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Não é necessário detox de proteína da vacina contra a covid-19

Há uma ação disciplinar do Conselho Americano de Medicina Interna (Abim, na sigla em inglês) contra o médico que recomenda a conduta

  • Foto do(a) author(a) Projeto Comprova
  • Projeto Comprova

Publicado em 30 de abril de 2024 às 20:52

Enganoso: Não há evidência que a proteína spike, produzida no corpo humano a partir de vacinas contra covid-19, cause ferimentos nas pessoas imunizadas, nem que medicamentos poderiam eliminá-la do organismo, como alega um post no X. Especialistas consultados pelo Comprova explicaram que a proteína é naturalmente eliminada poucos dias após a vacinação, e alertaram que a automedicação com as substâncias indicadas pode trazer prejuízos. Há uma ação disciplinar do Conselho Americano de Medicina Interna (Abim, na sigla em inglês) contra o médico que recomenda a conduta.

Conteúdo investigado: Publicação traduzida do inglês traz lista de substâncias indicadas pelo médico Peter McCullough para “desintoxicação” da proteína S presente na vacina contra a covid-19. O mesmo conteúdo contém o vídeo original com falas do médico sobre o assunto.

Não é necessário detox de proteína da vacina contra a covid-19
Não é necessário detox de proteína da vacina contra a covid-19 Crédito: Projeto Comprova

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Não há comprovação científica de que as substâncias indicadas pelo cardiologista norte-americano Peter McCullough para um suposto detox contra os efeitos da vacina da covid-19 possam eliminar a proteína S do organismo após a imunização, diferentemente do que afirma post.

A proteína spike está presente no Sars-CoV-2 como estrutura que conecta o vírus à célula humana. Os imunizantes de tecnologia RNA mensageiro, como o da Pfizer, ensinam o corpo a produzir a mesma proteína para que o sistema imunológico crie anticorpos contra ela.

Conforme explica Eduardo Silveira, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), não faz sentido afirmar que há uma intoxicação da proteína S após a vacinação porque ela é eliminada do corpo em poucos dias.

"No organismo, quando se vacina uma pessoa, tudo é processado rapidamente e em menos de uma semana você não tem mais absolutamente nenhuma proteína circulando porque ela é rapidamente reconhecida por anticorpos e eliminada. Algumas enzimas das células vão degradar aquele material"

Eduardo Silveira

professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP

O suposto detox elaborado por McCullough inclui nattoquinase, bromelaína e curcumina para ajudar a “degradar a proteína spike” após a vacinação. O médico também recomenda tratamentos adicionais com hidroxicloroquina, ivermectina, colchicina, adesivo de nicotina ou aciclovir oral e naltrexona.

Ao Comprova, o Ministério da Saúde esclareceu que nenhuma dessas substâncias têm relação comprovada de eficácia contra qualquer eventual efeito das vacinas da covid-19. “A automedicação pode apresentar diversos riscos para a saúde, incluindo o agravamento de sintomas ou condições médicas, reações alérgicas e resistência antimicrobiana”, alerta o comunicado.

Além disso, assim como explicou Silveira, não há evidências que comprovem danos causados pela proteína spike às pessoas vacinadas, segundo a pasta. “A afirmação de que as pessoas são ‘feridas’ pela proteína spike das vacinas não possui embasamento científico confiável”, diz a nota.

O infectologista Igor Queiroz, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, destaca que a eficácia das substâncias citadas no post não foi comprovada em humanos nem mesmo contra a doença.

"Esses compostos podem ser até que funcionem no laboratório, num tubo de ensaio, mas quando vai colocar no organismo humano, o que a gente fez com várias medicações, como a hidroxicloroquina e a ivermectina, é como um placebo. Não tem ação contra o vírus nos seres humanos"

Igor Queiroz

infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia

McCullough é conhecido por disseminar desinformações no contexto da pandemia. O médico já foi alvo de outras verificações do Comprova, como a que demonstrou que a revisão de um estudo publicado no site do Ministério da Saúde não garante eficácia da hidroxicloroquina no tratamento preventivo contra a covid-19 e que estudos fraudados não deslegitimam artigos que comprovam ineficácia da substância.

O médico também foi citado em checagens na imprensa internacional, como a que demonstrou que um evento em que ele criticou a Organização Mundial de Saúde (OMS) não foi oficialmente organizado pelo Parlamento Europeu, ao contrário do que se divulgou nas redes sociais. Contra McCullough há uma ação disciplinar do Conselho Americano de Medicina Interna (ABIM, na sigla em inglês) por alegações infundadas relacionadas às vacinas.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até a publicação deste texto, o post contabilizava mais de 70 mil visualizações. O conteúdo original, no entanto, ultrapassa a marca de 1,3 milhão de visualizações e mais de 30 mil interações.

Fontes que consultamos: Consultamos o Ministério da Saúde, o infectologista Igor Queiroz, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, e Eduardo Silveira, professor da USP. Também resgatamos verificações anteriores do Comprova sobre o médico Peter McCullough e a proteína spike.

Automedicação pode trazer riscos à saúde

O Ministério da Saúde alerta que é difícil garantir a segurança e a eficácia de qualquer tratamento sem o diagnóstico e a supervisão de um profissional de saúde qualificado. A pasta também deu mais detalhes sobre as substâncias sugeridas pelo médico do conteúdo aqui verificado e esclareceu que não há qualquer evidência científica ou relação entre o uso delas com o tratamento da covid-19.

  • Nattoquinase, bromelaína e curcumina: são substâncias naturais que podem ter propriedades anti-inflamatórias e anticoagulantes.

  • Hidroxicloroquina, ivermectina e colchicina: são drogas que têm sido objeto de debate em relação ao seu uso no tratamento ou prevenção da covid-19. No entanto, estudos científicos publicados até o momento não forneceram evidências conclusivas de que elas sejam eficazes contra a doença. Além disso, essas drogas podem causar efeitos colaterais graves e até mesmo fatais quando usadas de forma inadequada.

  • Adesivo de nicotina ou aciclovir oral: O uso de nicotina pode ser prejudicial à saúde. O aciclovir é um medicamento antiviral usado principalmente para tratar infecções por herpes.

  • Naltrexona: é um medicamento usado no tratamento de dependência de substâncias e para reduzir os desejos de álcool ou opioides. Seu uso indevido pode ter consequências sérias.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Outras alegações infundadas do médico Peter McCullough já foram verificadas por agências de checagem, incluindo a do boato antigo que engana sobre efeitos colaterais da vacina da covid-19, as afirmações enganosas sobre a suposta relação de óbitos com o imunizante a partir de um estudo que não foi revisado e a informação falsa de casos de miocardite após a vacinação.