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Laudo da morte de Djidja Cardoso não tem elementos para enquadrar como homicídio, diz polícia

A ocorrência está sendo tratada como ‘morte a esclarecer’

  • Foto do(a) author(a) Estadão
  • Estadão

Publicado em 7 de junho de 2024 às 21:31

A Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS) da Polícia Civil do Amazonas revelou nesta sexta-feira, 7, que o laudo necroscópico sobre a morte da ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, apontou ‘depressão cardiorrespiratória’ como causa do óbito. O termo se refere à dificuldade do coração de bombear sangue para o corpo, causando uma ineficaz circulação sanguínea no organismo. O que motivou essa reação ainda está sob investigação, mas o uso excessivo de drogas é a principal suspeita.

Em relação às linhas de investigação, conforme a Polícia Civil, ainda não há elementos suficientes para afirmar que a morte da ex-sinhazinha seja configurada como homicídio. Por isso, a ocorrência está sendo tratada como ‘morte a esclarecer’.

"Estamos tratando inicialmente como morte a esclarecer em razão de que no local em que foi encontrado o corpo não há indicativo claro, até agora, com os elementos que colhemos que a morte tenha sido provocada, que haja nexo de causalidade entre o óbito e uma ação omissiva ou comissiva de qualquer pessoa, o que poderia levar a um indiciamento", explicou o delegado.

Desde a morte de Djidja Cardoso, em 28 de maio, uma série de informações têm circulado nas redes sociais, especialmente por meio de vídeos gravados pela família durante o uso de ketamina, um anestésico veterinário que causa dependência química.

Em uma das gravações, o irmão da vítima, Ademar Cardoso, e a mãe dela, Cleusimar Cardoso, aparecem ao lado da ex-sinhazinha, sob efeito da droga. Hoje eles estão em prisão preventiva, mas porque já eram investigados pela polícia, inclusive antes da morte de Djidja, por suspeita de tráfico ilegal de drogas, charlatanismo, estupro e outros crimes (entenda abaixo).

"A delegacia se pauta apenas com a verdade sobre os fatos. Não estamos sendo pressionados de qualquer forma pela opinião popular. O que nos interessa, e o que o nosso delegado geral adjunto determinou, é que esclareçamos os fatos da maneira como ocorreram", ressaltou Daniel Antony.

Caso relacionado

Durante a coletiva, o delegado foi questionado por jornalistas sobre se a Polícia Civil pretende investigar a morte da avó de Djidja Cardoso, ocorrida no ano passado. Após o falecimento da ex-sinhazinha, o áudio de um primo da família viralizou nas redes sociais. Na gravação, ele acusa Djidja, Cleusimar e Ademar de autorizarem a aplicação de anabolizante na idosa, que estava com 82 anos, pouco antes de ela falecer.

"Em relação à morte da senhora Maria Venina, ela circulou por elementos que surgiram nas redes, mas essa é uma situação que ocorreu em Parintins (município do interior do Amazonas), há quase um ano, então não estamos trabalhando com qualquer hipótese relacionada a isso. Até porque, se tivesse havido qualquer questionamento em relação à morte, ela teria sido submetida aos exames necessários. Se a família tiver interesse, ela irá nos procurar para tomarmos as medidas cabíveis", pontuou Daniel Antony.

Prisão

A Polícia Civil do Amazonas, por meio do 1.º Distrito Integrado de Polícia (DIP), deflagrou, no último dia 30 de maio, a Operação Mandrágora, que culminou nas prisões preventivas de Ademar Cardoso, 29, e Cleusimar Cardoso, 53, irmão e mãe de Djidja Cardoso. Também foram presas Verônica da Costa Seixas, 30, e Claudiele Santos da Silva, 33, funcionárias do salão de beleza Belle Femme, que pertencia à família.

Segundo o delegado Cícero Túlio, do 1.º DIP, as investigações iniciaram há cerca de 40 dias antes do óbito da ex-sinhazinha, que também era investigada. A Polícia havia identificado que o grupo coletava a droga cetamina em clínicas veterinárias e realizava a distribuição do fármaco entre os funcionários da rede de salões de beleza.

"Ao longo das investigações, tomamos conhecimento de que Ademar também foi responsável pelo aborto de uma ex-companheira sua, que era obrigada a usar a droga e sofria abuso sexual quando estava fora de si. A partir desse ponto, as diligências se intensificaram e identificamos uma clínica veterinária que fornecia medicamentos altamente perigosos para o grupo da seita", disse Cícero Túlio na segunda-feira, 3.

O caso foi levado à polícia pelo pai da ex-companheira de Ademar Ele encontrou a filha sob efeito da droga e registrou um boletim de ocorrência contra a família Cardoso. A jovem está em tratamento contra dependência química.

Seita

A polícia afirma que a família seguia uma seita religiosa nomeada ‘Pai, Mãe, Vida’, que tomava como base o livro Cartas de Cristo. Eles acreditavam que o uso de drogas fazia com que adquirissem poderes e se conectassem ao mundo dos mortos. Ademar seria Jesus e Cleusimar, Maria. Já Djidja era vista como Maria Madalena.

A defesa da família nega qualquer relação com uma seita e afirma que os familiares são dependentes químicos que precisam de tratamento. "Se essa operação tivesse sido deflagrada algumas semanas atrás, a Djidja estaria viva. Ela estaria presa, mas estaria viva. Então, nós reconhecemos a função social dessa operação", apontou Nauzila Campos, uma das advogadas, no último dia 2 de junho.

Sinhazinha

A parintinense Djidja Cardoso era uma personalidade conhecida no Amazonas. Entre 2016 e 2020, ela foi ‘sinhazinha da fazenda’, um dos 21 itens avaliados no Festival de Parintins, que acontece no interior do Estado. Djidja defendia o quesito junto ao Boi Garantido, que compete contra o Boi Caprichoso em uma festa que já é realizada há mais de 50 anos.

Segundo o regulamento do Festival de Parintins, a sinhazinha é a filha do dono da fazenda. É considerada uma menina "bonita e dócil que gosta muito do boi de estimação do seu pai". É uma das apresentações de destaque da festa e dança ao lado do boi.