Provas apontam participação de milícias em assassinato de Marielle, diz ministro

Primeira fase de operação da PF foi desencadeada hoje, após delação premiada de suspeito

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  • Da Redação

Publicado em 24 de julho de 2023 às 15:44

Marielle Franco
Marielle Franco Crédito: Marcelo Freixo/Wikimedia Commons

O ministro da Justiça, Flávio Dino, disse nesta segunda-feira (24) que as provas conseguidas pela Polícia Federal indicam que milicianos estão envolvidos no assassinato da vereadora Marielle Franco, em 2018.

Dino falou do caso com a imprensa hoje depois da operaçao Élpis, primeira fase da investigação da PF que apura a morte de Marielle e também do motorista Anderson Gomes, além da tentativa de homicídio contra assessora da vereadora, Fernanda Chaves. O ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa foi preso.

"Sem dúvida há a participação de outras pessoas, os fatos revelados e as provas colhidas indicam isso. Indica uma forte vinculação desses homicídios, especialmente da vereadora Marielle, com a atuação das milícias e o crime organizado no Rio de Janeiro. Isso é indiscutível", avaliou o ministro.

Cinco anos depois do assassinato, o crime ainda permanece com mistérios e não se sabe quem foi o mandante. Os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Queiroz foram presos pelas mortes, que aconteceram na noite de 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro.

Agora, Élcio fechou acordo de delação premiada com a polícia e o Ministério Público. Ele confirmou a própria participação no crime, além de implicar também Ronnie e Maxwell. O ex-bombeiro chegou a ser condenado por tentar atrapalhar a investigação do caso, mas estava em liberdade.

Na delação, Élcio disse que a arma usada para matar Marielle foi extraviada de um incêndio no Batalhão de Operações Especiais (Bope). Ronnie conhecia bem o armamento, que chegou a usar quando atuava no Bope.

"Houve um incêndio no Batalhão de Operações Especiais, no paiol, e essa arma foi extraviada. Essa e outras armas foram extraviadas nesse incêndio aí e essa arma ficou com uma pessoa que eu não sei quem é. Essa pessoa conseguiu fazer a manutenção dela e vendeu pra ele", afirmou Élcio.

Ele disse ainda que Ronnie não se desfez imediatamente da arma, mas com aumento da repercussão do caso ele "serrou" o armamento e jogou no mar. "No início, ele ficou com ela ainda, mas quando o negócio começou a tomar muito vulto mesmo, eu falei 'o que você fez com essa arma?' Ele falou 'eu serrei ela todinha' [...] Ele falou que serrou ela todinha, pegou a embarcação lá na Barra da Tijuca, foi numa parte que tinha trinta metros e jogou ali". Élcio não acreditou na versão, afirmando que Ronnie teria um "carinho" pela arma.

Ronnie Lessa está preso desde março de 2019, sendo condenado em 2021 a quatro anos e meio de prisão por ocultação das armas que teriam sido usadas para matar Marielle e Anderson.

'Ojeriza'

O promotor Eduardo Moraes disse nesta segunda-feira que a morte de Marielle foi motivada por conta das causas que ela defendia. Ele afirmou que Ronnie Lessa tinha "ojeriza" ao que Marielle defendia. Para o promotor, isso também não exclui outras motivações, já que o mandante ainda está sob investigação.

Dois dias antes da execução, Ronnie fez buscas na internet sobre a vereadora e a filha dela.

"Um fato leva o outro. Esse caso choca e chocará ao Brasil. Foram realizadas pesquisas pelo Ronny do CPF de Marielle e de sua filha dois dias antes do crime. Quando apresentado ao colaborador, foi incentivado. O depoimento da esposa do Ronnie indicou que no dia 14 - ambos não estavam na residência de Ronnie. A partir desses elementos, é apresentado ao colaborador, ele se sentiu a vontade em colaborará. Conseguimos concatenar as informações", disse o delegado da PF Guilhermo Catramby.