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Trio que levou jogador para matagal com empresário é identificado

Veja também cronologia do dia do crime e contradições de versões

  • D
  • Da Redação

Publicado em 5 de novembro de 2018 às 16:28

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: .

Foram identificados os três homens que estavam no carro quando o empresário Edison Brittes Junior, 38 anos, levou o ex-jogador Daniel Côrrea para um matagal, na Região Metropolitana de Curitiba, onde o corpo do atleta foi achado no último dia 27. Ainda não se sabe se o jogador já estava morto quando foi levado até o local e os três podem responder por participação no crime.

Segundo a Tribuna do Paraná, os três são David Volleiro Silva, 18, Igor King, 20, e Eduardo Henrique Ribeiro Silva, 19, esse último primo de Cristiana, mulher de Edison, que também está presa. A filha de 18 anos do casal, Allana, também foi presa suspeita de participar da morte de Daniel.

Daniel foi agredido na casa da família Brittes, para onde foi após a festa de aniversário de Allana em uma boate de Curitiba. Depois, foi levado de carro para o matagal onde seu corpo foi achado. Ele tinha sinais de espancamento, marcas de faca no pescoço e teve o pênis decepado. Edison alega que atacou o jogador porque o flagrou tentando estuprar sua mulher, Cristiana, dentro de casa. Cristiana e Edison (Foto: Reprodução) Os advogados dos três suspeitos identificados hoje estiveram na delegacia de São José dos Pinhais para colocar os clientes à disposição do delegado Amadeu Trevisan, que está à frente do caso. Já Eduardo foi em pessoa para falar com o delegado, vindo de Foz do Iguaçu. “Ele veio para prestar os esclarecimentos e a autoridade policial, por falta de agenda para o dia de hoje, redesignou a data da apresentação dele para quinta-feira, às 14h, quando ele será interrogado na qualidade de indiciado. O que podemos adiantar é que o Eduardo participou da agressão sim e é um dos três que estavam dentro do veículo. Se participou da execução, este é um assunto que a autoridade policial deve esclarecer”, afirmou à Tribuna o advogado Edson Stadler.

Nesta segunda, devem ser ouvidos somente os integrantes da família Brittes. A primeira a prestar depoimento será Cristiana, seguida por Allana e por fim Edison, que confessou o crime. Os três cumprem prisão temporária.

Cronologia do crime Sexta (26): Daniel chega a Curitiba. Ele vai a duas festas, inclusive o aniversário de Allana em boateSábado (27): A festa continua na casa da família de Allana, em São José. O crime aconteceu este dia. O corpo foi achado neste mesmo dia em um matagal.Segunda (29): Amigo reocnhece o corpo de DanielQuarta (31): Corpo de Daniel foi velado em Minas GeraisQuinta (1): Suspeito de matar Daniel é preso e confessa crime. Mulher e filha também foram presasSexta (2): Perícia é feita na casa onde Daniel foi espancado (Foto: Reprodução) Linha do tempo (com informações da TV Globo)21h30: Daniel chegou a Curitiba na sexta à noite, por volta das 21h30. Ele deixou as malas na casa de um amigo, com quem iria se hospedar, e saiu depois de um banho para uma festa, a primeira da noite.

00h: Por volta de meia-noite, ele e o amigo seguiram para o aniversário de Allana, em uma boate da cidade. Eles tinham convites para a festa, entregues pelo próprio pai da aniversariante.

05h40: O amigo de Daniel vai embora da boate. O jogador prefere ficar e diz que vai seguir para a casa de Allana, na Região Metropolitana, onde a festa seguiria

06h36: Daniel avisa ao amigo por mensagem que já estava na casa de Allana. Uma testemunha  contou à polícia que os convidados estavam ouvindo música e bebendo. Cristiana, que segundo a família não estava bem, foi a primeira a ir deitar. Outras pessoas também se recolheram. Ficaram na festa Daniel, Edison e outras oito pessoas

08h07: Daniel começou uma conversa com outro amigo. Ele contou que estava em uma festa, com várias pessoas dormindo. Por áudio, ele respondeu ao amigo, que perguntou se estava bêbado, e disse que "não muito". Ele falou também que tinha uma "coroa" na casa, que era a mãe da aniversariante, e que faria sexo com ela. Afirmou ainda que o pai estava junto. O amigo diz para ele se cuidar e que poderia ser expulso da casa. Daniel mandou uma foto ao lado de Cristiana, que aparenta estar dormindo. O amigo quer saber se ele fará sexo com ela acordada ou dormindo Uma das fotos que Daniel mandou (Foto: Reprodução) 08h34: Daniel manda uma nova foto ao lado de Cristiana para o amigo e diz que fez sexo com ela. Depois, ele manda a seguinte mensagem, a última: "O que aparecer amanhã é nóis". O amigo quer saber o que isso quer dizer, mas Daniel não responde mais. Posteriormente, o amigo disse à polícia que ele, Daniel e outros dois colegas tinham um grupo de WhatsApp onde mandavam fotos das "conquistas" amorosas, geralmente quando a mulher estava dormindo

10h30: Corpo do jogador é encontrado, ainda sem identificação, em um matagal, com mutilações, marcas de faca e sinais de tortura. 

À noite: O amigo que hospedou Daniel fica preocupado porque ele não deu mais notícias e eles tinham um compromisso. Ele manda mensagem para Allana, que afirma que o jogador foi embora sozinho da casa dela. Este amigo foi quem reconheceu o corpo do jogador, dois dias depois. (Foto: Reprodução) Dúvidas que ainda existem A polícia ainda investiga várias questões que provocaram dúvidas nos depoimentos dos acusados e das testemunhas. Veja os principais pontos de contradições:

Pijama Edison, em entrevista, contou que ajudou a mulher a trocar de roupa e se arrumar para dormir depois da festa. Contudo, nas fotos tiradas por Daniel e enviadas ao amigo, a mulher aparece com a mesma roupa e colar que usou na boate - há fotos dela no aniversário da filha.

Porta arrombada O empresário contou também que arrombou a porta, que estava trancada, quando a esposa gritou por socorro. Já Allana diz em vídeo gravado pela própria defesa que ela abriu a porta e flagrou Daniel em cima da mãe.

Arma do crime Segundo Edison, ele usou uma faca que guardava no carro para matar e mutilar Daniel. Mas uma testemunha que presenciou o início das agressões na casa da família contou que ouviu outra pessoa gritar, na confusão, que Edison tinha pegado uma faca. O empresário negou ter armas em casa, mas tem dois Boletins de Ocorrência contra ele só neste ano envolvendo arma de fogo. Em janeiro, a polícia foi chamada após relatos de disparos na casa do empresário. 

Amizade No vídeo gravado pela defesa, Allana diz que conhecia Daniel pouco. A família do jogador afirma que eles se conheceram quando Daniel estava no Coritiba, em 2017. Nas redes sociais, ele seguia todos os três Brittes e uma foto tirada na festa de 17 anos de Allana, há um ano, mostra o jogador ao lado da jovem. Daniel e Allana, no aniversário do ano passado (Foto: Reprodução) Pedido de socorro Edison também afirmou na sua versão que ouviu a mulher gritar do quarto e foi correndo até lá, quando encontrou Daniel sobre ela. Uma versão de uma testemunha, contudo, afirma que Edison estava do lado de fora da casa e perguntou aos presentes onde estava o jogador. Os gritos só teriam começado depois que o empresário foi para dentro da casa atrás do atleta

Empresário já tinha ficha policial Assassino confesso do jogador Daniel Côrrea, Edison Luiz Brittes Júnior, 37 anos, já teve envolvimento em outros crimes - todos menos escabrosos do que a morte do atleta, cujo corpo foi achado com sinais de espancamento e facadas, além do pênis decepado, na Região Metropolitana de Curitiba. Conhecido como Juninho, o empresário já foi denunciado em 2015 pelo Ministério Público por receptação dolosa de produto roubado, além de porte ilegal de arma e injúria. 

Segundo reportagem do Uol, a denúncia contra o empresário no caso da receptação foi assinada em junho deste ano pela promotora Mônica Baggio. Na ocasião do crime, ele foi conduzido à delegacia pela posse de um Hyundai Sonata que segundo a polícia ele sabia ter sido roubado. O chassi do carro estava alterado. O veículo tinha sido roubado no ano anterior em Porto Alegre. O advogado de Juninho, Cláudio Dalledone Junior, afirma que o cliente não sabia que o carro era roubado. 

O defensor também falou do caso de porte ilegal de arma. "Ele é atirador desportivo e tem o certificado de registro emitido pelo exército brasileiro", diz. Segundo ele, o empresário é dono de uma pistola Glock 380 e tem documento para andar armado "de sua casa ao estande de tiro". Ele acabou sendo absolvido do caso, em 2016.

Já o caso de injúria, registrado em fevereiro de 2018, o advogado não soube identificar o que teria ocorrido, mas afirmou que se trata de um crime "de menor potencial ofensivo". "Ele não tem histórico criminal, nunca foi preso, não tem nenhuma condenação", afirma.

O empresário é conhecido em São José dos Pinhais, nas imediações de Curitiba, como Juninho Riqueza. A casa da família, onde aconteceu a festa após a celebração do aniversário de Allana, filha dele, aparece no Google Maps como um bar com o nome de "Juninho Riqueza House". Foi nesta casa que Daniel começou a ser espancado.  Juninho é fã de joias e carros esportivos - foi na mala de um Veloster que ele colocou o jogador depois das agressões iniciais. O empresário é dono de uma empresa de laticínios de Curitiba. 

Defesa da mulher Em um vídeo gravado antes de ser preso, o empresário afirma que cometeu o crime para defender a esposa, Cristiana, que estaria sofrendo uma tentativa de estupro por parte de Daniel. O casal e a filha Allana estão presos pelo crime.

"Se eu fiz o que eu fiz, eu quero que cada um que está assistindo pense o que você faria para manter a integridade moral da sua família e ajudar uma mulher pequena e frágil", afirma Juninho no vídeo. "Eu tirei ele de cima da minha esposa, joguei ele no chão e evitei que ela fosse estuprada por esse monstro canalha." (Foto: Divulgação) Existem contradições na versão da família, contudo. O próprio Juninho telefou para a mãe de Daniel três dias após o crime para prestar solidariedade. Já Allana afirmou a amigos e parentes de Daniel que o jogador tinha deixado sua casa sem problemas. Uma testemunha que estava na festa na casa da família contou que foi ameaçada pelo empresário para inventar uma versão que o ajudasse a ser inocentado. Ela afirmou ter ouvido, durante o espancamento de Daniel, a frase "Mexeu com mulher de bandido vai morrer". A testemunha está em programa de proteção.

Prints Mensagens de WhatsApp anexadas ao processo mostram que Daniel comentou a noite da festa com um amigo. Ele contou que tinha seguido da boate para a casa para continuar a comemoração com Allana e os demais. Depois, mandou outra mensagem dizendo que iria "comer a mãe da aniversariante" e que "o pai está junto". Dezessete minutos depois, ele fala novamente com o amigo. "Comi ela, moleque", diz, enviando uma foto ao lado da mulher, que aparenta estar dormindo - pelo menos duas fotos foram enviadas.

Uma testemunha contou que ouviu gritos de mulher vindo de um quarto, pedindo para que ajudassem a "evitar uma tragédia". Ao chegar lá, já encontrou Daniel sendo enforcado e agredido por Juninho.

Também há prints de conversas de Allana com um amigo em comum que tinha com a Daniel e com a mãe e a tia dele - todos diálogos depois do crime e com informações diferentes. A suspeita diz nas conversas que não teve briga em sua casa e que Daniel saiu tranquilamente. Na segunda, dois dias após o crime, a tia pergunta sobre o jovem e Allana diz que ele saiu por volta de 8h e pouco. A tia quer saber se houve alguma desavença. "Claro que não, imagina. Era a minha casa. Ele só levantou e foi embora", responde a jovem. 

Em outra conversa, esta ainda no sábado, logo após o crime, Allana dá outra versão. O corpo de Daniel ainda não tinha sido achado e ele era considerado desaparecido. O amigo em comum quer saber se Daniel está na casa dela ainda.  "Oi, bebê, não nem vi a hora que ele foi embora", garante a jovem. O amigo pede que ela procure saber com quem ele saiu e, se tiver sido com alguma menina, mandar o número de telefone para que ele tente achar Daniel.  "Então, a menina com quem ele ficou tá aqui. Acordei e ela tava de PT no sofá", responde Allana. "Certeza que já aparece, deve estar com alguma gata", acrescenta, tentando tranquilizar.

Mesmo tom Allana adotou com a mãe de Daniel, já quando o corpo do jogador aguardava para ser identificado. “Se Deus quiser, não vai ser ele. Vamos ter fé. Vai dar tudo certo”. Em seguida, a mãe do rapaz manda um áudio dizendo que Daniel está morto. Allana se diz surpresa. Na segunda-feira (29), pede informações sobre o velório.

A jovem ainda afirma em outra conversa que sua festa de aniversário foi "perfeita". "Ficamos muito doidos, ressaca brava hoje. Era bebida que não acabava mais", disse. "Eu amei tudo, perfeito. Todo mundo amou, graças a Deus." 

Depois que a história veio à tona, Allana endossou o pai e afirmou que viu Daniel tentando estuprar sua mãe. "Descemos e, na hora que abrimos a porta, ele estava em cima da minha mãe tentando estuprar ela. Todo o mundo começou a querer fazer alguma coisa contra ele, porque minha mãe gritava, e ele não falava nada", diz. O advogado da família afirma que o jeito que Allana agiu, contando várias versões para acobertar o crime, é natural. "Um ato impensado e desesperado de uma filha tentando proteger o pai". Allana também chegou a dizer inicialmente que mal conhecia Daniel e que ele teria seguido da boate para sua casa sem ser convidado. Nas redes sociais, contudo, há uma foto dos dois juntos no aniversário dela do ano passado.

A família de Daniel contratou um advogado para representar seus interesses no caso e tentar afastar a acusação do assassino confesso de que o jogador tentou estuprar sua mulher. A polícia ainda investiga a versão e afirma que até o momento não há confirmação sequer se houve sexo, ainda que consensual, entre Daniel e Cristiana.

Veja os vídeos que Edison e Allana gravaram antes da prisão: