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Carol Neves
Publicado em 3 de fevereiro de 2025 às 14:25
A obesidade está relacionada a diversas doenças comuns, como diabetes tipo 2, problemas cardiovasculares, doença hepática gordurosa e osteoartrite no joelho. Uma mudança no entendimento da doença pode também alterar a maneira como ela é vista e tratada.>
Atualmente, o diagnóstico de obesidade é feito com base no Índice de Massa Corporal (IMC), calculado dividindo o peso (em quilogramas) pela altura ao quadrado (em metros). Para pessoas de origem europeia, um IMC superior a 30 kg/m² é considerado indicativo de obesidade.>
Contudo, o IMC não é o único fator que determina o risco à saúde. Uma colaboração internacional passou os últimos dois anos discutindo mudanças nessa abordagem. Segundo artigo publicado na revista The Lancet, um corpo maior não deve ser automaticamente associado à "obesidade clínica". A definição deve levar em conta não só a quantidade de gordura, mas também a sua distribuição no corpo e os problemas de saúde relacionados, explica a publicação The Conversation. >
Qual o problema com o IMC?>
O risco de doenças está mais relacionado à proporção de gordura, músculos e ossos no corpo, assim como à localização da gordura. Atletas, por exemplo, podem ter um IMC elevado, até acima de 30 kg/m², devido à sua alta massa muscular, e não por acúmulo excessivo de gordura.>
A gordura abdominal, especialmente a armazenada ao redor dos órgãos internos, aumenta o risco de problemas de saúde. Esse tipo de gordura pode liberar substâncias nocivas no sangue, afetando outras partes do corpo. No entanto, o IMC não revela se uma pessoa está sofrendo com doenças associadas ao excesso de gordura. Um IMC elevado pode, por exemplo, não indicar riscos de saúde em pessoas altas ou com distribuição saudável de gordura.>
Por outro lado, algumas pessoas com alto IMC e excesso de gordura podem não apresentar doenças associadas. O IMC, portanto, é uma ferramenta limitada para diagnosticar obesidade.>
O que muda na definição?>
O objetivo da Lancet era redefinir o diagnóstico de obesidade, com foco em critérios mais amplos. A comissão, formada por especialistas do King’s College London e outros, ajustou os parâmetros para incluir fatores como a circunferência da cintura, em vez de depender exclusivamente do IMC.>
A nova definição propõe duas categorias de obesidade com base em sinais e sintomas relacionados à saúde:>
Obesidade Clínica: Refere-se a pessoas com sinais de disfunção orgânica contínua ou dificuldades com tarefas diárias (como se vestir ou tomar banho). O diagnóstico pode incluir condições como falta de ar, insuficiência cardíaca, pressão alta, doenças hepáticas, entre outros problemas. Existem 18 critérios de diagnóstico para adultos e 13 para crianças e adolescentes.>
Obesidade Pré-clínica: Nesta categoria, a pessoa tem uma quantidade excessiva de gordura corporal, mas sem problemas de saúde evidentes. Embora ainda não haja redução da função de órgãos ou tecidos, essas pessoas estão em risco elevado de desenvolver doenças como diabetes tipo 2, insuficiência cardíaca e certos tipos de câncer.>
O que isso significa para o tratamento?>
A obesidade clínica requer tratamento médico para melhorar a saúde do indivíduo. Esse tratamento pode incluir controle das complicações associadas à obesidade, como mudanças no comportamento alimentar e na atividade física, medicamentos para controle de apetite, e até mesmo cirurgia bariátrica para reduzir os riscos de saúde.>
Para aqueles com obesidade pré-clínica, o foco do tratamento deve ser a prevenção de problemas de saúde futuros. Mudanças de comportamento, acompanhamento contínuo e monitoramento do risco, considerando fatores como histórico familiar e alterações no peso ao longo do tempo, são fundamentais.>
A distinção entre pessoas com obesidade clínica e pré-clínica permitirá abordagens personalizadas para prevenção e tratamento, otimizando os recursos de saúde de forma mais econômica e eficaz.>
E agora?>
Os novos critérios para o diagnóstico de obesidade clínica precisam ser incorporados nas diretrizes nacionais e internacionais de saúde. Será essencial educar tanto profissionais de saúde quanto o público em geral sobre essas mudanças.>
Essa redefinição da obesidade pode ajudar a combater o estigma associado a corpos maiores, rompendo com ideias preconceituosas sobre a saúde dessas pessoas. Além disso, uma compreensão mais detalhada sobre os efeitos biológicos da obesidade permitirá que indivíduos com corpos maiores recebam avaliações personalizadas e baseadas em evidências, sem julgamento ou culpabilização.>