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Carol Neves
Publicado em 18 de fevereiro de 2025 às 11:19
Um estudo sugere que a mediunidade pode ter uma base genética. Coordenado por Wagner Farid Gattaz, professor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, o trabalho foi publicado "Brazilian Journal of Psychiatry" e comparou 54 médiuns com 53 de seus parentes próximos, sem habilidades mediúnicas, entre 2020 e 2021. O objetivo era investigar se fatores genéticos poderiam estar ligados a essa capacidade.>
"O estudo desvendou alguns genes que estão presentes em médiuns, mas não em pessoas que não o são e têm o mesmo background cultural, nutritivo e religioso", disse o pesquisador à Folha de S. Paulo. "Isso significa que alguns desses genes poderiam estar ligados ao dom da mediunidade", avaliou. >
Os médiuns foram selecionados com base em sua prática constante da mediunidade, sem receber pagamento por consultas. Os resultados apontaram cerca de 16 mil variantes genéticas exclusivas dos médiuns, com possível impacto em 7.269 genes, sugerindo que essas alterações poderiam influenciar as experiências espirituais. Umbanda e espiritismo foram as principais fontes religiosas.>
Um dos achados mais interessantes, de acordo com Gattaz, é a associação de algumas dessas variantes com o sistema imune e inflamatório, além de uma possível conexão com a glândula pineal, conhecida historicamente como responsável pela ligação entre o corpo e a mente. Contudo, Gattaz alerta que essa hipótese ainda precisa de confirmação experimental.>
A pesquisa se diferencia ao contrastar os médiuns com seus próprios familiares, uma abordagem justificada por Alexander Moreira-Almeida, coautor do estudo, como uma forma de eliminar variáveis sociais e econômicas. A análise do exoma, que representa a parte funcional do genoma responsável pela codificação de proteínas, foi central para o estudo.>
Testemunhos de médiuns que participaram da pesquisa revelam experiências pessoais que ajudam a contextualizar o estudo. Darcy Neves Moreira, de 82 anos, por exemplo, relata ter descoberto sua mediunidade ainda jovem, aos 18 anos, ao sentir a presença de espíritos. Já Roberto Lúcio Vieira de Souza, 66, conta que, desde a adolescência, sofria com sintomas físicos inexplicáveis, que mais tarde associou a experiências de vidas passadas. Esses relatos ajudam a ilustrar o tipo de percepção que o estudo busca compreender.>
Embora a pesquisa aponte para possíveis bases biológicas para a mediunidade, o pesquisador reforça que não existe um "combo" de genes determinante para que alguém seja médium, mas sim a sugestão de que certos genes podem ser mais relevantes no desenvolvimento dessa habilidade. O estudo abre portas para investigações futuras sobre a relação entre genética e mediunidade, áreas ainda pouco exploradas pela ciência.>