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Os cinco mil búfalos selvagens que ameaçam reserva na Amazônia

Governo informou que está elaborando um projeto para avaliar os impactos ambientais

  • Foto do(a) author(a) Carol Neves
  • Foto do(a) author(a) Estadão
  • Carol Neves

  • Estadão

Publicado em 23 de fevereiro de 2025 às 19:41

Búfalos estão devastando reserva biológica em Rondônia.
Búfalos estão devastando reserva biológica em Rondônia. Crédito: Lidiane França/ICMBio

Mais de cinco mil búfalos selvagens estão causando devastação na Reserva Biológica (Rebio) Guaporé, no oeste de Rondônia, transformando uma área equivalente a 60 mil campos de futebol em um cenário desértico. O problema levou o Ministério Público Federal (MPF) a entrar com uma ação judicial contra o governo de Rondônia e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), pedindo a erradicação dos animais e uma indenização de R$ 20 milhões ao Estado.

Os búfalos, originários da Ásia, foram introduzidos na região em 1953 pela antiga Fazenda Pau d'Óleo, como parte de um projeto estadual de incentivo à pecuária. Após o abandono da fazenda, os 36 animais iniciais se reproduziram livremente, sem predadores naturais, e hoje ocupam 96 mil hectares da Rebio Guaporé. O MPF alerta que, sem controle, a população pode chegar a 50 mil búfalos até 2030, ocupando metade da reserva.

O governo de Rondônia informou que está elaborando um projeto para avaliar os impactos ambientais e propor medidas de mitigação, mas destacou a dificuldade de controlar animais selvagens. Já o ICMBio ressaltou os desafios logísticos, já que a área é isolada, sem estradas ou ramais, o que inviabiliza a remoção dos animais, vivos ou mortos. Além disso, a falta de acompanhamento sanitário impede o abate para consumo.

O MPF pede que o controle seja feito com métodos que causem o menor sofrimento possível aos animais e sem danos ao meio ambiente. O procurador da República Gabriel Amorim, responsável pela ação, alerta que a presença descontrolada dos búfalos pode prejudicar a pecuária de Rondônia, que tem o sexto maior rebanho bovino do Brasil, além de causar impactos ambientais graves. "A existência descontrolada desses animais, inclusive, pode manchar a credibilidade da cadeia da pecuária de Rondônia, prejudicando gravemente a economia local", afirma Amorim.

Os búfalos estão alterando cursos d'água, provocando erosões, pisoteando o solo e causando desertificação. Desde 2008, os ambientes alagados da reserva foram reduzidos em 48%. Além disso, os animais competem por alimentos com o cervo do pantanal, espécie ameaçada de extinção, e destruíram sítios arqueológicos da região.

A ação do MPF pede que o ICMBio apresente, em até dez meses, um plano de controle dos búfalos, a ser executado pelo Estado de Rondônia com seus próprios recursos. O governo estadual também deve elaborar um plano de recuperação da área degradada. O caso tramita na 5ª Vara da Seção Judiciária de Rondônia, que trata de questões ambientais.

Em 2015, o governo de Rondônia chegou a discutir com o ICMBio um plano para o controle dos búfalos, que incluía a construção de currais, cochos, um incinerador para carcaças e alojamentos, com custo estimado em R$ 1,6 milhão, além de R$ 600 mil anuais para operação. No entanto, o projeto não avançou.

O problema dos búfalos na Rebio Guaporé é um exemplo da ameaça que espécies invasoras representam para a biodiversidade brasileira. Segundo o Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, o Brasil convive com 272 espécies exóticas invasoras, que chegam ao país de forma acidental ou intencional, como no caso do javali, que se espalhou por diversos ecossistemas. O controle dessas espécies é autorizado sob condições especiais pelos órgãos ambientais, como no caso do abate de javalis em unidades de conservação de São Paulo, licitado em dezembro passado.