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Enem 2024: professores dizem o que deve ter na redação nota 1000 sobre herança africana

Casa Grande e Senzala, Torto Arado, Beyoncé e Viola Davis em Salvador são exemplos do que pode ser citado em texto; confira

  • Foto do(a) author(a) Wladmir Pinheiro
  • Wladmir Pinheiro

Publicado em 3 de novembro de 2024 às 15:44

Estudantes deverão fazer análise crítica e propor valorização da herança africana Crédito: Arisson Marinho

O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2024 é: "Desafios para a valorização da herança africana no Brasil".

Na avaliação do professor Ademar Celedônio, diretor de Ensino e Inovações do SAS Educação, os estudantes deverão considerar os aspectos históricos, sociais, culturais e políticos dessa herança ao longo dos séculos no país.

"O aluno vai precisar fazer uma análise crítica da situação e propor uma intervenção que contribua para a valorização da cultura afro-brasileira e o reconhecimento dessas suas influências. Então, de alguma maneira, ele deveria, pelo menos, abordar, por exemplo, a influência da cultura africana, seja na identidade brasileira, seja na própria linguagem", destaca o professor.

Os alunos deverão ler com atenção os textos motivadores e os textos complementares - que não foram divulgados ainda - para ter uma conclusão geral do tema.

"Linguagem, culinária, músicas, religiões, costumes, que muitas vezes é inviabilizada por preconceitos. Tem um ponto de fuga, que é a questão do racismo estrutural, que dificulta essa valorização cultural afro-brasileira, e a falha do sistema educacional, implementar, por exemplo, a lei 10.639 de 2003, que fez inclusive 20 anos no ano passado, que exige o ensino da história da cultura africana brasileira", destaca o professor.

Ele diz que o aluno vai precisar 'propor uma solução prática, em que o governo de instituições educativas invista em projetos que promovam a cultura afro-brasileira, reformulando currículos, criando mais campanhas de conscientização, e isso incluindo, inclusive, ações de ministérios da educação, por exemplo, ONGs e outras instituições culturais, para que a gente possa, enfim, combater o preconceito e valorizar toda essa herança'.

Para Sidinéia Azevedo, professora de Redação e Língua Portuguesa do colégio e pré-vestibular Bernoulli, o tema vai além das expectativas dos alunos, das apostas dos professores, dos spoilers sobre qual poderia ser a discussão na prova. 'É um tema muito interessante, afinal de contas retrata uma minoria que é desvalorizada", destaca.

"Neste caso, o candidato foi convidado a analisar e refletir sobre a herança africana no Brasil, conduzido pela palavra “desafios”, que é o comando específico. Ou seja, não era tratar de qualquer aspecto acerca da herança africana, mas das dificuldades que se tem para valorizar a herança da cultura africana no país. Poderia ser abordado o processo de formação da história brasileira, que é eurocêntrica, tudo que era valorizado vinha da Europa e, neste caso, o que era produzido pelo negro era invisibilizado", destaca.

"Nesse sentido, nós podemos, por exemplo, trazer como argumentação para o desenvolvimento 1, preconceito em tudo, em torno de tudo que é produzido pelos negros, e no desenvolvimento 2, poderia falar da invisibilidade dessa questão nas escolas. Como repertório, era possível trazer a obra Casa Grande e Senzala, do sociólogo Gilberto Freire", avalia Sidinéia.

"Poderia ser feita, também, uma alusão histórica da forma como os escravos viviam na senzala e se alimentavam, por exemplo, dos restos, das vísceras do que não era usado pelos senhores de engenho, e daí surge o que é chamado de comida de senzala, como a feijoada, o sarapatel, a dobradinha, comidas em que eram utilizados ingredientes desprezados pelos donos, pelos detentores do poder", completa.

"Podemos tratar, ainda, de uma questão cultural de os negros não podiam cultuar a religião deles e que utilizavam o tal do sincretismo religioso, quando se apropriavam das imagens dos santos católicos para poder cultuar os seus deuses. Ainda era possível trazer a questão das obras de Jorge Amado, em que sempre era ressaltada a cultura africana, além da obra baiana Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior, que traz de uma forma muito interessante, valoriza bastante a cultura africana e a importância dessa cultura para a formação do povo brasileiro. Especificamente em Salvador, houve, no fim de 2023, a conferência da diáspora africana nas Américas, com as presenças da cantora Beyoncé e da atriz Viola Davis", chama atenção.