
Num gesto para se aproximar de líderes de partido e também do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o presidente Luiz Inácio Lula Silva patrocinou na início da noite desta quinta-feira, 22, um happy hour no Palácio da Alvorada, sua residência oficial. O petista levou para o encontro cinco ministros. Entre eles Fernando Haddad, da Fazenda, que tem projetos de interesse pendentes de aprovação pelos deputados. >
Lira e parte dos líderes andam às turras com a articulação política do governo por conta da trava na liberação de emendas parlamentares ao Orçamento. Na noite desta quinta, porém, segundo relatos obtidos pelo Estadão/Broadcast não houve reclamações. Em discurso, Lula agradeceu o apoio que recebeu do Parlamento e lembrou que a Câmara ajudou antes mesmo de ele tomar posse ao aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que abriu espaço no Orçamento para ampliar programas sociais como o Bolsa Família.>
Em troca dos elogios, Lula ouviu do presidente da Câmara, conforme relato de presentes, a promessa de que seu papel institucional é colaborar com o Executivo. Mas não se esquivou de admitir que a relação com o Parlamento nem sempre é tranquila Lira também afirmou que às vezes fica chateado com algumas situações, mas que a conversa é sempre "franca".>
O presidente da Câmara disse que encontros como o desta quinta-feira são momentos importantes na relação entre os Poderes. O ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, com quem o deputado alagoano rompeu relações, também estava presente no Alvorada. Os dois não conversaram. Padilha ficou a maior parte do tempo na rodinha em volta de Lula O novo interlocutor do presidente da Câmara no Planalto é Rui Costa.>
As rodinhas de conversa foram regadas a uísque, que Lula recebeu de presente dos líderes, cerveja, vinho e nada de jantar. Para comer foram servidos salgadinhos: pastel de queijo e camarão e coxinha. Lula prometeu retribuir o uísque presenteado com um convite futuro para um churrasco no Alvorada.>
O encontro foi promovido pelo governo para estreitar a relação do Executivo com as bancadas e principalmente com o presidente da Câmara. Lula vem tentando minimizar atritos para facilitar a aprovação de projetos caros ao Planalto pelo Legislativo. Esse método de fazer política não é novo para o petista, que costumava promover jogos de futebol com aliados na Granja do Torto em seus primeiros mandatos como presidente, de 2003 a 2010>
No "happy hour" desta quinta, Lula brincou que o governo está em contenção de despesas e, por isso, não foi servido um jantar completo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que estava presente no encontro, tem pedido apoio do Congresso para aprovar medidas de aumento de arrecadação. O chefe da equipe econômica tenta zerar o déficit das contas públicas este ano.>
A confraternização no Alvorada foi em uma sala com sofás. Tirando o momento em que o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), Lira e Lula discursaram, os presentes se dividiram em rodinhas. Comiam e bebiam ora de pé, ora sentados.>
As estrelas do encontro circulavam entre os grupos, que na maior parte do tempo eram três: um em torno de Lula, outro de Haddad e um terceiro em volta do ministro da Casa Civil, Rui Costa.>
Lula às vezes falava sobre as obras do governo na base eleitoral do interlocutor. Foi o caso, por exemplo, em conversa com João Campos. Prefeito de Recife, ele compareceu representando a direção do PSB, seu partido, do qual é vice-presidente. O petista também mencionou temas que são comuns em seus discursos, como a necessidade de o Brasil fazer comércio com os países africanos.>
Haddad pregava em favor de seus principais planos. Mencionava, por exemplo, seu projeto para transição verde da economia brasileira. Tudo em termos genéricos, de forma descontraída e sem entrar em detalhes.>
As pautas de interesse do governo na Câmara>
A pauta do governo na Câmara inclui os vetos do presidente ao calendário de liberação de emendas e ao valor de R$ 5,6 bilhões indicados pelo Congresso na Lei Orçamentária Anual (LOA); a reoneração da folha de pagamento; o fim do Perse, programa de incentivo ao setor de eventos, que foi afetado pela pandemia de covid-19; e a limitação das compensações tributárias a empresas por meio de decisões judiciais.>
Na avaliação de deputados ouvidos pela reportagem, eventos como o desta quinta ajudam a reduzir ruídos na relação entre governo e Câmara, e a sensação foi de "jogo zerado". A volta dos trabalhos do Legislativo em 2024 foi em um período de descontentamento de congressistas com o governo. É comum o grupo político de Arthur Lira, por exemplo, reclamar de acordos não cumpridos pelo Planalto. Um exemplo do desgaste da relação foi o veto ao cronograma de emendas.>
No primeiro ano de governo, Lula reuniu os líderes da Câmara no Alvorada após a aprovação da reforma tributária na Casa, em julho. O primeiro semestre do ano havia sido de embates entre o Planalto e os deputados, que recusaram mudanças feitas por decreto no marco legal do saneamento básico.>
Em meio a uma insatisfação generalizada com a demora na liberação de emendas e na nomeação de aliados para cargos no Executivo, os deputados chegaram a cogitar uma rejeição da Medida Provisória (MP) que reestruturou a Esplanada no governo Lula, o que acabaria com vários ministérios.>
No segundo semestre de 2023, em outubro, o presidente da República também reuniu líderes partidários da Câmara, em meio à tentativa de Haddad de aprovar medidas de aumento de arrecadação O encontro ocorreu após Lula entregar o Ministério do Esporte para André Fufuca, do PP, e a pasta de Portos e Aeroportos para Silvio Costa Filho, do Republicanos.>
O Centrão, grupo político que domina a Câmara, também ganhou o Ministério do Turismo, hoje comandado por Celso Sabino, do União Brasil. Além disso, Lula nomeou Carlos Vieira, indicado de Lira, para a presidência da Caixa Econômica Federal.>
Leia a seguir quem participou da confraternização no Alvorada nesta quinta-feira:>
- Rui Costa - ministro da Casa Civil;>
- Fernando Haddad - ministro da Fazenda;>
- Luciana Santos - ministra da Ciência e Tecnologia e presidente do PC do B;>
- Alexandre Padilha - ministro das Relações Institucionais;>
- Paulo Pimenta - ministro da Secretaria de Comunicação;>
- Arthur Lira (PP-AL) - presidente da Câmara;>
- Márcio Jerry (PC do B-MA) - líder do PC do B;>
- Luciano Bivar (União Brasil-PE) - presidente do União Brasil;>
- José Guimarães (PT-CE) - líder do governo na Câmara;>
- Antonio Brito (PSD-BA) - líder do PSD na Câmara;>
- Damião Feliciano (União Brasil-PB) - presidente da Bancada Negra;>
- Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ) - vice-líder do PSOL;>
- Gleisi Hoffmann (PT-PR) - presidente do PT;>
- Afonso Motta (PDT-RS) - líder do PDT;>
- Dr. Luizinho (PP-RJ) - líder do PP;>
- Odair Cunha (PT-MG) - líder do PT;>
- Isnaldo Bulhões (MDB-AL) - líder do MDB;>
- Luciano Amaral (PV-AL) - sem cargo de liderança;>
- José Luiz Penna - presidente do PV;>
- João Campos - prefeito de Recife e vice-presidente do PSB;>
- Gervásio Maia (PSB-PB) - líder do PSB na Câmara;>
- Romero Rodrigues (Podemos-PB) - líder do Podemos;>
- Hugo Motta (Republicanos-PB) - líder do Republicanos;>
- Elmar Nascimento (União Brasil-BA) - líder do União Brasil;>
- Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) - líder da Maioria na Câmara.>