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Carol Neves
Publicado em 18 de fevereiro de 2025 às 07:45
Um estudo realizado por pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena-USP), em Piracicaba, revelou que, em média, o tomate corresponde a apenas 25% da composição dos catchups vendidos no Brasil. Para investigar essa informação, os pesquisadores analisaram 25 marcas encontradas em mercados da cidade, utilizando uma abordagem isotópica para determinar a origem do carbono presente nos produtos. >
O trabalho, publicado no "Journal of Food Composition and Analysis", utilizou a razão isotópica delta carbono 13 para identificar a proporção de carbono proveniente de plantas C3 (como o tomate) e C4 (como a cana-de-açúcar e o milho). Os resultados mostraram que, em média, 75% do carbono nos catchups vinha de plantas C4. A cana-de-açúcar, que fornece o açúcar e o vinagre, e o milho, cujos amidos podem ser usados na formulação, predominam nesse grupo. Em uma das marcas, esse percentual chegou a 92%, enquanto outra apresentou apenas 58,2%.>
Karina Gonçalves, botânica e primeira autora do estudo, comentou a surpresa com a quantidade de plantas C4 encontrada nos molhos. "A quantidade bastante elevada de plantas C4 foi uma surpresa", afirmou. "Embalagens de catchup costumam ser vermelhas, e todas trazem no rótulo imagens de tomate. Além disso, o fato de aparecer frequentemente no topo da lista de ingredientes leva a acreditar que tem muito tomate nos produtos", disse ela ao Uol.>
Embora a maioria das embalagens indique o tomate ou sua polpa como primeiro ingrediente — o que ocorre em cerca de 67% das marcas —, o estudo revela que esses produtos contêm uma quantidade considerável de outros ingredientes, como o açúcar (em segundo lugar em 62% dos rótulos) e o vinagre (em terceiro em 57% das amostras). Em algumas marcas, a água figura como o primeiro ingrediente, enquanto em outras nem mesmo é mencionada. Além disso, espessantes como o amido de milho são frequentemente usados para garantir a consistência característica do molho.>
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) define o catchup como um produto feito a partir da polpa de tomates maduros, podendo também incluir especiarias, condimentos, amidos e conservantes, desde que não descaracterizem o produto. No entanto, não existe uma exigência legal quanto à proporção mínima de tomate nos catchups ou a fórmula que deve ser seguida.>
Outro aspecto investigado foi a relação entre a quantidade de tomate e o preço dos produtos. O estudo concluiu que não há correlação entre o valor pago pelo consumidor e a presença de mais ou menos tomate no molho, sugerindo que o preço está mais vinculado à imagem do produto do que aos ingredientes usados. Também foi observada a ausência de uma relação entre o tipo de embalagem (garrafinhas ou sachês) e o conteúdo de tomate.>