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Da Redação
Publicado em 12 de janeiro de 2024 às 17:38
Um estudo publicado na revista Science revelou que 82% das mais de 2.000 espécies exclusivas de árvores encontradas na Mata Atlântica estão ameaçadas de extinção. O trabalho também apresentou a Lista Vermelha das quase 5000 espécies de árvores encontradas no bioma.
Muitas espécies emblemáticas da Mata Atlântica, como Pau-Brasil, Araucária, Palmito-juçara, Jequitibá-Rosa, Jacarandá-da-Bahia, Braúna, Cabreúva, Canela-Sassafrás, Imbuia, Angico e Peroba, foram classificadas como espécies ameaçadas de extinção.
Um total de 13 espécies que são encontradas apenas na Mata Atlântica, foram classificadas como possivelmente extintas. Por outro lado, cinco espécies que antes eram consideradas extintas na natureza foram redescobertas pelo estudo.
Mais de 3 milhões de registros de herbários e de inventários florestais foram utilizados, além de informações detalhadas sobre a biologia, ecologia e usos das espécies de árvores, palmeiras e samambaiaçus.
“O quadro geral é muito preocupante. A maioria das espécies de árvores da Mata Atlântica foi classificada em alguma das categorias de ameaça da União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN)”, diz Renato Lima, professor da Universidade de São Paulo que liderou o estudo. Segundo o professor, o resultado já era esperado, pois a Mata Atlântica perdeu a maioria das suas florestas e, com elas, as suas árvores.
A maioria das avaliações de risco de extinção atualmente disponíveis se baseia apenas na distribuição geográfica das espécies. Mas o declínio no número de árvores adultas causado pelo desmatamento é a principal causa de ameaça das espécies, principalmente em hotspots globais de biodiversidade altamente alterados como a Mata Atlântica.
Para estimar o declínio das populações, dados de inventários florestais ao longo de toda a Mata Atlântica foram reunidos em uma única base de dados para permitir entender como o número de árvores foi reduzido pelo desmatamento ao longo do tempo.
O pesquisador Hans ter Steege, coautor do trabalho, relembra que o estudo não se limitou à avaliação da ameaça de extinção apenas na Mata Atlântica. “Fizemos projeções sobre qual seria a magnitude do impacto da perda de florestas sobre as espécies de árvores em escala global.” Essas projeções incluíram os principais maciços de florestas tropicais do mundo. “As projeções indicam que entre 35-50% das espécies de árvores do planeta podem estar ameaçadas apenas devido ao desmatamento", conclui ter Steege.
Além destas projeções, o estudo propõe um fluxo metodológico e ferramentas para implementá-lo em larga escala, permitindo avaliar o grau de ameaça de milhares de espécies simultaneamente. “Isso também permite aplicar a mesma abordagem para outras regiões do mundo ou até outras formas de vida, como orquídeas ou bromélias, por exemplo”, lembra Gilles Dauby, também coautor do estudo.
A abordagem é usada para avaliar o grau de ameaça das espécies e será utilizada de forma sistematizada a partir de 2024 para avaliar as cerca de 12.000 espécies de plantas que são encontradas apenas no Brasil e que ainda não tiveram o seu grau de ameaça avaliado oficialmente.
O estudo considerou apenas ameaças passadas, como o desmatamento, e não as ameaças futuras, como as mudanças climáticas, que podem acelerar os riscos de extinção de espécies.
Além da conservação das espécies em jardins botânicos e bancos de germoplasma, os Planos de Ação Nacionais (PANs) podem ser usados para melhorar o cenário. Os PANs são instrumentos de promoção de políticas públicas direcionadas à conservação e à recuperação de espécies ameaçadas no Brasil, em especial àquelas em risco iminente de desaparecer.
Outra saída para buscar reverter as perdas de espécies de árvores na Mata Atlântica é a restauração florestal, como comenta André de Gasper, professor da FURB e coautor do estudo. “Projetos de restauração, em áreas abertas ou em fragmentos degradados, podem selecionar preferencialmente as espécies regionais mais ameaçadas da Mata Atlântica, visando estimular a produção de sementes e mudas destas espécies e a recuperação das suas populações de árvores na natureza”.
No período de janeiro a agosto de 2023, o desmatamento na Mata Atlântica caiu 59% em comparação com o mesmo período de 2022, informa o novo boletim do Sistema de Alertas de Desmatamento, parceria entre a Fundação SOS Mata Atlântica, a Arcplan e o MapBiomas.
Consolidados na plataforma MapBiomas Alerta, os dados mostram que a área desmatada entre janeiro e agosto foi de 9.216 hectares, ante 22.240 hectares registrados no mesmo período do ano passado.
Segundo a SOS Mata Atlântica, o levantamento reforça a tendência de redução significativa no desflorestamento do bioma já observada desde o início do ano. Boletim anterior, divulgado em julho, mostrou que a redução era de 42% até o mês de maio, quando a área desmatada estava em 7.088 hectares, ante 12.166 hectares registrados no mesmo período do ano anterior.
“Nos últimos anos do governo Bolsonaro, o desmatamento aumentou. Agora a gente tem uma reversão de tendência, porque o desmatamento no bioma estava em alta e agora, com esses dados parciais, está em baixa, com 59%. Há uma redução significativa, um número surpreendente, muito bom”, diz o diretor executivo da Fundação SOS Mata Atlântica, Luís Fernando Guedes Pinto.
Ele ressalta que estados que costumam ser líderes do desmatamento, como Paraná e Santa Catarina, tiveram queda expressiva, em torno de 60%. Elementos que ajudam a explicar os dados são o aumento da fiscalização e de embargos e o fato de produtores ficarem sem acesso a crédito por terem desmatado.
Os dados compilados incluem os limites do bioma estabelecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), excluindo desmatamentos ocorridos nos fragmentos de Mata Atlântica localizados nos territórios de Cerrado e Caatinga. Os chamados encraves nesses dois biomas correspondem a cerca de 5% do total de Mata Atlântica do país. Na contramão da queda no desmatamento dentro dos limites estipulados pelo IBGE, os encraves florestais são regiões que apresentaram alta.