MPF investigará pastor André Valadão por homofobia

Pastor disse em culto que, se pudesse, 'Deus mataria' a população LGBTQIA+ e orientou fiéis 'irem para cima'

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  • Da Redação

Publicado em 3 de julho de 2023 às 23:38

André Valadão
André Valadão Crédito: Divulgação

O Ministério Público Federal no Acre (MPF-AC) instaurou, nesta segunda-feira (3), um procedimento para apurar possível prática de homofobia por parte do pastor André Valadão. O líder religioso disse durante um culto nos Estados Unidos que, se pudesse, "Deus mataria", fazendo alusão à comunidade LGBTQIA+.

O autor do procedimento que apura a prática de homotransfobia é o procurador-regional dos Direitos do Cidadão no Acre, Lucas Costa Almeida Dias.

"Segundo vídeos apresentados em matérias jornalísticas, o investigado usou expressões como: 'Agora é a hora de tomar as cordas de volta e dizer: Pode parar, reseta! Mas Deus fala que não pode mais', afirma o pastor. 'Ele diz, ‘já meti esse arco-íris aí. Se eu pudesse, matava tudo e começava de novo. Mas prometi que não posso’, agora tá com vocês'", diz o MPF.

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) também enviou uma representação ao Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) contra o pastor.

Para o religioso, em uma pregação intitulada "teoria da conspiração", o casamento homoafetivo teria supostamente "aberto as portas" para paradas com "homens e mulheres nu com seus orgãos genitais expostos diante de crianças". "Essa porta foi aberta quando nós tratamos como normal o que a Bíblia já condena", acusa o pastor, em ataque à comunidade LGBT+.

Segundo ele, agora seria "a hora de tomar as cordas de volta e dizer: Pode parar, reseta! Mas Deus fala que não pode mais. Ele diz, 'já meti esse arco-íris aí. Se eu pudesse, matava tudo e começava de novo. Mas já prometi pra mim mesmo que não posso, então agora tá com vocês'", afirma o pastor, fazendo referência à história bíblica do dilúvio, quando o Deus hebraico teria inundado toda a Terra e salvado apenas uma família de fiéis. O arco-irís significa um juramento de que Deus jamais voltaria a destruir tudo dessa forma.

Nesse sentido, o pastor repete: "você não pegou o que eu disse, tá com você. Vou falar de novo, tá com você. Sacode uns quatro do teu lado e fala: 'vamos para cima'".

Em nota, a deputada Erika Hilton, que é presidente da Frente Parlamentar Mista por Cidadania e dos Direitos LGBTI+, afirmou que "o pastor reiteradamente prega violência e intolerância contra pessoas já bastante vulnerabilizadas, mas dessa vez, André Valadão dobrou a aposta e, de maneira direta, disse falou em 'recomeçar do zero', incentivando evangélicos a matarem pessoas da comunidade LGBT". Reiterou, ainda, que "não se trata de liberdade de expressão, e sim de repetidos crimes, agora com evidentes tons de crueldade."

O pastor já sofreu outra representação no MP por transfobia e, como já mostrado pelo Estadão, começou uma campanha dizendo que "Deus odeia o orgulho", em referência ao mês do Orgulho LGBT+, celebrado em junho. "Ah, esse mês é o mês da humilhação", diz o pastor em vídeo vinculado ao post.

Durante a campanha eleitoral de 2022, Valadão também fez ataques contra o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva e simulou ter sido obrigado pelo TSE a se retratar. O tribunal negou existir qualquer sentença nesse sentido.

COM A PALAVRA, ANDRÉ VALADÃO

A coluna tentou contato com a Igreja Lagoinha de Orlando e com a Igreja Batista da Lagoinha de Belo Horizonte, em Minas Gerais, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria. O pastor André Valadão, no entanto, fez uma postagem em suas redes sociais afirmando que sua pregação "nunca será sobre matar pessoas". Segundo ele, isso são "narrativas que tentam colocar na mídia".

Em sua justificativa, ele diz que usa o termo usado na história do dilúvio, quando, em suas palavras, "Deus destrói todo o mundo por causa da promiscuidade, por causa da libertinagem". Repete ainda que "Deus não tem como resetar, não vai matar, não vai recomeçar a humanidade", então caberia aos fiéis, "nós resetarmos". "Mas não digo em nós matarmos, nós aniquilarmos pessoas, digo que cabe a nós levar o homem, o ser humano ao princípio daquela que é a vontade de Deus", afirma, indicando que a população LGBT+ estaria fora dessa "vontade".

Ele ainda ataca a legislação, falando sobre "leis do anticristo" e deslegitimando a "democracia de direita ou esquerda". Alega, então, que "os princípios de um cristão genuíno não estão firmados em leis ou governanças humanas, estão firmados em sua fé".