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Estadão
Publicado em 25 de março de 2024 às 20:38
Deputados federais do PSOL acionaram nesta segunda-feira, 25, a Procuradoria-Geral da República (PGR) para que o ex-ministro Walter Braga Netto seja investigado por ter assinado, em 2018, a promoção do delegado Rivaldo Barbosa ao cargo de chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro. A primeira assinatura no documento é da líder do partido na Câmara, Erika Hilton (SP). >
Barbosa, preso de forma preventiva neste domingo, 24, é apontado pela Polícia Federal (PF) como suspeito de ter planejado o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Na época, Braga Netto era o chefe da intervenção federal na segurança pública do Rio.>
"É urgente que a sociedade brasileira tenha respostas sobre a nomeação do ex-chefe da polícia civil do Rio de Janeiro, mesmo contra o aconselhamento da inteligência. A Polícia Federal já descobriu que Rivaldo enriqueceu de maneira milionária durante o período em que esteve à frente da Polícia Civil, então é necessário que essa história seja investigada a fundo", disse Erika Hilton.>
"O general Braga Netto deve explicações ao conjunto da sociedade, pois não apenas era o interventor na Segurança Pública do Rio de Janeiro, como nomeou o delegado Rivaldo Barbosa mesmo tendo contra indicação por parte da Inteligência", afirmou a deputada Luciene Cavalcante (PSOL-SP), uma das vice-líderes do governo Lula no Congresso.>
Em nota divulgada neste domingo, 24, a defesa de Braga Netto disse que ele assinou a promoção de Barbosa apenas por "questões burocráticas". "Durante o período da intervenção federal na área da segurança pública no estado do Rio de Janeiro, em 2018, a Polícia Civil era diretamente subordinada à Secretaria de Segurança Pública", afirmam, em nota, os advogados do ex-ministro.>
"A seleção e indicação para nomeações eram feitas, exclusivamente, pelo então Secretário de Segurança Pública, assim como ocorria nas outras secretarias subordinadas ao Gabinete de Intervenção Federal, como a Defesa Civil e Penitenciária", diz outro trecho do comunicado. O secretário era o general Richard Nunes, indicado por Braga Netto.>
A nota é assinada pelos advogados Marcus Vinicius de Camargo Figueiredo e Luís Henrique César Prata. "Por questões burocráticas, o ato administrativo era assinado pelo Interventor Federal que era, efetivamente, o governador na área da segurança pública no RJ", diz outro trecho.>
Braga Netto foi nomeado como interventor na segurança do RJ pelo então presidente Michel Temer (MDB). Depois, foi ministro da Defesa e da Casa Civil do governo Bolsonaro e concorreu a vice na chapa derrotada do ex-presidente à reeleição, em 2022.>
"Importa salientar que Braga Netto foi alertado que Rivaldo Barbosa era suspeito de ter ligações com a milícia carioca - e mesmo assim bancou a indicação do então chefe da Delegacia de Homicídios para a Secretaria de Polícia Civil em março de 2018. O aviso foi dado antes de Barbosa ser nomeado, pelo então subsecretário de Inteligência da Secretaria de Segurança do Rio, o delegado da PF Fábio Galvão", diz a representação enviada pelo PSOL ao procurador-geral da República, Paulo Gonet.>
No relatório final sobre o caso Marielle, a PF aponta que Richard Nunes "bancou" a nomeação de Rivaldo, mesmo tendo recomendações contrárias.>
"Por sua vez, Braga Netto nomeou o General Richard Nunes como Secretário de Estado de Segurança Pública, tendo ele nomeado o Delegado Rivaldo Barbosa como seu Chefe de Polícia. Nesta altura, já estavam na iminência de eclodir as suspeitas retratadas nos PICs acima mencionados, o que ensejou, inclusive, a contraindicação de Rivaldo pela Subsecretaria de Inteligência, conforme reconhecido pelo General em sede de depoimento", diz o relatório da PF. "Entretanto, o General bancou a nomeação de Rivaldo à revelia do que havia sido recomendado.">
Por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), foi deflagrada neste domingo, 24, a Operação Murder Inc. para prender de forma preventiva, além de Rivaldo Barbosa, o deputado federal Chiquinho Brazão (União-RJ) e seu irmão Domingos, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ). Os três são suspeitos de serem os mandantes do crime. Também foram expedidos 12 mandados de busca e apreensão no Rio.>
A prisão dos suspeitos ocorreu após o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, anunciar a homologação da delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa, apontado como o responsável por executar os assassinatos, em março de 2018. O caso foi federalizado e passou a ser de responsabilidade do STF após Lessa citar o deputado Chiquinho Brazão, que tem foro privilegiado. A relatoria na Corte ficou o ministro Alexandre de Moraes.>
Lewandowski e o diretor-geral da PF, Andrei Passos, disseram neste domingo em entrevista coletiva, que as investigações mostram como motivação básica para o assassinato de Marielle o fato de ela se opor ao grupo dos mandantes do crime, que queria regularizar terras para fins comerciais. A vereadora defendia o uso dessas propriedades para a construção de moradias populares.>