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Estadão
Publicado em 9 de janeiro de 2024 às 13:51
O prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) e o padre Júlio Lancellotti, alvo de uma possível Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) a ser instalada na Câmara Municipal da capital paulista, se encontraram nesta segunda-feira, 8, na sede da Prefeitura, afirmou o padre em entrevista à CNN. O encontro foi confirmado pela assessoria do prefeito ao Estadão. >
Lancellotti disse que Nunes afirmou a ele durante o encontro que, caso questionado, esclarecerá que a Prefeitura não tem nenhum convênio com a Arquidiocese, com a Pastoral de Rua, nem com nenhuma entidade de que o padre faça parte.>
"O prefeito disse que pode prestar os esclarecimentos de que não sou de uma ONG, não recebo recursos, que isso é uma coisa de domínio público e que se a prefeitura for arguida nesse sentido, irá responder isso mesmo: ‘Nós não temos nenhum convênio com a Arquidiocese de São Paulo, nem com a Pastoral de Rua, nem com nenhuma entidade que o padre Júlio faça parte’", disse ao jornal>
O encontro teria sido solicitado pelo religioso, que disse ter enviado uma mensagem ao prefeito contando sobre o requerimento de abertura da CPI, e teria recebido uma ligação de Nunes, que disse não estar a par de toda a situação.>
Nunes teria reforçado ainda, como fez outras vezes em nota, que o Poder Legislativo não pode sofrer interferência do Poder Executivo. "Ninguém é contra a CPI, mas (a favor) que a CPI tenha um objeto claro de investigação e não personalize", disse o padre em entrevista.>
Como mostrado pelo Estadão, a possibilidade de abertura da CPI antecipou o confronto eleitoral na Câmara de São Paulo, gerando uma disputa entre os apoiadores do prefeito e pré-candidato à reeleição, e os aliados do deputado Guilherme Boulos, pré-candidato do PSOL à Prefeitura. A Bancada Feminista (mandato coletivo do PSOL na Câmara) tenta reunir 19 assinaturas necessárias para apresentar um pedido de abertura de CPI, dessa vez contra a gestão de Nunes. O objetivo da comissão é investigar o aumento da população em situação de rua e as ações da administração municipal voltadas a essa questão.>
Lancellotti disse ainda que reivindicou ao prefeito, durante o encontro, a ampliação da "Operação Altas Temperaturas", que provê recursos para amenizar a sensação de calor da população vulnerável diante das ondas de calor que têm atingido a cidade.>
Relembre o caso>
O pedido de abertura de uma CPI para investigar o uso de recursos públicos pelas organizações não governamentais (ONGs) que atuam na Cracolândia teve o apoio inicial de 22 vereadores da Câmara Municipal de São Paulo. Pelo menos oito, porém, anunciaram que vão "retirar seus nomes".>
Isso ocorrerá, entretanto, apenas de forma simbólica. Uma vez que o pedido de CPI já foi protocolado - com no mínimo 18 assinaturas, como determinado pelo regimento interno da Câmara -, não há mais como remover a assinatura de algum parlamentar.>
Além do autor da proposta, Rubinho Nunes (União Brasil), parlamentares de nove partidos assinaram o requerimento no dia 6 de dezembro. Segundo falas do vereador, o padre Júlio Lancellotti deve ser um dos principais alvos da CPI das ONGs caso ela seja instalada. O documento, porém, não cita o nome do padre e nem das ONGs que seriam investigadas e, por isso, parlamentares se disseram surpresos com foco da investigação e abandonaram a proposta.>
O pedido de abertura da CPI segue em tramitação e, no momento, aguarda a apreciação do colégio de líderes, que reúne as lideranças de cada bancada e a presidência da Casa, liderada por Milton Leite (União Brasil). Com o aval dos líderes, o pedido segue para votação no plenário e precisa contar com o apoio de mais da metade dos parlamentares, ou seja, ao menos 28 dos 55 votos. A Câmara Municipal segue em recesso parlamentar até o dia 6 de fevereiro.>
Rubinho, aliado do prefeito Ricardo Nunes, acusa tanto as organizações não governamentais quanto o pároco de participarem de uma suposta "máfia da miséria" que "explora os dependentes químicos". Ele tem explorado a proximidade entre Lancellotti e Boulos para atacar o pré-candidato do PSOL.>
O que dizem as ONGs>
Rubinho Nunes quer investigar o uso de dinheiro público nas ONGs que atuam na Cracolândia e colocar em pauta a chamada política de redução de danos. Segundo o vereador, as organizações usam verbas para distribuir alimentos, kit de higiene e itens para o uso de drogas à população em situação de rua, gerando o que ele chama de um "ciclo vicioso" no qual o usuário de crack não consegue largar o vício.>
A Craco Resiste, um dos alvos de Rubinho, rechaçou as acusações e afirmou não ser um ONG, e sim um projeto de militância. "Quem tenta lucrar com a miséria são esses homens brancos cheios de frases de efeito vazias que tentam usar a Cracolândia como vitrine para seus projetos pessoais", declarou a entidade em nota divulgada nas redes sociais. A reportagem não conseguiu contato com o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, conhecido como Bompar, também mencionada pelo vereador.>