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Onda de calor: quem tem doença crônica precisa redobrar os cuidados

Pessoas com hipertensão, arritmia, insuficiência cardíaca ou renal devem cuidar da hidratação e, em alguns casos, até ajustar a medicação em dias muito quentes

  • Foto do(a) author(a) Esther Morais
  • Foto do(a) author(a) Agência Einstein
  • Esther Morais

  • Agência Einstein

Publicado em 18 de fevereiro de 2025 às 08:37

Onda de calor continua e Inmet alerta para risco de morte
Onda de calor continua no Brasil Crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil

A onda de calor que dura desde o fim de janeiro em diversos estados do Brasil, como Rio de Janeiro, Goiás e Rio Grande do Sul, pode trazer riscos sérios à saúde. Com temperaturas que ultrapassam 40°C, o calor acende um alerta nos cuidados para crianças e idosos, que são mais vulneráveis às mudanças bruscas de temperatura, e para quem já tem doenças como cardiopatias ou problemas renais.

Isso acontece porque, quando é exposto a altas temperaturas, como acontece em dias de ondas de calor, o corpo humano recorre a alguns mecanismos fisiológicos para tentar reequilibrar a hipertermia e voltar à temperatura regular, que deve ficar entre 35,5°C e 37°C.

O primeiro mecanismo é a transpiração, processo fundamental em que o corpo tenta diminuir a temperatura por meio do suor. O segundo mecanismo é a vasodilatação, quando os vasos sanguíneos se dilatam numa tentativa de aumentar a troca de calor entre a pele e o ambiente externo, resfriando o corpo.

“Juntamente com isso, existe um aumento da frequência cardíaca e a queda da pressão arterial provocada pela vasodilatação. Também há perda de líquido e de eletrólitos por meio do suor. Isso pode gerar um desequilíbrio, como desidratação”, explica o cardiologista Marcelo Franken, gerente de Cardiologia do Hospital Israelita Albert Einstein e diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp).

Diante do calor intenso e das dificuldades para regular a própria temperatura, outras possíveis consequências são quadros de estresse térmico, exaustão térmica e insolação. Na fase de estresse térmico, o corpo reage com dor de cabeça, tontura, náusea e até cãibras pelas alterações nos eletrólitos.

Na exaustão térmica, a situação fica um pouco mais preocupante, pois a dor de cabeça piora, começa um pouco de confusão mental, as cãibras se agravam e a pessoa pode ter vômitos. “Nessa fase ainda existe uma sudorese excessiva, numa tentativa de resolver o problema, e a temperatura do corpo pode começar a subir”, descreve o cardiologista.

Quando chega a fase da insolação, significa que o organismo perdeu a capacidade de regular sua própria temperatura. A pele fica seca (porque o corpo deixa de transpirar), a temperatura sobe (pode ultrapassar os 40°C) e pode haver uma redução do nível de consciência e desmaios, que podem evoluir para uma crise convulsiva. “Todos os sintomas pioram. Essa é uma emergência médica que, se não for tratada rapidamente, pode evoluir para óbito”, alerta Franken.

Crianças, idosos e mulheres grávidas são mais vulneráveis. Os idosos têm mais dificuldade de fazer esses mecanismos adaptativos funcionarem adequadamente e, muitas vezes, não sentem sede, reduzindo a hidratação. “Quando sentem sede já estão confusos ou não têm condições de ir buscar água”, observa o médico do Einstein.

Bebês menores de 2 anos têm mais dificuldade de comunicação e podem não conseguir pedir água. Já as grávidas são mais propensas a queda de pressão e desidratação porque estão com o organismo sobrecarregado, e fica mais difícil para o corpo fazer funcionar seus mecanismos adaptativos.

Risco das doenças crônicas

Pacientes cardiopatas, que sofrem com hipertensão ou insuficiência cardíaca, por exemplo, podem ter sua condição de saúde agravada pelo estresse térmico. De acordo com Franken, essas pessoas vivem num “equilíbrio fino” entre os medicamentos para controle da pressão, diuréticos e a quantidade de água no organismo.

Quando a pessoa perde muito líquido pela transpiração, sofre vasodilatação e a pressão arterial cai. Com isso, pode ser necessário ajustar as doses dos medicamentos ao contexto do calor. “Isso significa que as pessoas não devem tomar remédio de pressão em dias de calor? Não, de jeito nenhum. Mas pode ser necessário consultar o médico para ajustes pontuais”, sugere Franken. Nesses casos, é importante ficar atento à pressão arterial, ao nível de hidratação (observando a quantidade e a coloração da urina, por exemplo) e a sintomas como moleza e tontura.

Muitos cardiopatas convivem com arritmias, que podem piorar nessa situação de estresse – seja porque o próprio calor aumenta a frequência cardíaca, seja porque as alterações dos níveis de sais minerais no sangue podem piorar quadros preexistentes. “Mesmo quem está com a arritmia controlada, se os níveis de potássio aumentarem ou diminuírem muito, o quadro pode ser agravado”, alerta o médico.

Pessoas com insuficiência cardíaca, por outro lado, podem sentir um aumento na carga sobre o coração durante os dias quentes. É que o estresse térmico faz com que o órgão bombeie mais rápido para dissipar o calor do corpo, e isso pode agravar a condição.

Quem sofre com insuficiência renal também precisa redobrar os cuidados: a desidratação e a pressão extra sobre os órgãos devido ao calor podem prejudicar os rins, especialmente em quem já tem doenças renais crônicas.

“A perda excessiva de líquidos pode piorar a função renal e desencadear alterações inflamatórias que podem levar a lesões musculares. Essas lesões podem soltar na circulação substâncias da degradação muscular, que podem ser tóxicas ao rim. É o que chamamos de rabdomiólise”, detalha Marcelo Franken.

A desidratação é uma das causas do rebaixamento do nível de consciência. Por isso, pessoas com doenças neurológicas, como demência e Alzheimer, também precisam de mais cuidados em dias muito quentes. Há risco de evoluírem para quadros de confusão mental, sonolência, comportamentos não usuais, entre outras complicações.

Risco de infarto e AVC

As temperaturas muito altas também aumentam o risco de infarto e acidade vascular cerebral (AVC). Isso porque o calor desencadeia alterações inflamatórias na corrente sanguínea que, associadas à desidratação e à sobrecarga do sistema cardiovascular, elevam o risco de coagulação e eventos trombóticos.

“Muitas vezes, as pessoas adotam hábitos pouco saudáveis nos dias de calor, entre eles, a ingestão excessiva de álcool. A exposição prolongada ao sol, o aumento do consumo de álcool e a desidratação são uma combinação perigosa”, adverte o cardiologista.

Franken reforça a importância de medidas preventivas, como hidratação constante, uso de roupas leves e proteção solar, bem como evitar atividades físicas ao ar livre durante os períodos mais quentes do dia.

Outra recomendação é, sempre que possível, procurar um lugar à sombra, de preferência com ar-condicionado, e se refrescar com uma ducha, toalha molhada ou lavando o rosto. Prefira alimentos leves e pouco calóricos e, quando necessário, converse com seu médico para checar se é necessário fazer ajustes nas medicações.