Troca de cadeiras: quem é Raquel Dodge?

CORREIO traça perfil da nova procuradora-geral que assume lugar de Janot

  • D
  • Da Redação

Publicado em 17 de setembro de 2017 às 06:02

- Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Com a saída de Janot, Raquel Dodge assume a Procuradoria-Geral da República. Aos 56 anos, a escolhida pelo presidente Michel Temer foi a segunda mais votada na lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), deve ficar por, pelo menos, dois anos no cargo.

Goiana de Morrinhos, a primeira mulher a comandar o Ministério Público Federal chega ao cargo promovendo mudanças em praticamente toda a equipe que comanda as ações da Lava-Jato. Segundo informações do Ministério Público Federal, a equipe será coordenada pelo procurador José Alfredo de Paula Silva, que atuou no mensalão e na Zelotes. A equipe também será composta por Luana Vargas, José Ricardo Teixeira e Hebert Mesquista. Este último procurador assina a mais nova denúncia contra Lula na Zelotes, na qual ex-presidente foi acusado de cobrar propina para editar uma Medida Provisória que teria beneficiado montadoras.

É público que Janot e Dodge têm divergências. Uma delas diz respeito aos benefícios dados pelo Ministério Público em acordos de delação premiada. Os dois também divergiram no último mês sobre o aumento de 16,7% nos salários dos procuradores da República e sobre os cortes no orçamento do Ministério Público Federal que serão necessários para custear os pagamentos. A proposta feita por Dodge e outros subprocuradores foi aprovada pelo presidente Temer. “Não vou fazer indicação de corte que suporte os 16%. Já estou avisando que não farei", reagiu Janot ao argumentar que o país passa por uma grande recessão econômica e que a proposta demandaria muita negociação.

Segundo o coordenador da Pós-Graduação de Direito Eleitoral do CERS/ Estácio de Sá, Igor Pinheiro, a nova procuradora-geral tem um perfil mais rigoroso e centralizador. “O fato dela não ter sido a mais votada gera um olho torto por parte de um grupo de procuradores, mas em princípio não há nada que desabone sua conduta. Ela tem uma experiência muito grande no combate à corrupção, assim como a equipe que ela nomeou, tanto no ponto de vista acadêmico quanto jurídico”, avalia. Diferente de Janot, ela deve ficar mais distantes dos holofotes, como destaca Pinheiro: “Ela é mais técnica e menos assoberbada que Rodrigo Janot. Deve continuar conduzindo a Lava-Jato de uma maneira mais tranquila e menos exposta”.   Mestre em direito pela Universidade Harvard (EUA), Raquel Dodge fez carreira no Ministério Público na área criminal e destacou-se em casos de repercussão envolvendo corrupção. Ela atuou em 2009 na Operação Caixa de Pandora, que revelou o chamado mensalão do DEM, e pediu a prisão do então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. Dodge também foi uma das responsáveis pela condenação do ex-deputado Hildebrando Pascoal, que matou um mecânico com uma motosserra no Acre, em 1996. Dodge participou ainda de uma ação que levou à prisão, em 2003, o então presidente da Assembleia do Espírito Santo, José Carlos Gratz.

Em debates durante a disputa pela PGR, Dodge disse que a Operação Lava Jato, a principal ação do Ministério Público Federal hoje precisa ser mais célere, e defendeu que o combate à corrupção seja a prioridade do órgão. "A corrupção é um mal em si. Ela confunde o público com o privado. Devemos combater a corrupção porque ela deteriora o regime democrático que é exatamente baseado na distinção entre público e privado", afirmou em entrevista à Folha de S; Paulo.

Como coordenadora da Câmara Criminal do MPF, Dodge propôs medidas para aumentar a efetividade da Lei Maria da Penha, foi contrária à redução da maioridade penal e debateu o sistema prisional e crimes ocorridos na ditadura sob enfoque dos diretos humanos. “Pretendo reforçar esta atuação até que a corrupção ceda, o dinheiro seja recuperado e isso seja considerado uma página virada da história brasileira. Que haja corrupção pontual, sempre acontece, mas que seja sistêmica é inaceitável”, completou.