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Tharsila Prates
Publicado em 13 de novembro de 2024 às 09:50
Após o corte de energia em 15 instalações de dois campi da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o reitor Roberto Medronho solicitou à concessionária Light que não houvesse a interrupção do serviço no local onde está guardado o manto Tupinambá - relíquia doada pelo Museu Nacional da Dinamarca ao Museu Nacional do Rio e que chegou ao país neste ano depois de séculos no exterior.
"Argumentamos que o manto deve ser preservado em condições especiais e conseguimos que não houvesse o corte. Mas outras instalações próximas, onde guardamos coleções, tiveram a energia cortada. Isso expõe mais acervo ao risco de incêndio. Nesses laboratórios há muitos produtos inflamáveis, e as temperaturas da cidade estão elevadas", disse o reitor ao jornal O Globo. O museu, no entanto, está com áreas sem energia. Os campi afetados são a Ilha do Fundão e a Quinta da Boa Vista.
De acordo com o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, a área que está sem luz tem 43 mil metros quadrados e inclui o setor da administração do museu, onde estão guardadas coleções que precisam ser preservadas em álcool e mantidas em espaço com o ar-condicionado permanentemente ligado.
O motivo do corte, segundo a Light, é uma dívida de mais de R$ 30 milhões da universidade com a concessionária. Às 10h desta quarta-feira (13), o reitor fará uma aula pública no campus do Fundão, para explicar a situação e o orçamento da instituição.
A reportagem procurou a Light e, em nota, a empresa confirmou que interrompeu, nesta terça-feira (12), o fornecimento de energia elétrica em algumas instalações da universidade após "diversas tentativas de acordo e reuniões com a reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desde junho deste ano".
"As unidades cadastradas na Light como essenciais, como os serviços de saúde e segurança, foram poupadas da suspensão para garantir a continuidade desses atendimentos à população", informou a empresa, em nota.
A Light disse ainda que "a dívida total da UFRJ junto à Light soma R$ 31,8 milhões, referente a faturas vencidas entre março e novembro de 2024, além de R$ 3,9 milhões em parcelas não quitadas de um acordo firmado em 2020. Na época, a Light e a reitoria da UFRJ pactuaram o parcelamento de uma dívida de R$ 21,3 milhões; contudo, apenas R$ 13 milhões foram pagos até o momento".
O manto
Esse ancestral sagrado é um manto vermelho, com penas da ave guará, que desembarcou no Brasil sob sigilo após o anúncio de que a doação seria mesmo feita pelo Museu Nacional. Desde o século 17, o manto estava na Dinamarca.
A relíquia deu o primeiro passo do retorno no dia 15 de maio deste ano, quando foi retirada de exposição pelo Museu Nacional de Copenhague, o Nationalmuseet, para ser enviada ao Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Antes disso, em reuniões, lideranças e anciãos tupinambá que vivem no sul da Bahia planejavam os detalhes do reencontro, que só aconteceu em meados de setembro.
O traje, com 1,2 metro de altura e 60 centímetros de largura, não é apenas divino para os tupinambá. É um símbolo da história do Brasil, confeccionado quando esse povo indígena predominava da costa de São Paulo até o Ceará, no século 16.