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Carol Neves
Estadão
Publicado em 14 de março de 2025 às 09:38
A Operação Mafiusi, que desmantelou uma rede internacional de tráfico de drogas ligada ao Primeiro Comando da Capital (PCC) e à máfia italiana, agora mira suspeitas de lavagem de dinheiro. Com base em informações de um delator, a Polícia Federal (PF) rastreou movimentações financeiras de alto valor em contas de pessoas jurídicas associadas à facção. Entre os nomes que apareceram nas investigações estão o cantor sertanejo Gusttavo Lima, o pastor Valdemiro Santiago e o bicheiro Adilson Oliveira Coutinho Filho, conhecido como Adilsinho. >
Embora a PF não os tenha incluído como indiciados, eles serão chamados para prestar depoimentos. Gusttavo Lima, cotado para ser vice em uma possível chapa presidencial liderada pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), negou irregularidades. Ele afirmou que a transação mencionada na investigação refere-se à compra legal de uma aeronave. Valdemiro Santiago e Adilsinho não se manifestaram. >
A operação, que está sob a tutela da 13.ª Vara Criminal Federal de Curitiba — a mesma da Operação Lava Jato —, foi impulsionada por delações, incluindo a de Marco José de Oliveira. O empresário Willian Barile Agati, apelidado de “concierge do PCC”, é apontado como o responsável por manter a rede de transações financeiras da facção. Ele está preso desde janeiro, mas seu advogado, Eduardo Maurício, defende sua inocência, afirmando que Agati é um “empresário idôneo e legítimo”. >
A PF identificou empresas suspeitas de atuar como fachadas para ocultar a origem ilícita dos recursos. Entre elas, destacam-se a Starway Locação de Veículos e a Starway Multimarcas, que movimentaram R$ 454,3 milhões entre 2020 e 2023. A investigação também levou à empresária Maribel Golin, representante legal da Aeroplan Aviação Ltda. e de outras quatro empresas. Segundo a PF, Maribel mantém uma relação próxima com Agati e suas movimentações financeiras somaram R$ 1,426 bilhão no período analisado, com apenas 3,44% declarados como fontes de receita legítimas. >
A Balada Eventos e Produções Ltda., empresa de Gusttavo Lima, foi citada por repassar R$ 57,5 milhões à JBT Empreendimentos, uma das empresas de Maribel. A PF destacou que não foram encontrados documentos que justificassem essas transações, sugerindo que o fluxo financeiro não condiz com o padrão usual de pagamentos de cachês ou atividades similares. A Balada Eventos negou irregularidades, afirmando que a transação foi legal e registrada na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). >
O delator Marco José de Oliveira também mencionou que um parente de Maribel “esquentava” dinheiro dentro da igreja de Valdemiro Santiago. Segundo ele, Agati teria assumido a posse de aviões do pastor devido a dívidas com o Fisco. Adilsinho, por sua vez, foi associado a transações de R$ 9 milhões com Maribel por meio da Adiloc Comercial Distribuidora, que opera como distribuidora de cigarros, mas tem cadastro relacionado a serviços de escritório. >
A defesa de Maribel Golin e da JBT Empreendimentos negou qualquer relação próxima com Agati e afirmou que todas as movimentações financeiras têm origem lícita. A PF, no entanto, continua investigando as ramificações do esquema, que envolve técnicas sofisticadas de ocultação de recursos ilícitos e a utilização de empresas de fachada em diversas cidades. >