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Carol Neves
Estadão
Publicado em 25 de fevereiro de 2025 às 14:18
O promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que há 20 anos investiga o Primeiro Comando da Capital (PCC), alertou que a facção criminosa elevou seu patamar de lavagem de dinheiro, utilizando métodos cada vez mais sofisticados. Durante coletiva à imprensa, ele destacou que o grupo, que antes enterrava dinheiro em casas-cofre e depois recorria a doleiros, agora opera no mercado financeiro formal, criando suas próprias instituições. "Melhor do que você ter laranjas para lavar dinheiro ou montar uma empresa de fachada, é você ter o seu próprio banco. Infelizmente, é isso que a gente está assistindo. O crime organizado já montando as suas próprias instituições, de acordo com as regras do jogo", afirmou Gakiya. >
A Operação Hydra, deflagrada nesta terça-feira, 25, em parceria com a Polícia Federal, mira duas fintechs suspeitas de atuar como facilitadoras da lavagem de dinheiro do PCC. As empresas investigadas são a 2Go Instituição de Pagamento LTDA e a Invbank Solução de Pagamentos. Segundo o Ministério Público, elas direcionavam depósitos para contas de "laranjas" controladas pelas próprias empresas, transferindo recursos para a compra de imóveis, bens ou contas no exterior, dificultando a fiscalização por órgãos como o Banco Central e a Receita Federal.>
Gakiya ressaltou que a desburocratização do setor financeiro, especialmente com o crescimento das fintechs, criou brechas que facilitam a lavagem de capitais. Ele explicou que algumas dessas empresas operam como bancos, oferecendo empréstimos, cartões de crédito e fundos de aplicação, o que permite a pulverização de recursos ilícitos. "Há, de fato, uma brecha, de que há um caminho que possa ser explorado, infelizmente, como facilitador para que o crime organizado utilize essas fintechs para lavar dinheiro", disse.>
A Operação Hydra é a segunda iniciativa do tipo contra o PCC. Em agosto do ano passado, a Operação Concierge investigou bancos digitais usados pela facção. Agora, as autoridades identificaram uma rede de "laranjas" e operadores ligados às fintechs, incluindo um pedreiro, um beneficiário do auxílio emergencial da pandemia e réus por crimes como roubo, lavagem de dinheiro e tráfico.>
O promotor também destacou que o Ministério Público adaptou suas estratégias de investigação nos últimos anos. Após duas décadas focadas em identificar membros do PCC e suas funções na organização, o foco agora está nos negócios ilícitos da facção. Gakiya criticou a deficiência na legislação e na fiscalização do setor financeiro, que permite que o crime organizado explore essas brechas para lavar dinheiro em grande escala.>